Racismo leva a exclusão do negro
Dia 20 de novembro, comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra. Dessa forma, compreender o processo histórico nos ajuda entender o motivo da comemoração oficial.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Dia 20 de novembro, comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra. Desde 1960, a data é comemorada. Dessa forma, compreender o processo histórico nos ajuda entender melhor a questão e o motivo dessa comemoração oficial.
Ao trazer africanos para o Brasil[i], no século 16, o objetivo dos portugueses era suprir o problema da mão-de-obra. Permaneceram escravos por cerca de quatro séculos. Livres pela Lei Áurea (13/5/1888), os libertos não foram indenizados pelas contribuições prestadas ao País e nem pela violação e degradação de seus direitos. Estigmatizados pela cor, pelas práticas culturais e religiosas, os afro-brasileiros engrossam a fila do analfabetismo, afinal, são excluídos da universidade e são as maiores vítimas do desemprego.
Esta data é um marco da luta do negro contra a intolerância e a opressão estabelecida culturalmente no dia-a-dia neste País. Ou melhor: o Brasil tem uma enorme dívida social com a população negra. Na verdade, é preciso acelerar as mudanças que possam beneficiar, de fato, os afrodescendentes.
É o caso urgente da implantação das ações afirmativas. São elas: cotas para negros nas universidades (pública e privada) e no serviço público. Defendo também que as empresas promovam negros para cargos de chefia e políticas públicas específicas para afrodescendentes.
Espera-se, portanto, que essas mudanças [ações afirmativas] vigorem até reduzir satisfatoriamente o desnível, sociocultural e socioeconômico, do negro e demais membros da sociedade brasileira. Ninguém nega que o pós-Abolição, passagem do trabalho escravo para o livre, legou ao negro, entre outras coisas, uma situação de privação dos bens produzidos pelo capitalismo e o transformou num pária social isolado na periferia, morros e favelas, das grandes cidades.
Fim da escravidão é presente de grego
O 13 de maio representa o fim da escravatura oficial no Brasil, no entanto, o dia 20 de novembro – data oficial da morte de Zumbi dos Palmares que lutou contra a servidão – é considerada a data mais importante para a comunidade negra. O mais significativo nessa questão é que não se pode incorrer no erro de acreditar que a vida do negro melhorou, de fato, com o fim da escravatura. Por sua vez, o racismo permaneceu.
O mestre em sociologia professor Paulo Sérgio Nakazone explica que 'há muita resistência à inclusão do negro na sociedade brasileira'. O fato é que o negro teve sua situação determinada com a criação da Lei de Terras (1850), que impediu o acesso dele às terras devolutas e selou sua condição de trabalhador livre, mas desempregado. Melhor dizendo, ficou discriminado pela pobreza e pela ausência de representação política.
Essa situação não ocorreu com os imigrantes europeus que substituíram a mão-de-obra escrava nas fazendas. É claro que não tiveram vida fácil, contudo, com o tempo, alguns se tornaram proprietários de terras e outros donos de pequenos negócios. Como se vê, a situação atual do negro é resultante de um processo histórico construído através do muro da exclusão social e que foi erguido para barrar e impedir de todas as formas que ele se tornasse cidadão.
Para legitimar o preconceito e a dominação sobre os afrodescendentes é comum encontrarmos livros didáticos e paradidáticos com conteúdo racista e visão estereotipada - dominante e dominado - que expressa e reforça situações em que o negro é caracterizado como inferior.
Em conclusão, a desigualdade social dos negros é um grave entrave que afeta o desenvolvimento do País num todo. Na verdade, precisamos reescrever a nossa história permitindo que negros tenham o direito de se manifestarem e serem ouvidos como merecem de fato. Se isso não ocorrer, estamos ignorando o nosso pretérito que foi feito de sangue e dor. Em meio a isso, ouço o ranger de dentes dos inocentes, foi o que lhes restou.
Então, cada um de nós temos nossa parcela de responsabilidade na questão. Não pode uma nação como esta, cuja economia é dinâmica e rica, sentir orgulho de desfraldar a bandeira da desigualdade étnica entre seus filhos.
O advento das leis abolicionistas
Desde a Revolução Francesa (1789-1799), que consolidou os princípios republicanos e burgueses, importantes movimentos históricos se posicionaram contrários a esta triste [escravidão] instituição desumana. Não podemos esquecer que A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que se baseou nas ideias iluministas, se colocou em posição contrária à servidão.
No Brasil, portanto, as leis abolicionistas foram criadas com o intuito de adiar ao máximo o término da escravidão. O fato é que essas leis foram instituídas a partir da pressão internacional. Além disso, a Guerra do Paraguai (1865-1870) e a oposição de intelectuais estrangeiros e brasileiros. Com isso, o movimento abolicionista nacional ganhou impulso entre nós. Exemplo disso é a lei inglesa Bill Aberdeen (1845), que autorizou a marinha britânica prender navios negreiros em alto mar. Deste modo, sem o apoio da comunidade internacional, ao manter o escravismo, o País ficou mundialmente isolado.
Para resolver o problema, o staff escravista conseguiu a aprovação de leis no Parlamento com o objetivo de protelar o fim do escravagismo. São elas: Lei Eusébio Queiroz (1850), que proibiu o fim do tráfico de escravos africanos para o Brasil com severas penas aos infratores, em seguida, a Lei do Ventre Livre ou Rio Branco, que declarou libertos os filhos de escravos nascidos a partir de 1871, Lei dos Sexagenários (1885) ou Saraiva Cotegipe, proclamou libertos os escravos maiores de 65 anos de idade e finalmente a Lei Áurea (1888), que pôs fim ao cativeiro no País.
Em sendo assim, como explicar de forma racional e lógica, à luz dos acontecimentos, passados e presentes, que no Brasil, os afrodescendentes pertencem ao segmento mais pobre da população e que não há uma relação direta entre sua situação socioeconômica atual e quatro séculos de escravidão? Não se pode fechar os olhos e os ouvidos e negar que em nenhuma parte do globo, o escravismo teve tanta longevidade como no Brasil. Afinal, como não reconhecer as incontáveis contribuições dos negros na construção desta nação?
Aos que se opõem às essas mudanças e a diminuição das desigualdades entre brancos e negros, os reacionários, como explicar e negar que essas e outras questões não devem ser revistas? Nas Américas, a última nação a acabar com a escravidão foi o Brasil. O saldo é o racismo que não permitiu ao negro a condição de cidadão. Entre nós, o racismo é cordial, por isso, não é fácil combatê-lo. Não é com leis que se acaba com o preconceito. É necessário que a sociedade brasileira se conscientize e que haja uma ampla discussão sobre a temática.
Pois bem! Os afro-brasileiros continuam como serviçais na 'Casa Grande' e é dessa maneira que a utopia da democracia racial vigora entre nós e se mantém em berço esplêndido, afinal, o penhor da desigualdade, entre negros e não negros foi conquistado com o braço forte da injustiça que afirma: 'todos são iguais perante a lei'. Será? (Ricardo Santos é jornalista e prof. de história)
[i]A partir de 1559, o comércio de escravos para o Brasil se intensificou. Chegavam anualmente, de 10 a 15 mil escravos. Vieram, principalmente, da costa da Guiné, Angola e do Congo. A grande maioria trabalhava nas plantações de cana-de-açúcar, onde eram submetidos a maus tratos.
Publicado por: RICARDO SANTOS
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