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A AUTOACEITAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE A PARTIR DE UM CASO REAL

Vida de um jovem homossexual, a educação, a família e como cada meio se comportam diante dessas situações.

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RESUMO

A autoaceitação de um modo geral é muito complicada. Se aceitar do jeito que é ou está lida com muitos aspectos na vida das pessoas. Engloba uma série de conceitos e abrange muitos preconceitos que uma pessoa sofre perante a sociedade familiar, escolar e trabalhista. Deste modo, uma das fases de maior mudança na vida de qualquer pessoa é a adolescência, é nela em que ocorre uma grande variação de sentimentos e a autoaceitação está presente nesse estágio. Esta pesquisa abrange um estudo sobre autoaceitação homossexual a partir da experiência vivida por um jovem que relata toda sua etapa de transição da infância, adolescência até atingir a fase adulta juntamente com narrações do preconceito que permeou sua trajetória até de fato se aceitar do jeito que sempre foi.

ABSTRACT

Self-acceptance in general is very complicated. If you accept it the way it is or it deals with many aspects of people's lives. It encompasses a number of concepts and encompasses many prejudices that a person suffers from family, school, and labor society. In this way, one of the most changeful phases in the life of any person is adolescence, it is in her that a great variation of feelings takes place and the self-acceptance is present at that stage. This research encompasses a study of homosexual self-acceptance based on the experience of a young man who reports on his entire transition from childhood to adolescence until he reaches adulthood along with narratives of prejudice that permeated his trajectory until, in fact, he accepts himself as he always does was.

Palavras-chave: homossexualidade, autoaceitação, preconceito, design gráfico.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo propõe um estudo sobre a vida de um jovem homossexual e inclui relatos sobre as experiências vividas no meio acadêmico e familiar. Juntamente com a descrição de sua autoaceitação do ser homossexual. Sendo assim, o foco de pesquisa se delimita em duas etapas: a educação e a família e como cada meio se comportam diante dessas situações de gênero e através de uma entrevista semiestruturada nesses dois tópicos para desenvolver uma autoanálise.        Gênero é algo muito importante a ser agrupado à fala dos professores quando o assunto é diversidade ou sexualidade. Porém, pouco é repassado e instruído aos jovens hoje em dia, devido à falta de capacitação de muitos professores para criar uma abordagem eficiente sobre o assunto e desenvolver diálogos sobre o tema.

Ao mesmo tempo em que nós, profissionais da educação, estamos conscientes de que nosso trabalho se relaciona com o quadro dos direitos humanos e pode contribuir para ampliar os seus horizontes, precisamos também reter que estamos envolvidos na tessitura de uma trama em que sexismo, homofobia e racismo produzem efeitos e que, apesar de nossas intenções, terminamos muitas vezes por promover sua perpetuação (JUNQUEIRA, 2009).

A partir do projeto científico, o desenvolvimento de uma campanha de orientação sobre autoaceitação homossexual será elaborada por meio do estudo teórico desenvolvido e a análise final. A metodologia utilizada apresenta um estudo e revisão bibliográfica e a pesquisa documental. Serão utilizados autores como Louro (2003), Diniz (2009), Silvva (1990), Figueiró (2006) e Oliveira (2004).

2 EDUCAÇÃO

A educação nas escolas é regida por diferentes tipos de professores e educadores, eles são os principais influenciadores e criadores de opiniões entre os estudantes. De acordo com Louro (2003), a escola ocidental utiliza-se de um método separatista, onde desde o início ela é dividida de acordo com a classe social, religiosa e de gênero. Para compreender melhor as questões de gênero, é necessário falar sobre gênero, sexo e sexualidade e entender o que cada termo significa. O conceito sobre gênero é muito amplo, pois cada área do conhecimento tem uma explicação sobre o seu significado.

Gênero é a construção social do sexo, definido como uma caracterização anatômica e fisiológica dos seres humanos. Há machos e fêmeas na espécie humana, mas a condição de ser homem ou ser mulher só é realizada pela cultura (SILVA, 1990, p. 03).

