O afogado mais bonito do Mundo
A partir da temática entre a junção de verossimilhança e o fantástico, o que caracteriza o conto como gênero híbrido, Gabriel García Márquez desenvolve um texto fascinante que deixa o leitor livre para analisar sob perspectiva seu conto, o que é próprio dessa espécie de obra.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Gabriel García Márquez se aproxima da ideologia do cotidiano da América Latina neste conto, ambientando o texto a um espaço físico rural e isolado munido de superstições e lendas locais, recompondo no conto a visão do berço do desenvolvimento do Continente.
A ação do texto deve-se a um corpo encontrado no mar pelas crianças de uma afastada comunidade, o ápice da complicação se dá quando os moradores do vilarejo acreditam reconhecer o afogado, chamado por eles de Estevão. O clímax se desenrola durante a aquiescência dos moradores ao estrangeiro, ele é recebido como um deles e velado com todas as honras pelos locais, sendo lembrado mesmo muito após o fato.
Tempo cronológico: Há uma sequência lógica dos fatos narrados pelo escritor num espaço de tempo curto, característico do gênero textual conto.
O espaço campestre retratado no texto se intertextualiza ao gênero fantástico da história situando e favorecendo a interação com as personagens da trama.
Com exceção da personagem Estevão pela sua forma, tamanho e soberania mística dada pelos moradores locais, o conto possui verossimilhança em todo o excedente: todos os detalhes particulares têm um caráter de cotidiano trivial, portanto, cabível á realidade. O fantástico gigante afogado é introduzido neste contexto palpável e familiar para dar o apogeu á história.
O narrador- onisciente retrata os acontecimentos de modo longícuo com foco narrativo em um único espaço e tempo, o que é adequado pela intenção do autor, pois trata-se de um texto curto com enfoque em um único conflito. Durante a leitura, o leitor tem abertura para tirar conclusões sozinho, pois o autor não evidencia os eventos, ele apenas os sugere, o que garante tensão ao texto e a perspectiva de uma interpretação aberta dentro de certos limites.
A partir da temática entre a junção de verossimilhança e o fantástico, o que caracteriza o conto como gênero híbrido, Gabriel García Márquez desenvolve um texto fascinante que deixa o leitor livre para analisar sob perspectiva seu conto, o que é próprio dessa espécie de obra.
Uma possível interpretação de ‘’O afogado mais bonito do mundo’’ é que o afogado represente a ideia de espiritualidade do autor, seguindo o seguinte arranjo, respectivamente:
A personalidade do afogado é vista inicialmente pelos moradores do povoado apenas como um morto trazido pela maré; após contemplação, é tido como um mártir: são imaginados os sofrimentos que o afogado deve ter passado devido a sua proporção; há um reconhecimento primeiramente individual, depois coletivo da personagem; Estevão muda a vida no vilarejo, e inclusive fora dele, pois é reconhecido nas imediações do lugarejo e por marinheiros que se aventuram naquelas águas. A pacata e escassa vila após Estevão agora tem casas mais altas e portas mais largas, fachadas de cores alegres e flores nas escarpas, lá o sol brilha tanto que os girassóis não sabem para onde girar, sim, lá é o povoado de Estevão.1
Deste modo, pode-se supor que o afogado represente a espiritualidade para o autor, pois mesmo já morto, mudou e influenciou a vida de muitas pessoas por gerações naquele lugar. Afinal, todos reconheceram ‘’Estevão’’ como parte deles, o que não é coerente. É como se eles esperassem por algo fantástico intimamente, mas sem nunca se darem conta disso, até que ele surge e enfim é acolhido. É o poder que a beleza e o magnificente podem exercer sobre a vida das pessoas a quem cerca.
1Gabriel García Márquez “A incrível e triste história da Cândida Erêndira e sua avó desalmada”, pág. 46 – 55. Tradução de Remy Gorga, Filho Editora Record, 22 edição.
Publicado por: Júlia Laysla
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