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Benefícios do brincar e da brincadeira no âmbito educacional

Concepções acerca do tema jogos ou brincadeiras no âmbito escolar e o pensamento de Vygotsky sobre o tema.

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Benefícios do brincar e da brincadeira no âmbito educacional

O presente trabalho abordará as minhas concepções acerca do tema jogos ou brincadeiras no âmbito escolar e o pensamento de Vygotsky sobre o tema. Lev Semenovich Vygotsky, foi um psicólogo bielo-russo, e um dos pensadores mais importantes que acreditava que o desenvolvimento intelectual das crianças acontece em função das interações sociais que esta possui. Vygotsky faleceu muito cedo, aos seus 38 anos, porém deixou muitas contribuições para a área da Psicologia e da Pedagogia.

O brincar e as brincadeiras aparenta ser um tema fácil de abordar, porém, pode ser um pouco complexo. Trata-se de uma pesquisa que requer muito estudo, tempo, e entendimento, à medida que muitos autores falam sobre isso, e muitas vezes trazem concepções diferentes. Procuramos trazer a concepção de Vygotsky pois esta é bastante estudada no curso de Licenciatura em Pedagogia e é a que está mais perto de nossa concepção.

Como já mencionado, trata-se de um tema complexo, com muitas pesquisas relacionadas a tema, muitas opiniões divergentes. Porém é um assunto que vem cada dia mais sendo discutido no âmbito da educação, tanto em escolas, como formação continuada, quanto em reuniões de órgãos que cuidam da educação, como em faculdades que possuem cursos de Licenciaturas e por aqueles que prezam por uma educação melhor.

Em nosso entendimento, baseado em nossas vivências no cotidiano escolar, e também nos aprendizados obtidos até o momento no Curso de Licenciatura em Pedagogia, é muito importante relacionar a educação e o modo de educar com os jogos e brincadeiras, que são grandes facilitadores do processo de ensino aprendizagem, principalmente para as crianças da Educação Infantil e dos Anos Iniciais.

Os jogos e brincadeiras no âmbito educacional tornam tanto o ensino quanto a aprendizagem mais prazerosa. As crianças passam a olhar o ambiente educacional e o estudo de outra forma, um ambiente que se torna agradável, onde as crianças querem sempre voltar. O professor que consegue administrar suas aulas com jogos e brincadeiras, consegue então despertar o interesse das crianças para os novos conhecimentos. Porém, não é somente utilizar os jogos e brincadeiras para preencher o tempo, o profissional precisa utilizar o lúdico como recurso pedagógico, planejar sua aula considerando quais objetivos que pretende alcançar e quando for aplicar, ter um olhar sensível para ver se realmente as crianças estão mostrando interesse, se conseguem construir conhecimentos e desenvolver novas habilidades por meio deles.

Vygotsky estudou sobre os jogos e brincadeiras, e também acredita que eles são fundamentais para o desenvolvimento das crianças, estes podem ajudar no desenvolvimento emocional, intelectual, e social, visando sempre a interação com os demais. Através dos jogos e brincadeiras as crianças conseguem se projetar num mundo fantasioso somente delas, o que é fundamental para o crescimento e desenvolvimento das crianças, para que assim, se tornem seres críticos e criativos.

O brincar não deve estar presente apenas no ambiente escolar. As crianças devem se divertir em casa, na rua, e em outros muitos ambientes. Hoje vivemos em uma sociedade onde raramente vemos as crianças brincando na rua, como eram vistos em outros tempos, sendo isto resultado da sociedade perigosa que estamos vivendo.

Frequentemente, ao chegamos a restaurantes ou outros locais públicos, observamos as crianças com celulares e tablets na mão, o que vem acontecendo cada vez mais pela questão dos pais quererem compensar o tempo que passam ausentes dos filhos, devido a trabalhos e a rotina exaustiva da sociedade atual, dando aos filhos o que trazem os comerciais de TV. A mídia hoje em dia desenvolve um papel considerável com as crianças. Os pais podem não perceber, mas essas crianças ligadas a tecnologia, não são mais tão crianças, não conseguem criar um mundo fantasioso, não consegue olhar para um objeto simples, e a partir disso imaginar mil coisas, há uma grande inversão de valores.