Basicamente, gênero é a forma como cada indivíduo se comporta socialmente, podendo ser construído ou desconstruído de acordo com sua concepção cultural. Dentro desse contexto, há também a identidade de gênero e orientação sexual. De acordo com Silva (1990), identidade de gênero pode ser traduzida pela convicção de ser masculino ou feminino, conforme os atributos, comportamentos e papéis convencionalmente estabelecidos para os machos e fêmeas, ou seja, é a forma com que cada indivíduo se enxerga, o gênero com que se identifica fazendo parte. Orientação sexual, seguindo com Silva (1990), se refere ao sexo ou ao gênero que constitui o objeto de desejo de uma pessoa e não necessariamente como uma condição da mesma. Sendo assim, diz respeito ao lado afetivo, amoroso e sexual, por qual gênero/sexo a pessoa se sente atraída Em relação ao sexo, Grossi (1998) fala que o mesmo é considerado uma categoria que ilustra a diferença biológica entre homens e mulheres. Portanto, está relacionado com a genitália que possui.  Pode ocorrer a intersexualidade, que é quando um indivíduo apresenta características intermediárias entre os dois sexos, ou o aparelho genital não condizer com o seu gênero. Sobre sexualidade, Louro (2007), enfatiza que, muitos consideram que a sexualidade é algo que todos nós, mulheres e homens, possuímos “naturalmente” [...] A sexualidade seria algo “dado” pela natureza, inerente ao ser humano. [...] No entanto, podemos entender que a sexualidade envolve rituais, linguagens, fantasias, representações, símbolos, convenções... Processos profundamente culturais e plurais (LOURO, 2007). Resumidamente, ela é um conceito contemporâneo para se referir ao campo das práticas e sentimentos ligados à atividade sexual dos indivíduos (GROSSI, 1998). A sexualidade sempre foi um tabu a ser quebrado nas escolas e na sociedade. Como desenvolver um diálogo para adolescentes sobre sexo e questões de gênero? Como transmitir de forma coerente um tema que gera tantas controvérsias, fazendo com que os próprios pais não saibam dialogar com seus filhos? Sabendo o que cada termo significa, podemos perceber que a escola delimita espaços. Servindo-se de símbolos e códigos, ela afirma o que cada um pode (ou não pode) fazer, ela separa e institui. Informa o "lugar" dos pequenos e dos grandes, dos meninos e das meninas (LOURO, 2003). A questão de divisões está diretamente ligada ao modo em que a escola se desenvolve e a forma com que os relacionamentos se criam. Para Louro (2003), as meninas sempre foram ensinadas de maneiras opostas aos meninos, devido aos antigos manuais que seus professores se baseavam para lhes transmitir conhecimento sobre comportamento e mente. As jovens sempre praticavam tarefas de costura, pintura ou afazeres de um lar, enquanto os rapazes geralmente estudavam em colégios militares. Os mesmos manuais foram adaptados e remodelados obtendo novas formas, porém, a escola exerce de forma contínua e discreta alguns dos velhos hábitos do que deve ser praticado por meninos e desenvolvido por meninas, como por exemplo, o futebol para os garotos e vôlei para as garotas. Devido às questões de gênero, onde o homem sempre foi o pilar principal, surge à discussão do padrão de normalidade. Maia (2009) comenta que esse padrão está inserido no princípio da “igualdade”, e uma parte do sentido ideológico dessa igualdade fica explicitado na fala do menino, isto é, lidar com a diferença em relação ao padrão almejado é uma tarefa custosa, emocional e social. Sabendo que o que é normal nos dias de hoje, era anormal antigamente e vice-versa.

Atualmente, o padrão normal em sexualidade, na nossa sociedade, se traduz por diversas regras sociais: ser heterossexual, casar-se na maturidade, encontrar um par que seja igualmente compatível com seu nível educacional e econômico, respeitar a moral, não praticar crimes sexuais, usar da pornografia para fins pessoais e privados sem a exploração de outras pessoas etc. (MAIA, 2009, p.268).

Quando falamos em gênero e sexualidade, devemos levar em conta a presença dos homossexuais.

O termo homossexualismo designou doença, constando inclusive na CID (Classificação Internacional de Doenças) desde a 6ª revisão (de 1948) até a 9ª revisão (de 1975, válida até 1993). Como o termo ficou associado à doença, adotamos o termo homossexualidade em consonância com o que reivindica o movimento LGBTTI. Na CID-10 (a 10ª revisão), vigente desde 1993, homossexualismo (e nenhuma outra variação) não aparece mais (BUSIN, 2001, p. 48).

Para Pecheny (2004), um indivíduo homossexual “identitário” é alguém que considera que ter o desejo e/ou manter relações sexuais/amorosas com uma pessoa do mesmo sexo, define em maior ou menor medida a sua identidade. Este reconhecimento é em princípio para si mesmo e pode ser assumido publicamente ou não, em diferentes níveis.  O substantivo e adjetivo "homossexual" é utilizado genericamente, enquanto substantivos e adjetivos "gay" e "lésbica" são utilizados de forma mais precisa para se referir a indivíduos homossexuais que assumem com algum grau de publicidade a sua orientação sexual. A homossexualidade está presente na vida de muitas pessoas, sendo por um amigo, colega ou até mesmo um filho. Nas escolas a opressão e o preconceito se tornam evidente quando os professores não estão capacitados para dialogar sobre homossexualidade. Junqueira (2009) fala que, os professores são os principais responsáveis por reter o preconceito, sexismo, homofobia e racismo, e que apesar dos seus esforços para conter esses temas tão complicados, às vezes, eles acabam alimentando e fazendo com que se reproduzam de forma negativa. As escolas no Brasil sempre foram baseadas por um agrupamento de ideias e valores que refletem no padrão da heteronormatividade, visto que todo àquele que é considerado “estranho” seja reprimido ou excluído dos grupos escolares.

Meninos e meninas aprendem, também desde muito cedo, piadas e gozações, apelidos e gestos para dirigirem àqueles e àquelas que não se ajustam aos padrões de gênero e de sexualidade admitidos na cultura em que vivem (LOURO, 2003, p. 19).

O ambiente escolar deveria ser agradável para todos os estudantes, porém, é comum ser um espaço desfavorável para aqueles que não se sentem incluídos nas normas e regras de convívio, embora muitos não se encaixassem nos padrões devido aos pensamentos que lhes são ensinados desde casa. Junqueira (2009) reforça que a escola é um lugar de opressão, discriminação e preconceito, onde muitos jovens acabam por evitar corredores, intervalos ou até mesmo de frequentar as aulas devido ao alto índice de rejeição que sofrem.

O bulliyng é frequente e na escola é muito comum uma criança que não se adequa aos demais colegas, sofrer intimidação e diversas piadas apenas por não querer partilhar dos mesmos interesses. “Viadinho”, “bichona” e “bichinha” são apenas alguns dos apelidos que uma criança homossexual passa durante a sua vida escolar. É comum uma criança estudar desde o ensino fundamental até o médio numa mesma escola, fazendo com que crie laços de amizades desde cedo. No entanto, muitas crianças são excluídas e afastadas pelas demais já nessa fase, por apresentar comportamentos diferentes e considerados anormais para um menino ou menina. Consentida e ensinada na escola, a homofobia expressa-se pelo desprezo, pelo afastamento, pela exposição do ridículo. Como se a homossexualidade fosse “contagiosa”, cria-se uma grande resistência em demonstrar simpatia para com sujeitos homossexuais; a aproximação pode ser considerada como uma adesão a tal prática ou identidade (LOURO, 2000).

