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Análise comparada entre peça publicitária e texto jornalístico sobre a violência contra mulher

Análise comparada entre peça publicitária e texto jornalístico sobre a violência contra mulher, análise da campanha chega de esconder, análise da reportagem publicada pela revista Veja - o fim do século, análise comparada entre a campanha publicitária e o

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Claudia Magnólia Freitas
Francirley Santos
Hércya Gabriela Reis
Patrícia Tavares
Tâmara Paixão

Unidade Bahiana de Ensino Pesquisa e Extensão - UNIBAHIA

RESUMO

A utilização da propaganda e do jornalismo, na conscientização da população é de suma importância atualmente. No presente trabalho analisamos as diferentes abordagens utilizadas pelos meios para atingir seu público.

INTRODUÇÃO

O artigo tem como objetivo principal a análise comparada entre uma peça publicitária e um texto jornalístico sobre o tema Violência contra a mulher. Buscamos analisar as peças individualmente citando suas características, diferenças e semelhanças, para depois compararmos as mesmas.

Ao contrário de outros tipos de violência – assalto, seqüestro, uso de armas de fogo – que são considerados intoleráveis, a violência doméstica contra a mulher conta com certa tolerância cultural. A agressão perpetuada contra as mulheres por seus maridos e parceiros, incluindo os ex, quando é reconhecida como violência, ganha a chancela de “violência de menor potencial ofensivo”. Procuramos neste trabalho mostrar como os vários veículos de comunicação tratam o assunto.


ANÁLISE DA CAMPANHA CHEGA DE ESCONDER – Vídeo Escada

O tema da campanha chega de esconder é apresentado de forma indireta, pois procura despertar a curiosidade e a emoção nos telespectadores, “... o tema indireto é todo o recurso de que se possa lançar mão para interessar o consumidor no anúncio, é uma estratégia para despertar a curiosidade do leitor.” (Santa’ana, 1998, p. 159)

A linguagem escolhida é a emotiva, pois a idéia da propaganda não é mostrar a violência em si, não assistimos cenas do marido batendo, abusando ou mesmo humilhando a esposa, o que vemos são as desculpas usadas por mulheres que tem vergonha ou medo de denunciar os abusos que sofrem. Portanto a intenção é despertar o público para as conseqüências que a violência provoca chamando a atenção para a importância de denunciá-la. “...O emotivo dirige-se ao conteúdo afetivo, emocional. Atua principalmente por sugestão. Fala a linguagem dos sentimentos, das emoções.” (Santa’ana, 1998, p. 162)

Por ter sido criada exclusivamente para a televisão, a campanha valoriza a imagem, sendo o texto uma ferramenta de auxílio para compreensão do sentido da propaganda “... pesquisas comprovam que se alguma coisa for dita e que não seja também ilustrado, o espectador imediatamente a esquece. Na televisão a imagem é que deve contar a história, o que se mostra é mais importante do que o que se diz; palavras e imagens devem caminhar juntas, reforçando-se mutuamente. A única função da palavra é explicar o que a imagem esta mostrando.” (Santa’ana, 1998, p. 166)

Durante os 29 segundos do filme, apenas 4 segundos possuem texto, a imagem da mulher é amplamente explorada, o apelo visual está presente o tempo todo no vídeo. O texto funciona como um complemento para o perfeito entendimento do filme, sendo que se suprimirmos o texto a mensagem não será compreendida com clareza. “A função de revezamento é estabelecida na complementaridade ente uma imagem e o texto; a mensagem verbal tem função de explicar o que dificilmente a imagem conseguiria fazer isoladamente.” (Barthes, 1990, p. 28)

As cores utilizadas na composição do filme (a porta branca, a camisa creme que a mulher usa) são neutras e remete a opressão, dor, sofrimento, bem como o efeito sombreado do vídeo. Já as cores usadas no texto (branca sobre o preto) chamam a atenção para mensagem complementando o sentido do filme.