Essas são as crianças que muitas vezes chegam às escolas sem opiniões próprias, sem criatividade, onde o professor precisa que promover um maior estímulo para fazer com que elas desenvolvam sua imaginação e criatividade, entrem num mundo diferente, num mundo fantasioso, e por vezes elas não conseguem, por estarem sempre ligadas àquela coisa mecânica que é um jogo no celular, computadores etc. Por isso, é muito importante, o professor construir suas aulas com a ajuda de jogos e brincadeiras, elaborar novas estratégias para que consiga auxiliar no desenvolvimento integral de crianças como essas.

Voltando ao contexto escolar, a realidade que encontramos não é muito diferente. Nas observações realizadas pela autora nos Anos Iniciais em escolas municipais, durante o período de estágio, em nenhum momento foi visto as crianças brincarem, tanto na sala de aula, quanto no pátio, refletindo seu comportamento fora da escola. Muitas vezes, na hora do recreio as crianças não conseguiam brincar, por ter sempre alguém da instituição regulando elas, pois, nessa nova sociedade que surge criam certos estereótipos onde o que for diferente é julgado.

De acordo com o relato de algumas professoras, sempre que elas tentam fazer aulas diferentes, tentam construir ambientes dentro da sala de aula, como canto dos jogos, canto da leitura e etc., não tendo o apoio da escola, sendo muitas vezes podadas. Infelizmente, para alguns o brincar, ou a brincadeira é somente lazer, não acrescenta em nada, e como já vimos, segundo diversos autores o brincar, é sim uma necessidade da criança e fator importantíssimo para o seu desenvolvimento.

Na Educação Infantil, o lúdico está presente em todo o cotidiano escolar, desde a acolhida até a hora de irem embora, seja na hora da roda de conversa que pode ocorrer de diferentes maneiras, na chamada criativa, brincadeiras livres e direcionadas, e ainda contando com o tempo de brincar no parque, com contato externo dos centros de educação infantil, levando-os a exploração de novas possibilidades.

Em alguns trabalhos Vygotsky e Piaget abordam sobre a importância do espaço físico, trazendo que os educadores devem pensar a organização desses espaços, pensando nos brinquedos e objetos que ali estarão, se são adequados para a faixa etária dessas crianças, se irão proporcionar um jogo, ou uma brincadeira, administrar o tempo que elas irão ocorrer, e se são realmente favoráveis para o desenvolvimento dessas crianças.

O espaço então se torna um grande amigo da Educação Infantil, é por meio dele e de sua organização, que o educador torna possível promover melhores interações, melhores aprendizagens. Além disso, trabalha também com a questão da autonomia das crianças, entre muitas outras habilidades. O espaço também se torna um grande aliado do planejamento, pois é por meio de suas observações que o educador planeja o que é necessário organizar, arrumar, modificar, e é por meio da organização do espaço que o educador consegue também conciliar suas aulas com alguns jogos e brincadeiras, tornando o desenvolvimento das crianças melhor.

Ademais, é perceptível que a criança ao chegar ao ensino fundamental, nos Anos Iniciais, entram num contexto educacional totalmente diferente. Desde a forma como são organizados, pois na educação infantil são organizadas rodas de conversas onde o professor promove a interação da turma apresenta suas ideias, deixa espaço para novas e assim direciona sua aula, sendo que muitas vezes a aula acontece com alunos e a professora sentados no chão. Já nos Anos Iniciais, os educandos sentam em cadeiras que estão organizadas em filas umas atrás das outras. Ainda nos dias de hoje, com novos estudos, novas concepções onde a interação entre aluno-alunos e aluno-professore é tão discutida, poucos professores organizam as crianças de formas diferentes, aproveitando outros espaços.