De acordo com a concepção liberal de que a sexualidade é uma questão absolutamente privada, alguns se permitem aceitar “outras” identidades ou práticas sexuais desde que permaneçam em segredo e sejam vividas apenas na intimidade (LOURO, 2000) Louro (2009) ressalta que, a homofobia funciona como mais um importante obstáculo à expressão de intimidade entre homens. É preciso ser cauteloso e manter a camaradagem dentro de seus limites, empregando apenas gestos e comportamentos autorizados para o “macho”.  Mello, Grossi e Uziel (2009) falam que gays, lésbicas e transgêneros não apenas têm menos direitos do que os indivíduos heterossexuais, mas que também estão mais sujeitos à violência, à discriminação e ao preconceito em diversos âmbitos da vida social, tanto na vida adulta quanto na infância e na juventude.

É na adolescência que os neurônios estão efervescentes por descobrir coisas novas, juntamente com as dúvidas de sexualidade, é na mesma fase que os homossexuais mais se isolam por não se aceitarem e não entenderem o porquê de não se encaixarem ao padrão dos demais amigos e colegas. Na infância, quando uma criança ouve seus pais falarem algo, ela costuma repetir sem saber o significado, apenas como forma de repetição. Bortoncello, et al. (2014), falam que na infância comportamentos repetitivos, rituais, medos e fobias eventuais, fazem parte do desenvolvimento normal de uma criança. Na escola, sempre existem os grupos de minorias e aqueles grupos onde todos os alunos querem fazer parte. Sendo assim, eles estão dispostos a exercer qualquer tipo de tarefa para conseguir fazer parte desse grupo, mesmo que isso gere algo negativo.

É dessa forma que a opressão e o preconceito se tornam evidentes, quando os mais sagazes elaboram insultos como forma de diversão, fazendo com que essas crianças que queiram fazer parte do grupo, se unam com os demais como forma de entretenimento. Como em todos os processos de exclusão, algumas regras e normas que os justificam são muito rígidas. Não é de se espantar que a maioria não aceite a convivência junto àqueles que não se enquadram nas normativas de gênero no espaço escolar, especialmente nos casos dos rapazes e moças que apresentam trejeitos arbitrariamente definidos como pertencendo ao outro sexo (FILHO e MARRETO, 2008). Dessa forma, infelizmente a homofobia ainda está muito presente no âmbito escolar, fazendo com que os jovens homossexuais sintam-se em ambientes desfavoráveis e de exclusão. Por serem as autoridades de maior respeito em uma escola, os professores servem de exemplo para os jovens do que deve ser seguido ou adequado para a sua educação. Para isso, deveriam ser profissionais imparciais perante as questões de raça, religião e gênero. No entanto, infelizmente é comum a presença de professores intolerantes a algum tipo de crença, regras ou formas de expressão dos alunos.

Um corpo escolarizado é capaz de ficar sentado por muitas horas e tem, provavelmente, a habilidade para expressar gestos ou comportamentos indicativos de interesse e de atenção, mesmo que falsos. Um corpo disciplinado pela escola é treinado no silêncio e num determinado modelo de fala; concebe e usa o tempo e o espaço de uma forma particular (LOURO, 2007, p. 21).

Segundo Figueiró (2006), a posição na qual esteve e ainda está colocada a educação sexual nas escolas, caracteriza-se por diversas formas, dentre elas, não é considerada uma questão prioritária; não é colocada em prática na maioria das escolas brasileiras; é praticada em algumas escolas, por iniciativas de alguns professores, isoladamente. Por conseguinte, é necessário elaborar uma forma de capacitação desses professores, a conversa faz parte da educação e falar sobre sexualidade e gênero, muitas vezes, é complicado para os adolescentes discutirem com seus pais.

Vistos não mais apenas como quem transmite informações aos seus alunos, mas também como profissionais que criam e constroem conhecimentos sobre o processo de ensino e aprendizagem, os professores, em sua maioria, vêm sentindo e reconhecendo a importância de estarem envolvidos, numa dinâmica de crescimento pessoal, cultural e profissional (FIGUEIRÓ, 2006, p. 87 e 88).

Muitas vezes, cabe a coordenação das escolas procurar por soluções e desenvolver métodos de ensino para incluir essas questões no currículo estudantil, seja com palestras, debates ou seminários. É fundamental, agregar a diversidade ao âmbito escolar desde as primeiras etapas de ensino, para que não ocorra nenhum tipo de opressão aos alunos que estão se descobrindo ou se aceitando da maneira que são.

3 FAMÍLIA

Família é o núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantêm entre si uma relação solidária. Assim sendo, ela é o maior suporte que podemos ter, servindo de base para nos desenvolvermos perante a sociedade. Conforme Garcia e Vieira (2010), vale lembrar que a concepção de “família” se altera conforme tempo e cultura de uma população, que sofre influência dos elementos históricos, sociológicos e econômicos aos quais está submetida. Quando se fala em família, muitas pessoas têm como definição, um homem, uma mulher e filhos, todos heterossexuais. A homossexualidade geralmente não é considerada como possibilidade.

Todos temos noção que muitas vezes começa uma guerra em casa quando um filho fala com os pais sobre a sua orientação sexual. A maioria dos pais veem os filhos como um possível prolongamento de si e desejam uma vida estável, tranquila com felicidade em todas as áreas: profissional, amorosa e social. No entanto, quando um filho diz aos pais que é homossexual, na maioria dos casos, não sabem como reagir (OLIVEIRA, 2004, p.7).               