A mulher que protagoniza a cena esta a maior parte do filme de perfil, demonstrando que ela não participa da narrativa, faz parte de uma história que um narrador conta. O perfil é o personagem em terceira pessoa, ou seja, aqui temos uma história que é contada e onde esta pessoa se torna um personagem e o leitor passa a ser um voyeur. O personagem do anúncio deixa de falar para ser aquele de quem se fala. Este é o regime da narrativa.
O som foi um elemento amplamente explorado (porta, chave, som da queda, gemido), despertando o imaginário dos telespectadores e auxiliando o entendimento da mensagem que o filme procura mostrar. O silêncio também foi explorado, como no momento após a queda, percebe-se uma longa pausa entre o acontecimento e o texto que surge logo em seguida junto com a narração.

ANÁLISE DA REPORTAGEM PUBLICADA PELA REVISTA VEJA – O fim do silêncio

A violência contra a mulher, não esta restrita a certo meio, não escolhe raça, idade ou condição social. A grande diferença é que entre as pessoas de maior poder financeiro, as mulheres, acabam se calando contra a violência sofrida por elas, talvez por medo, vergonha ou até mesmo por dependência financeira. A reportagem feita pela revista VEJA especial sobre violência contra a mulher publicada na edição 1947, dia 15 de março de 2006 da Editora Abril, traz relatos de mulheres que cansaram de ser violentadas e deram um fim ao seu silencio.

A matéria traz o título “O Fim do Silêncio” que é um dos elementos mais impactantes da reportagem analisada. Esse impacto é percebido logo pela maneira como o título está escrito: letras maiúsculas, na cor branca, considerada fria, que expressa calma; sobreposta em um fundo vermelho, cor quente, considerada excitante, que remete a sangue, guerra, violência. Esse contraste se dá por que, se o fundo vermelho da página remete à violência, o branco sugere a paz, é “O Fim do Silêncio”, ou seja, o fim de aturar calada a violência praticada pelos seus companheiros e ex.

“O título destina-se de sobremaneira a exercer atração visual, motivando o leitor no processo seletivo das informações disponíveis no veículo e facilitando a legibilidade do texto”. (Melo, ano 2000, p.144) o que nos leva a perceber que o título tem grande importância na linguagem verbal. As palavras devem ser escolhidas de acordo com o impacto que se deseja causar, mas também, conduzir o leitor ao foco da matéria.

Outro elemento fundamental utilizado na transmissão da mensagem jornalística foi à fotografia das agressões causadas nas vitimas. “As fotografias, tal como o título, tem a importância de apoio na linguagem, pois é, utilizada como ferramenta para a composição gráfica. O maior diferencial da fotografia, quando comparada a outras formas de construção de imagem, como a ilustração e o design, é o fato dela ser realista por natureza. Os leitores têm a tendência de interpretar uma fotografia como algo real, palpável e verdadeiro.

“A fotografia jornalística é uma atividade especializada, cujo desempenho envolve conhecimentos muito além do manuseio do processo. Trata-se de selecionar e enquadrar elementos semânticos de realidade modo que, congelados na película fotográfica, transmitam forma jornalística. Às dimensões do papel ou do diapositivo, o repórter acrescenta a dramaticidade, atribuída aos efeitos de luz e sombra, bem como à relação sintática entre os elementos fotografados, a profundidade, que se obtém pelo domínio da perspectiva e dos planos, o movimento, sugerido pelas posições de desequilíbrio ou pelo dinamismo atribuído aos elementos.” (Lage, 2001, p. 26)

Na reportagem analisada, é possível perceber que cada fotografia foi escolhida minuciosamente. A primeira imagem apresentada na matéria é de uma mãe abraçada com a filha. Com vestes simples, a menina usando uma blusa amarela, o cabelo longo trançado, passando uma idéia de infância perdida; a mãe com seus 38 anos têm aparência de ser bem mais velha, usa óculos de grau, e os traços da face são fortes. A genitora carrega uma expressão de culpa e angústia, tapa os olhos da filha menor de idade que foi molestada pelo padrasto, homem com o qual ela foi casada por mais de dez anos e também a agredia. O aspecto de angústia fica mais claro quando o depoimento inserido logo acima da fotografia revela que após a denúncia de agressão doméstica, ela foi a única que ficou presa pelo medo de sair de casa.