Com esse estilo adotado por muitos profissionais dos Anos Iniciais, o ensino acaba tornando-se mecanizado, e as crianças acabam perdendo o interesse por conhecimentos novos, sentem a falta dos momentos de brincar, de extravasar, de estar sempre em contato com os outros, conversando, brincando, em contato com o meio, onde conseguem perceber um mundo diferente, com o qual está habituado, com novos olhares, novas ideias e diferentes concepções.

É fato que a partir de estudiosos como Vygotsky e Piaget, que comprovaram que o brincar, e a brincadeiras são grandes influenciadores no processo de ensino e aprendizagem, e que por meio deles as crianças adquirem ricos benefícios, que então começou a ser muito discutido e valorizado esse assunto no âmbito educacional.

Diferente de Piaget, Vygotsky estudou a questão da interação do ambiente no desenvolvimento das crianças. Para ele as crianças observam tudo aquilo que está ao seu redor, seja na rua, na escola, no parquinho, na igreja, e em casa, elas observam os gestos, as falas, o que fazem, como fazem, concluindo, observam tudo, e após absorverem todos esses comportamentos, conseguem transformar, recriar, a partir de suas perspectivas. E por meio disso será desenvolvida a Zona de Desenvolvimento Proximal, principal conceito dessa teoria.

Essa teoria nos mostra que por meio da imitação feita pelas crianças, elas conseguem ampliar sua imaginação, se tornando criativas, por meio das imitações que fazem, e então, adquirindo conhecimentos. Elas imitam, e por meio disso, se apropriam dessa imitação trazendo novos sentidos, e é com isso que conseguem obter conhecimentos, e conseguem se desenvolver. Ao fazer uso da imaginação, a criança consegue se transformar, e transformar qualquer objeto em qualquer coisa. E isso é o que vem sendo destruído com essas tecnologias hoje em dia, as crianças não conseguem se projetar em um mundo imaginoso, estão fissuradas somente naqueles jogos que lhe estão sendo proporcionados, através dos computadores, celulares, e muitas vezes estão chegando as escolas sem criatividade, sem conseguir imaginar que um lápis pode ser um avião. Segundo Vygotsky (1998, p. 127), “ a criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim é alcançada uma condição em que a criança começa a agir independentemente daquilo que vê.

Para Vygotsky, nem toda brincadeira, jogo ou brinquedo, servem para todas as crianças, cada faixa etária tem a sua necessidade de jogar, brincar, de escolher seu brinquedo, e conforme vão evoluindo suas necessidades também vão mudando, conforme vão adquirindo conhecimentos, necessitam de coisas que lhes forneçam conhecimento superior àqueles já obtidos.

Quando chegam às escolas, o professor deve ser um mediador nesse processo de ensino aprendizagem, tudo aquilo que for ensinar é novidade para as crianças. O professor precisa conhecer completamente seus alunos, e lhes ensinar algo que sejam capazes de aprender, que possam compartilhar ideias, que se ajudem, trabalhem em grupo, pois para Vygotsky a criança não aprende sozinha, contudo aprende através da interação com o meio e com os demais, aprende por via da imitação, ela necessita do meio e de outras pessoas para aprender.

Segundo a teoria de Vygotsky as brincadeiras ajudam a desenvolver a interação com os outros por meio da ajuda em equipe, a atenção, imaginação, memória, o pensamento. Vygotsky traz dois elementos que, para ele, são muito importantes na brincadeira: a questão imaginária, onde as crianças podem ser quem elas querem, podem estar no lugar que elas querem, conseguindo se projetar num mundo diferente e imaginário, no faz-de-conta; e também, a questão das regras, que para o autor, toda a brincadeira possui algum tipo de regra, e o brincar se torna então, uma atividade da própria criança, que foi baseada naquelas observações que ela faz do mundo ao seu redor, e adaptada conforme suas imaginações.