Culpam-se por terem um filho homossexual. Depois pensam que poderá ser uma confusão, no caso de ser adolescente, como muitas vezes se diz: “É uma fase”, muitas vezes aconselham-no ou obrigam-no a frequentar um psicólogo. Desistem quando o psicólogo confirma não ser uma moda passageira, mas que o filho é realmente homossexual (OLIVEIRA, 2004)A adolescência é uma fase complicada para os jovens, muitos despertam sentimentos de rebeldia e revolta com situações de pequena importância. Nessa fase, é comum ter adolescentes revoltados com a sua família ou achar que todos estão o impedindo de exercer tarefas que para eles, são inofensivas. Para um jovem homossexual, há muitos conflitos internos acontecendo, ter que lidar com o sentimento de que algo está errado ou de não entender o porquê de não desejar as mesmas coisas que seus amigos, faz com que ele acabe se afastando das pessoas. 

A intolerância à diversidade sexual leva o adolescente, por medo de ficar sozinho, a ocultar sua condição homossexual, uma vez que a solidão é sentida como algo mortífero. Porém, todo esforço de negação de si mesmo para atender a expectativa do outro a ser aceito termina, exatamente, num estado emocional mais crítico do qual fugia ou evitava, ou seja, com a sensação de “estar só no meio de tanta gente” (SILVA, 2011).

A angústia que surge quando o sujeito se descobre homossexual não vem, necessariamente, da descoberta em si, mas da consciência de que ele sofrerá rejeição (SILVA, 2007). Desta forma, a família se torna o primeiro alvo de necessidade que o homossexual enfrenta para ser aceito diante da sociedade. Consequentemente, uma luta diária é travada consigo mesmo, é necessário estar consciente de que a família possa entender positiva ou negativamente sobre a sua homossexualidade. Assumir-se para si mesmo pode levar o indivíduo a revelar-se a outra pessoa ou manter aquilo em segredo, porém, na maioria das vezes, um homossexual que se aceita, mas tem receio de revelar as outras pessoas, continua carregando o sentimento de que algo está incompleto. Experiência que é descrita como extremamente difícil, sobretudo no que se refere à escolha da audiência apropriada. (SILVA, 2007.).

Diante disso, uma série de pensamentos e formas de abordagens são estudadas pelo homossexual para conseguir se revelar para outra pessoa. É um momento complicado e ocorre com bastante frequência na adolescência, por isso, quando muito não é designada à família, é comum escolher um indivíduo considerado menos preconceituoso para haver maior entendimento pelo mesmo sobre a homossexualidade do sujeito. Silva (2007) enfatiza que, mesmo tomando este tipo de precaução, ao revelarem sua identidade gay à outras pessoas os homossexuais estão se arriscando a perder conexões humanas valiosas, sobretudo com familiares e amigos íntimos. Para pais e filhos é preciso perceber que apesar de uma decepção inicial, existe amor entre eles, e que a tristeza pode ser uma preparação emocional; o início de um novo tipo de relacionamento, provavelmente, muito mais verdadeiro e amadurecido (CECHINATTO, 2013). Em função disso, criam-se novas maneiras de diálogos executados entre pais e filhos, como se um novo relacionamento estivesse sendo criado a partir da revelação de ter um filho homossexual.

A forma com que os pais reagem ao filho(a) que conta ser gay, varia de acordo com o grau de entendimento que eles adquirem durante sua vida. É comum se escutar a expressão “eu aceito, gosto, não tenho nada contra os gays”, no entanto, a maioria das pessoas que se expressam dessa forma acabam manifestando-se de forma negativa quando possuem um homossexual na família.  A família pode ter dificuldades em proporcionar a um filho (a) homossexual uma sensação de acolhimento que convencionalmente essa instituição deveria gerar, pois são situações novas que precisam ser organizadas para um entendimento (CECHINATTO, 2013).

Silva (2007) conta que, um dos argumentos utilizados por pessoas que não compreendem a homossexualidade é que pessoas dotadas desta orientação sexual são uma aberração, que contrariam a natureza humana, portanto, sem dignidade e desmerecedoras das bênçãos de Deus. Atualmente, esse pensamento ainda é muito comum se ouvir dizer, porém a percepção das pessoas em relação à consolidação de uma família não é mais caracterizada por um homem, uma mulher e seus filhos (SILVA, 2007).

Atualmente, os jovens vêm conseguindo expor sua sexualidade com mais naturalidade no seu ciclo de amizades, porém em relação aos pais a uma resistência sobre qual será a reação dos mesmos. Até os pais aceitarem definitivamente o fato de o filho ser homossexual, poderão não querer falar muito no assunto, apesar de aceitarem a orientação sexual do filho, ou então, nas famílias que não se aceita tão bem, tudo que o indivíduo faz ou diz é para os pais consequência da sua orientação. Nem todos os pais chegam a aceitar de fato a homossexualidade. No entanto, outros continuam a amar os filhos sem aceitar de fato a sua orientação (OLIVEIRA, 2004).

4 METODOLOGIA

O desenvolvimento do artigo teve como base a elaboração de métodos de pesquisa através de referências bibliográficas e uma entrevista semiestruturada sobre a autoaceitação de um homossexual na faixa dos 21 anos, por meio disso, foram relatados experiências, sentimentos e situações enfrentadas por esse jovem diante das suas questões de gênero De acordo com os dados coletados, a autoanálise relata um indivíduo que morou sua infância até atingir a fase adulta em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul e abrange os principais pontos de sua vida escolar e familiar.

5 PROBLEMA

Um dos grandes problemas que um homossexual enfrenta é a própria aceitação de que é um homossexual, além disso, o fato de existir muito preconceito faz com que isso desencadeie uma série de dúvidas quanto à sexualidade. É na adolescência que isso se torna evidente, pois é quando os hormônios estão efervescentes por descobrir coisas novas, porém como levar informação aos jovens de que não é preciso se preocupar ou explicar sobre autoaceitação?  Qual a melhor forma de conversar com eles?