Outra fotografia que chama bastante a atenção é a de Ingrid Saldanha, esposa de Kadu Moliterno e que ilustra a capa da revista. A foto vem acompanhada do depoimento sobre as agressões que sofria. Sentada em uma cadeira, com os braços cruzados, ela apóia o queixo em sua mão direita. A foto passa idéia de que Ingrid cansou de esperar um futuro diferente ao lado de seu marido e resolveu denunciar, exatamente como está em seu depoimento. Os olhos (em volta) estão marcados pela agressão. No nariz um band-aid, no rosto uma expressão emblemática de dever cumprido “...busca a superação desse sofrimento, o restabelecimento de sua organização pessoal e de seu equilíbrio, isto é, o retorno aquelas condições anteriores de sua rotina de sua vida, em que não tinha insônia, não chorava a toda hora, não tinha os medos que agora tem...” (Bahia, 1993, p.297). A foto toma metade da página, percebe-se aí, a importância que a mesma tem para o conteúdo da matéria, sendo tão valorizada quanto o texto.

A quinta página traz a fotografia da professora Núbia Haick, morta pelo marido em 2005. Na foto ela está abraçada com o casal de filhos pequenos, pelo seu olhar podemos perceber demonstração de carinho, afeto e proteção. Ela sorri ao lado deles. O fundo da imagem está desfocado, o que chama ainda mais a atenção para Núbia e os filhos. Ela denunciou o marido varias vezes, o que não o impediu de assassiná-la. Além das citadas, mais três fotografias ilustram a reportagem, quase uma por página.

Nas reportagens de revistas de informação geral e suplementos uma das estruturas mais freqüentes, não difere essencialmente da técnica adotada em relatórios ou textos didáticos. Trata-se de organizar os dados a partir de proposições conceituais, os tópicos frasais, que irão introduzir os parágrafos ou grupos de parágrafos. Cada tópico frasal desses, de maneira mais genérica, lidera um relato de história ou exposição de dados – uma e outros funcionando como documentação. “Na abertura da matéria pode-se também contar uma pequena história verdadeira e que reflita o tom geral da reportagem.” (Lage, 2000, 48 e 49).

A repórter Lucila Soares desenvolveu um texto argumentativo, de fácil compreensão, amparada em elementos de jornalismo literário sob a proposta de um novo jornalismo que tem como objetivo evitar o tom bege pálido dos relatórios que caracteriza a imprensa objetiva.

Os repórteres devem seguir o caminho inverso, sendo mais subjetivos. “Não precisam ter a personalidade apagada e assumir a encarnação de um chato pensamento prosaico e escravo dos manuais de redação. O texto deve ter valor estético, valendo-se sempre das técnicas literária. É possível abusar das interjeições, dos itálicos e da sucessão de pontuações.” (Pena, 2006, p. 54)

Essa idéia de novo jornalismo pode ser percebida na reportagem da Veja, através de fragmentos como: “A banalização da violência doméstica é o pano de fundo que explica a maneira pela qual a sociedade lida com (ou ignora) o problema. É o clássico "em briga de marido e mulher não se mete a colher". Já seria complicado se fosse só isso. Não é.”, os dois últimos períodos deixam clara a opinião da repórter, sendo parcial.

A reportagem contém também muitos dados estatísticos que, em textos jornalísticos, possuem grande valor de convicção, constituindo um aspecto indispensável para uma contextualização credível. Servem tanto para provar como para refutar a mesma tese. Todas essas características permitem chamar a atenção dos leitores para a violência contra a mulher, alertando sobre a importância de romper o silêncio e denunciar os abusos.

ANÁLISE COMPARADA ENTRE A CAMPANHA PUBLICITÁRIA E O TEXTO JORNALÍSTICO

A comparação entre a campanha publicitária e a matéria publicada na revista Veja, demonstra como diferentes vertentes da comunicação abordam o mesmo tema de forma eficiente, atingindo todos os seus objetivos.