Para ajudar no entendimento do que foi aqui abordado, e também sobre a concepção de Vygotsky sobre os jogos e brincadeiras, apresentaremos uma temática que trabalha bastante a interação com os outros, a lateralidade, noção de espaço, agilidade, a atenção, e o pensamento. Ela pode ser desenvolvida na Educação Infantil, com as crianças da Pré-Escola, que possuem de cinco a seis anos, uma atividade que as crianças terão que se ajudar, e trabalhar em equipes.

A brincadeira é conhecida como “Coelhinho sai da toca”. É uma brincadeira bastante conhecida e que permite ao professor modifica-la conforme as necessidades da turma. Essa brincadeira possui regras, e, segundo a teoria de Vygotsky, a brincadeira mesmo sendo livre, pode conter regras, que também podem ser modificadas. Como essa brincadeira pode ser trabalhada com crianças menores, é interessante o professor passar um vídeo demonstrativo de como funciona essa brincadeira, e em seguida levar as crianças no pátio ou quadra para então realizar a brincadeira.

A brincadeira “Coelhinho sai da toca” pode ser feita tanto com um número grande de alunos, quanto com um número pequeno, podendo ser desenvolvida tanto no pátio da escola, como na quadra, ou em outros ambientes que não são educacionais, como a garagem de casa, no quintal, na praia, na quadra de esportes do bairro e etc.

Pensamos nessa brincadeira como uma temática a ser apresentada neste estudo pois condiz com a teoria de Vygotsky, trabalhando a interação aluno-aluno, e aluno-professor, a questão da imaginação, além de trazer a essência do ser criança, da diversão, que hoje em dia está sendo deixada de lado, por conta das tecnologias. É uma brincadeira simples, mas que as crianças darão boas risadas.

As crianças serão divididas em grupos de três, e será solicitado que uma criança não pertença a nenhum grupo. As crianças que foram divididas em grupos de três, de dois em dois darão as mãos formando uma toca com os braços, e o terceiro elemento do grupo, ficará no meio deles, se tornando o coelhinho. No sinal que o professor der, que deve ser combinado com a turma antes de o jogo iniciar (que pode ser o professor falando “coelhinho sai da toca”) todos os coelhinhos que estiverem na toca, terão que sair e procurar outra. Aquela criança solicitada para não pertencer a nenhum grupo, se torna o caçador, e pode entrar em qualquer toca que estiver vazia. O coelhinho que não conseguir chegar a toca, se torna o caçador.

A brincadeira pode também ser modificada, no lugar de coelhinho, o professor pode utilizar outra fala, como “cachorrinho sai da casinha”, “ratinho sai da toca”, entre outras coisas. Se o número de crianças for pequeno, o professor pode utilizar bambolês, ou riscar um círculo no chão com o giz, simbolizando a “toca”. Ao invés dos coelhinhos, as tocas podem procurar o coelho, e assim o professor pode ir desenvolvendo essa atividade, pensando sempre nos alunos, se estão mostrando-se interessados, e se está agregando algum valor para eles, atingindo o objetivo, ou seja, proporcionar um aprendizado significativo à criança.

REFERÊNCIAS

KISHIMOTO, Masashi. O brincar e suas teorias. 6. Ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

MOURA, Maria Lucia Seidl de. RIBAS, Adriana F. P.. Imitação e desenvolvimento inicial: evidência empíricas, explicações e implicações teóricas. Estudos da Psicologia, p. 207-215, 2002.

ROLIM, Amanda Alencar Machado. GUERRA, Siena Sales Freitas. TASSIGNY, Mônica Mota. Uma leitura de Vygotsky sobre o brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. Rev. Humanidades, Fortaleza, v.23, n. 2, p. 176-180, jul./dez. 2008.


Publicado por: Felipe Willian Alves

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