Para elaboração do projeto, é necessário questionar sobre as questões de sexualidade e gênero na família e na educação e entender como as duas áreas lidam com a questão da homossexualidade. Os preconceitos, bullying, conflitos internos, costume, etc.

6 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

A definição do problema está relacionada à criação da campanha, o uso dos materiais que serão utilizados para mesma e também a abordagem que será criada para dialogar com os adolescentes.

7 COMPONENTES DO PROBLEMA

Atualmente é incomum falarmos de gênero e sexualidade em algumas escolas. Há barreiras que devem ser quebradas para a diversidade poder ser mais bem representada. É imprescindível a capacitação de professores para elaborar diálogos e diferentes tipos de conversas com os alunos sobre as questões de gênero. Por se tratar de uma campanha de orientação, ela não visa conscientizar as pessoas, mas sim, orientar sobre as situações que um homossexual passa durante sua vida escolar e familiar por causa da homofobia e as diferentes formas de preconceitos que sofrem.

8 AUTOANÁLISE:

Analisar uma pessoa não é fácil, é necessário observar todos os seus gestos, comportamentos, as formas de linguagens e tudo que rodeia o universo desse indivíduo. Basicamente, você precisa entender como funciona a vida daquela pessoa, até obter respostas e tudo aquilo que precisa para desenvolver o seu projeto ou o trabalho que esta elaborando. No entanto, se autoanalisar é muito mais complicado, pois você já está vivendo tudo isso, sabe dos comportamentos, as formas de linguagens e tudo que norteia o seu universo. Sendo assim, uma autoanálise necessita de uma busca detalhada sobre si mesmo para conseguir usufruir de uma boa pesquisa e obter resultados satisfatórios. Freud, o criador da Psicanálise, explorou-se a si mesmo continuamente, e converteu-se no mais informativo de seus pacientes. Para seu trabalho ele não contava com predecessores nem mestres, e à medida que avançava teve de inventar, ele mesmo, as regras pertinentes (SAIGH, 2007). De acordo o entrevistado, desde muito novo ele sempre se via diferente diante dos amigos e colegas.

Eu desde a pré-escola nunca olhava para as meninas, mesmo sendo tão pequeno, eu sempre via os meninos e os achava bonito, aquilo me atraía e para mim era normal. Porque eu só olhava para um menino e sentia atração pelo mesmo, não era aquela coisa de gosto de meninos, mas tenho que gostar de meninas (GRIEBELER, 2017).

Nessa época, o jovem tinha apenas seis anos de idade e já demonstrava um comportamento considerado diferente para a idade e incomum para um menino. Ele sempre gostou mais das brincadeiras de boneca e pular corda com as meninas, o futebol não era visto como algo que queria ter como brincadeira naquele momento.

Existem relatos que a partir de dois anos de idade uma criança já expressa sua homossexualidade. O psicólogo John Money (EUA) defendeu esta hipótese. No meu consultório, encontrei relato de cliente que a partir dos três anos de idade já sentia atração por homem. Minha pesquisa apontou a média de cinco anos de idade (entrevista feita por Diana C., 2010 a João Batista Pedrosa).

A partir daí, já com oito anos, o entrevistado inicia sua vida escolar em uma escola da rede municipal de ensino, seguindo com praticamente os mesmos colegas da pré-escola. As brincadeiras com as meninas e a dificuldade de socialização com os meninos acompanharam o jovem garoto, para ele nada daquilo que gostava parecia ser errado, porém para as outras pessoas ele era diferente.

Quando eu estava na primeira série do ensino fundamental, a professora disse para minha mãe, levar-me ao médico, pois eu era diferente dos outros colegas e que aquilo não era normal (GRIEBELER, 2017).

É muito comum um homossexual, mesmo quando criança, ser levado a um psicólogo para conversar e entender o porquê do mesmo ser diferente dos demais amigos ou colegas. Em muitas das situações, os pais acreditam que o filho está passando por algum tipo de fase, que é passageiro. Nesse caso, a pessoa de maior conhecimento e que deveria ser aberta a todo o tipo de possibilidades e abrir discussões sobre gênero com os pais, decide que aquela criança tem um problema, a professora trata a homossexualidade como uma doença e que precisa ser tratada.

A escola sempre proporciona aos alunos uma educação sexual voltado aos heterossexuais, e esquecem-se deste grupo que sempre existiu, porém por muitos anos ficou escondido, com medo de “falsos” valores morais que condenavam os adeptos, quando não como doentes mentais, taxavam como criminosos e sem vergonhas, como se a orientação sexual, fosse algo que o sujeito pudesse alterar ao seu bel prazer (SANTOS, p.6, 2012).

Com o passar dos anos, com o crescimento, mas ainda no ensino fundamental, o entrevistado sempre se deparou com o olhar da diferença. O modo com que as pessoas lhe tratavam muitas vezes fazia com ele se resguardasse por receio do bullying, De acordo com ele, desde o ensino fundamental, as pessoas o olhavam de maneira diferente ou evitavam às vezes algumas coisas, de conversar ou de fazerem piadinhas. Quando questionado sobre que tipo de piadas e bullying que sofria, o rapaz disse que eram piadas padrão, ou seja, que infelizmente são usadas em outras situações e que também já havia vivenciado anteriormente. “Lá vem o bichinha, olha lá”, foi uma das piadas que ele enfrentou durante sua vida escolar e teve que encarar sozinho, pois os professores não o ajudavam muito.

No ensino fundamental, a partir da 6ª série, eu fui para uma escola estadual, onde fiquei até completar o ensino médio. E no ensino fundamental os professores não falavam nada, acho que eles nem sabiam e se sabiam, fingiam que nada estava acontecendo. Eu sei que teve uma época em que eles comentaram, mas já era no ensino médio (GRIEBELER, 2017).

