Mitos símbolos e desejo
Tentativa de explicar a realidade, cuja linguagem procura fazer uma leitura do mundo através dos símbolos.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
MITOS, SÍMBOLOS E DESEJO
Dentro de um contexto religioso, o desejo é associado ao pecado. A Filosofia diz que o “desejo é uma forma de tensão que direciona o ser humano para alguma finalidade” (MELLO, 2008, p.94). Já os filósofos cristãos, assim como Platão associaram o desejo à imperfeição humana. A explicação é que só deseja quem carece, e quem carece é imperfeito.
Sob o ângulo psicanalítico, o desejo é o que move o homem, pois passa a vida tentando suprir suas carências que advém desde o nascimento, tomado que é pelo sentimento de castração. Esse desejo o impulsiona inconscientemente para o consumo, como forma de preencher o vazio interior. Isso não significa que todos sejam consumistas e compulsivos, pois encontramos pessoas que consomem conscientemente, de modo razoável para suprir necessidades materiais ou desejo não desenfreado. “O sujeito do inconsciente é permanentemente desejoso, faltante e singular” (LIMA, 2002, p.64).
O mito é uma tentativa de explicar a realidade, cuja linguagem procura fazer uma leitura do mundo através dos símbolos. O mito "é sempre uma elaboração altamente sedutora e o símbolo está no cerne de sua estrutura” (MELLO, 2008, p.104). O autor fala, ainda, que o símbolo fala por si mesmo, não necessitando de explicações. Uma linguagem simbólica não tem necessidade de ser aprisionada naquilo que é considerado conceitual, porque o símbolo supera o conceito na concepção do autor, porque parte dele (do conceitual) para entrar no horizonte da sugestão de um algo a mais.
As culturas são construídas e manifestadas através de símbolos (MELLO, 2008). As construções góticas, com a suntuosidade de seus traços, simbolizavam o desejo humano de alcançar o céu. “As altas torres, as paredes talhadas por desenhos de movimentos ascendentes, legitimavam um desejo de alçar a eternidade com as mãos” (MELLO, 2008, p.105). A catedral tem boca e fala. Conta histórias de quem já não tem mais boca para contar. Revela, por meio do símbolo, o que só os mortos poderiam revelar. Símbolos são testemunhas históricas; traduzem um universo inesgotável de informação. Afirma, ainda, o autor que “mitos são tão sedutores que podem ser comparados às catedrais” (MELLO, 2008, p.106).
Por quase um século, os eruditas ocidentais estudam o mito por uma perspectiva contrastante à do século atual. As sociedades arcaicas aceitavam o mito como história verdadeira, “preciosa por seu caráter sagrado, exemplar e significativo” (ELIADE, 2007, p.07) e não como fábula, invenção ou ficção. Por outro lado, “a religião judaico-cristã relegou ao campo da falsidade ou ilusão tudo que não fosse justificado ou validado por um dos dois testamentos” (ELIADE, 2007, p.08). O que realmente importa disso é entender o sentido dessas estranhas formas de conduta, para, então, reconhecê-las como fenômenos humanos, culturais e de criação do espírito.
O mito deve ser entendido em seu contexto sócio-religioso original e como algo vivo, por fornecer modelos de conduta humana a serem seguidos, conferindo valor à existência. Além disso, ele traz acontecimentos fabulosos dos primórdios, envolvendo entes sobrenaturais. “Os mitos revelam sua atividade criadora e desvendam a sacralidade de suas obras” (ELIADE, 2007, p.11). Ao evocar os mitos, o indivíduo os reitera e torna-se contemporâneo deles. Malinovski ao estudar os mitos nas sociedades primitivas nos legou ensinamentos preciosos como: “É uma narrativa que faz reviver uma realidade primeva, que satisfaz as profundas necessidades religiosas, aspirações morais, a pressões e imperativos de ordem social, e mesmo a exigências práticas” (in ELIADE, 2007, p.23) Naquelas sociedades, a função era enaltecer e codificar a crença.
Ao reviver o mito, recontextualizá-lo, o indivíduo torna-se impregnado pelo poder sagrado dos tempos da origem das coisas, torna-se contemporâneo de entes sobrenaturais, ao tempo em que houve um ato de criação que estabeleceu novos paradigmas de atos humanos significativos.
*Extraído do trabalho realizado para obtenção do título de Especialista em Linguagens Verbais, Visuais e suas Tecnologias.
Referências Bibliográficas:
BAUDRILLARD, Jean. Da Sedução. Campinas, São Paulo: Papirus, 1991.
ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 2007.
LIMA, Elisane Pinto da Silva Machado de. Dissertação (Mestrado) - Universidade Católica de Pelotas, Mestrado em Letras, Pelotas, BR, 2002. Orientador: Ernest - Pereira, Aracy.
MELO, Fábio de. Quem me roubou de mim? O seqüestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa. São Paulo, SP: Editora Canção Nova, 2008.
Publicado por: Isabel C. S. Vargas
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