Na campanha publicitária, Chega de Esconder, produzida para ser veiculada na televisão, percebe-se a máxima exploração dos recursos disponíveis como: a imagem, o som e o texto de forma combinada e um dando suporte ao outro.

A matéria publicada na revista Veja pela jornalista Lucila Soares, com o tema O Fim do Silencio, também, deixa perceptível a exploração dos recursos existentes para elaboração de textos jornalísticos, como: fotografias, gráficos e estatísticas.

Tanto na peça publicitária, quanto na reportagem, o tema é tratado de forma indireta e apela para o lado emocional do receptor, percebemos pelos títulos escolhidos para ambos: Campanha TV – Título Chega de Esconder, matéria revista – Título O fim do Silencio. Outro elemento encontrado durante a análise é a importância do silêncio, ou melhor, a meditação ao qual o mesmo leva nos dois veículos, despertando os receptores para a quebra desse silêncio.

No vídeo a pausa entre as imagens e o texto auxiliar tem como objetivo uma reflexão dos telespectadores sobre o que acabou de assistir, causa um suspense. Já na reportagem o silêncio começa pelo título e continua sendo enfatizado através dos depoimentos das vítimas que sofreram agressões. Fica claro o objetivo de incentivar as mulheres a denunciar a violência que sofrem.

Um fator que chama a atenção é a semelhança entre a istória fictícia transmitida pelo vídeo, e uma história verídica narrada na revista. O filme Chega de Esconder, demonstra as desculpas usadas para esconder as agressões sofridas pelas mulheres e encontramos na revista um depoimento de Nelson Furtado, cunhado de uma vitima assassinada pelo marido, no qual ele fala que a cunhada inventava que havia caído ou se batido em algum lugar para esconder as agressões que sofria.

O texto jornalístico é extremamente detalhado, com dados estatísticos, fotos e legendas, o que proporciona um maior conhecimento e aprofundamento do assunto. A reportagem possui 7 páginas, nas quais detalha, analisa e conta o drama de pessoas que passaram por abusos, a intenção é de informar o leitor, além de incentivar a denúncia.

Já na campanha publicitária obtemos pouca informação sobre o assunto, o vídeo tem apenas 29 segundos e notamos que o objetivo principal é o estímulo a denúncia, não transmitindo maiores informações sobre o assunto, o apelo visual é extremamente utilizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência contra as mulheres é o tipo mais generalizado de abuso dos direitos humanos no mundo e o menos reconhecido. Nesse sentido procuramos analisar a matéria e campanha que tem com objetivo de incentivar as mulheres a denunciar seus agressores.
Podemos observar que cada veículo através de seus próprios recursos consegue passar sua mensagem, buscando envolver o receptor até um ponto que fosse gerado um discurso sobre a violência contra mulher.

Os meios de comunicação estudados proporcionam novas formas de atingir à população através da produção e distribuição de informações, como se fosse produzida para cada um respeitando as individualidades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SANTA’ANA, Armando S. Propaganda – Teoria, Técnica e Prática. São Paulo: Thomson Pioneira, 1998

BARTHES, Roland S. O óbvio e o obtuso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990

LAGE, Nilson S. Estrutura da Notícia. São Paulo: Ática, 2000

, S. Linguagem Jornalística. São Paulo: Ática, 2001

PENA, Felipe S. Jornalismo Literário. São Paulo: Contexto, 2006

BOCK, Ana M. Bahia, Odair Furtado e Maria de Lourdes T. Teixeira, Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1993.

PORTAL VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER / http://www.patriciagalvao.org.br/apc-aa-patriciagalvao/home/campanhas.shtml, acessado em 28/09/07

VEJA ONLINE / Especial O fim do silêncio / http://veja.abril.com.br/150306/p_076.html, acessado em 13/10/07


Publicado por: Claudia Magnólia de Almeida Freitas

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