Eram vivências isoladas, pensamentos diferentes e a rotina monótona dos colegas que acreditavam em ideias totalmente opostas as suas. Juntamente com o bullying que sofria e os conflitos internos, isso fez com que o rapaz evitasse fazer coisas básicas na escola, como o intervalo, por exemplo, que é uma pausa nos estudos para um momento de lazer.

A omissão de professores e gestores se mesclam com a falta de uma formação anterior para o trabalho com temas como Homossexualidade na sala de aula, levam os professores a não perceberem, ou não saberem como agir em relação a descriminações ocorrentes em sala de aula, ou tratando a sexualidade ainda dentro de disciplinas estanques como ciência/biologia (SOUSA, p.1067, 2008).

Em relação à nova escola, a troca de um sistema municipal para um estadual nunca foi fácil para o jovem, na verdade o fato de estudar no interior nunca o agradou e fez com que ele não se adaptasse a essa escola. Devido a isso, sentimentos de tristeza e incômodo o acompanharam durante muito tempo.

Eu nunca me adaptei naquela escola, estudei muitos anos lá, mas nunca me adaptei. Porque eram pessoas que pensavam diferentes a mim, por ser uma escola de interior. E em relação a isso, era muito daquela coisa de “eu não quero que as pessoas saibam, de não querer que elas falem ou comentem sobre isso”. Então eu tentava evitar, que era algo meu isso, mas era pelo fato do não se aceitar, por isso eu tinha muito receio de sair para o intervalo e me deparar com o pessoal falando de mim, comentando ou fazendo alguma piada. Talvez por eu não entender ou não me aceitar, acabava achando que todo mundo estava falando de mim, eu tinha a impressão de que todos estavam fazendo piadinhas, se alguém tivesse rindo e olhava para mim, mesmo que sem querer, eu já achava que era sobre mim, acabava ficando muito paranoico (GRIEBELER, 2017).

Por se tratar de uma escola situada no interior, onde os rapazes desde cedo trabalhavam na roça, plantando milho ou colhendo bergamota, e as moças ficavam em casa cuidando dos afazeres domésticos juntamente com a ordenha das vacas, eram hábitos limitados. Todos os dias era a mesma coisa, uma rotina cansativa e sem muitas opções, era: acordar, trabalhar, dormir, e enquanto adolescente era: acordar, estudar em algum turno, trabalhar e dormir. Sempre a mesma rotina, e quando estavam na escola eram os mesmos assuntos de afazeres do campo ou bailes de final de semana. O entrevistado não se encaixava nesses padrões de conversas e rotinas, sempre foi ligado a mudanças, pesquisa e de sempre correr atrás de coisas novas e inspiradoras. Por isso, na escola era muito comum não haver nenhum tipo de diálogo sobre sexualidade e muito menos sobre gênero, sempre foi tratado sobre interesses de menino e interesses de meninas, futebol ou vôlei, homem ou mulher. Tudo que se encaixava fora desses padrões era excluído ou seria a última opção de convívio, ou seja, o jovem sempre foi à última escolha dos colegas nas brincadeiras e tarefas de grupo.

Era comum os meninos jogarem futebol e as meninas jogarem vôlei. Eu jogava futebol, mas sempre preferia vôlei e digamos que isso era um exemplo de coisas de menino e menina que a escola tinha Teve um tempo em que eu não jogava futebol, pois não me sentia a vontade, achava que eu não me encaixaria ou que fariam piadas sobre mim (GRIEBELER, 2017).

Quando atingindo o ensino médio, surge uma nova mudança na vida do rapaz, a troca do turno da tarde para a noite. Geralmente as pessoas do novo turno eram tratadas de maneira diferente, pois todas trabalhavam e/ou estavam em busca de um aperfeiçoamento profissional. Foi a partir daí que começa a grande fase de autoaceitação na vida do jovem, pois é quando ele começa a se questionar sobre os seus sentimentos perante as demais pessoas.

No ensino médio, foi na verdade, eu me descobrindo de fato. Porque eu sempre soube do que eu gostava, sempre sentia, mas era muito complicado falar sobre isso com as outras pessoas, ou se alguém chegasse a mim e perguntasse sobre eu ser gay, acabava ficando nervoso (GRIEBELER, 2017).

Porém, logo no primeiro ano do ensino médio, o entrevistado se sente muito deslocado, por encontrar muitas pessoas diferentes do seu antigo ambiente escolar e que poderiam comentar sobre ele ou criarem novas formas de bulying. Então, ele opta pelo afastamento, por criar pensamentos extremistas e por achar que as pessoas não o entenderiam.

Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio, digamos que ai foi um divisor de águas para a minha autoaceitação, pois foi um ano em que eu me fechei para todo mundo. Eu estava com medo e não queria que ninguém falasse sobre aquilo. Creio que era uma coisa de momento, eu não estava preparado ainda. Porque as pessoas já falavam de mim, mas eu não estava preparado para dizer sim sou gay, por achar que eu não teria apoio (GRIEBELER, 2017).

Uma série de batalhas começa a ser travada internamente na cabeça do jovem, o fato de contar para sua família que era homossexual, poderia ser algo positivo, mas também poderia ocorrer a não aceitação ou entendimento da mesma. Isso é muito comum na vida dos jovens homossexuais, por dependerem dos pais para muitas questões, faz com que eles esperem para se revelar, com receio de serem expulsos de casa, quando não sofrerem agressões físicas ou verbais.

As expectativas e demandas sociais e familiares de nossa cultura heterossexista, na qual questões de foro íntimo (como a escolha do/a parceiro/a) podem gerar desapontamento, nojo e até, revolta, favorecem uma discriminação opressiva (consciente ou não) contra aqueles que ousam declarar seu modo de ser e de estar-no-mundo de um modo diferente dos demais (SANTOS e BERNARDES, p.293, 2008).

No entanto, um fator muito importante na vida do entrevistado faz com que ele ganhe forças e comece a pensar numa forma de abordagem para comunicar aos pais.

Um dos motivos para isso foi eu começar a namorar um rapaz, eu nunca namorei meninas. Quando eu comecei a namorar, me sentia seguro com ele para poder falar para as outras pessoas, porque se alguma coisa me acontecesse o teria. Se por acaso minha família não me aceitasse, eu teria para onde fugir. Isso foi um dos grandes motivos para eu pensar em revelar que era gay a minha família (GRIEBELER, 2017).

Antes de seguir, é necessário entender como tudo começou, como o jovem teve o primeiro contato com um rapaz, seu primeiro beijo ou a certeza de que sim, ele era gay. Uma das perguntas realizada foi sobre quando foi a primeira vez em que ele ficou com um rapaz e onde se conheceram?

Eu tinha 15 anos, foi através de um chat online. Naquela época o chat era a minha única forma de expressão, ali eu podia conversar com outros rapazes sendo eu mesmo. Em um dia qualquer, quando eu estava online um menino me chamou e começamos a conversar. Eu perguntei se ele era gay, porque geralmente rolava essas perguntas se o cara era gay ou bissexual. As conversas eram sempre virtuais, eu o conheci bastante antes de encontrá-lo pessoalmente, pois poderia ser perigoso. Eu conversava com muitos garotos, até mesmo de outro estado, trocávamos experiências, conversas e foi onde eu percebi que existiam mais pessoas como eu, que eu não era o único. Eu conheci o meu primeiro namorado nesse chat (GRIEBELER, 2017).

A partir daí, ficava cada vez mais forte o pensamento sobre sua autoaceitação e na possível conversa com seus pais sobre o assunto. Um dos principais relatos do rapaz, conta com muita clareza a situação que muitos homossexuais vivem, a dúvida da reação dos pais perante a sua revelação.

Eu sempre pensava na ideia de que se eu contasse o que aconteceria? Pensava em muitas coisas, se a minha família iria me aceitar ou o que iria acontecer se eu fosse expulso de casa? A troca de experiências com outros rapazes no chat estava muito ligada ao dia a dia, conversávamos sobre ser assumidos ou se os pais sabiam. Minha resposta sempre era não, pois meus pais não sabiam de mim, eu nunca havia contado e preferia que por enquanto fosse assim (GRIEBELER, 2017).

Nessa mesma época, do primeiro contato com outro rapaz homossexual, o garoto estava saindo do ensino fundamental em direção ao ensino médio. Foi quando houve o seu afastamento dos colegas e amigos e a troca do turno da tarde para a noite.

Quando eu troquei de turno, da tarde para a noite o pessoal noturno era tratado de maneira diferente, a maioria trabalhava. Eu acho que isso influenciou no meu afastamento, pois eu ainda não trabalhava e era um dos únicos. Era mais um conflito interno por não entender o porquê de não conseguir um emprego (GRIEBELER, 2017).

Com o passar dessa turbulência, o entrevistado segue estudando e tentando lidar com o fato de ser homossexual e trabalhar na sua autoaceitação. Porém, com todas as questões de conversas no chat, a falta de emprego, o bullying e o afastamento dos colegas, o seu processo de autoaceitação se fecha e só retoma no final do ensino médio.

O meu processo de autoaceitação se fecha porque para mim, autoaceitação és tu te aceitar do jeito que é e também perante as outras pessoas. Que se alguém pegar e fizer alguma piada e tu revidares ou disser “sim, sou gay” com tranquilidade. Isso foi depois, digamos que eu me aceitava sem querer que as pessoas soubessem, então não era de fato uma autoaceitação. Eu entendia que era gay, que gostava de garotos e não gostava de garotas da mesma forma, mas ainda não estava preparado para se alguém chegasse a mim e perguntasse, eu acabaria mudando de assunto (GRIEBELER, 2017).

Com essa confusão de se aceitar e não aceitar, o entrevistado vivia diariamente um dilema. Mas com tudo isso, fica evidente a falta de algum amigo para conversar e ele fala disso em um dos questionamentos, sobre como os colegas de escola viam essa situação toda, porque diferente do ensino fundamental, eles tinha outra visão, mudanças de amizades, grupos, conflitos e também como passou a conquistar aos poucos sua autoaceitação.

Eu me dava bem com todo mundo, com a turma, os professores, mas eu via que o problema era comigo, eu que acabava afastando eles de mim, por não querer me abrir com eles, por receio de eu falar qualquer coisa e eles pensarem algo. Então eu preferia não ter contato, dai eu me fechava muito. Eu acho que o que me deu força para minha autoaceitação, foi o fato de eu me tornar mais independente. Eu comecei a trabalhar, então eu me sentia mais independente, porque caso eu me assumisse e minha família não me aceitasse, eu teria que sair de casa e eu saindo como iria fazer? Eu seria obrigado a ser independente de fato e talvez eu não conseguisse, então eu começando a trabalhar comecei a pensar nessa hipótese (GRIEBELER, 2017).

Nessa mesma época, Bruno estava chegando ao final do ensino médio, estava namorando um rapaz, mas ainda não era assumido para a família. Foi quando um dia, sua mãe desconfiada resolve conversar sobre isso. Considerando todas essas questões ele conta como foi a receptividade de sua mãe diante da situação de ter um filho homossexual.

Quando minha mãe veio falar comigo, quando nós conversamos sobre minha homossexualidade, foi na ocasião em que eu estava namorando. Ela decidiu puxar o assunto comigo e foi na época em que eu apresentei um amigo a ela, amigo esse que era meu namorado, porém minha mãe não sabia. Ela notou que a gente se tratava de maneira diferente e resolveu me questionar se ele era meu namorado. A partir daí nós sentamos e conversamos sobre tudo, minha homossexualidade e todos os fatores que englobavam isso. A primeira reação dela foi uma revolta por eu nunca ter contado a ela, já que nosso relacionamento era muito bom. A segunda foi achar que eu estava sendo influenciado pelo meu namorado e que aquilo tudo era passageiro. Nós ficamos duas semanas sem conversar, pois foi o tempo que ela precisou para entender e saber lidar com a situação. Aos poucos, fomos voltando a conversar e ela tinha dúvidas sobre como de fato era a homossexualidade, foi quando eu eliminei as dúvidas que ela tinha. Uma delas e que é muito comum entre as pessoas atualmente, era se eu iria me tornar uma garota, me vestir ou falar como menina e minha resposta foi não, eu disse que eu sempre seria a mesma pessoa, apenas um garoto, que se veste como garoto e que gosta de outros garotos (GRIEBELER, 2017).

Por fim, após concluir o ensino médio e depois de um semestre de descanso, o jovem entra para a universidade, ele vê no ensino superior uma nova forma de criar sua identidade, por achar que as pessoas que ali frequentam são mais abertas e tenta finalizar seu processo de autoaceitação.

Entrar para uma faculdade e ter contato com outros tipos de pessoas e pensamentos me fez ver que eu poderia ser quem eu realmente era sem precisar temer algum tipo de comentário ou de sofrer bullying. Fiz muitos amigos que carregarei para minha vida inteira. No início, quando comecei meu curso, eu ainda tinha receio de como seria a minha reação e a reação dos meus colegas ao saberem que eu era gay, porém, foi algo tranquilo, para algumas pessoas o assunto surgiu naturalmente e outras eu acabei contando, o diálogo e a forma de conversar esse assunto na universidade me fez entender que minha adolescência inteira eu vivi muitas etapas de bloqueio comigo mesmo e que hoje elas servirão de base para ajudar outras pessoas a não passar por isso (GRIEBELER, 2017).

9 APLICAÇÃO AO DESIGN GRÁFICO

Elaborar um projeto gráfico requer uma pesquisa bibliográfica e histórica sobre os principais conceitos que se almeja alcançar e o objetivo principal do projeto. Utilizar um tema social como a autoaceitação homossexual unindo ao design gráfico deve-se levar em conta a forma como ambos se comportam diante da situação nas mídias online e off-line O projeto gráfico a ser desenvolvido busca a partir de um caso real, um meio de orientar os jovens e também aos pais sobre o que esses jovens passam no período de autoaceitação durante a sua adolescência e a forma com que isso se manifesta.

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A presente pesquisa buscou estudar o ambiente escolar e familiar e entender como ambas se comportam diante da autoaceitação homossexual e o preconceito. É um tema bastante polêmico, pois gera muitas discussões sobre o que é considerado normal e anormal, pois cada pessoa possui uma construção cultural que lhes é ensinada desde a infância. Porém, é necessário delimitar espaços e fazer com que haja a quebra de paradigmas sobre a homossexualidade e as formas com que os gays vivem atualmente. Cada ser humano é diferente um do outro, ou seja, cada pessoa tem o seu direito de exercer aquilo que é considerado correto e almejado para sua vida, no entanto, os homossexuais são impedidos de executar muitas funções que para os casais heterossexuais, por exemplo, são atividades rotineiras. A autoaceitação por se tratar de um sentimento íntimo de cada sujeito, é considerada uma etapa de grande dificuldade na vida das pessoas, ela deve ser falada e conversada, pois muitas vezes é apenas uma questão de conflito interno que a pessoa gera como forma de proteção.

11 REFERÊNCIAS

SANTOS, Jane Paim dos; BERNARDES, Nara, M. G. Percepção social da homossexualidade na perspectiva de gays e de lésbicas. Rio de Janeiro, RJ, Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008.

SILVA, Cristiane Gonçalves da. Semana 3: Orientação sexual, identidades sexuais e identidade de gênero. São Paulo, SP, UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo, 2016.

LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: Pedagogias da Sexualidade. Belo Horizonte, Autêntica, 2000.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, Sexualidade e Educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis, RJ, Editora Vozes, 2003.

OLIVEIRA, Sónia Raquel Faria. Homossexualidade. Coimbra, Portugal. Universidade de Coimbra Faculdade de Economia, 2004.

JUNQUEIRA, Rogério Diniz (Org.). Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. Brasília, DF, 2009.

MAXWELL. Os pais no tratamento psicanalítico de crianças. Rio de Janeiro, RJ. PUC-RIO, 2016.

BARDUNI FILHO, Jairo-UFV; SOUSA, Dileno Dustan Lucas de. A questão da homossexualidade e o bullying. Paraná, PUCPR, 2008.

RIOS Luís Felipe; ALMEIDA Vagner de; PARKER Richard; PIMENTA Cristina; JR. Veriano Terto. Homossexualidade: produção cultural, cidadania e saúde. Rio de Janeiro, RJ, 2004.

BUSIN, Valéria Melki. Homossexualidade, religião e gênero: a influência do catolicismo na construção da autoimagem de gays e lésbicas. São Paulo, SP, 2008.

SILVA, Valdeci Gonçalves de. O adolescente gay e a capacidade de resiliência da família: Estudo de um texto biográfico. Paraíba, 2011.

XAVIER, Bruno Miguel Ribeiro. E se eu (não) contar quem sou? Estudo exploratório em jovens homossexuais masculinos sobre as perceções das (im)possibilidades da revelação da orientação sexual ao pai: implicações para a construção de identidades sexuais não-normativas. Portugal. Universidade do Minho Escola de Psicologia, 2013.

CECHINATTO, Solange Darui. Disponível em: Acesso em: 18 de maio de 2017.


Publicado por: Bruno Filipe Griebeler

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