Reflexões sobre os princípios Educacionais Filosóficos
Filosofia
Breve análise sobre os princípios Educacionais Filosóficos.
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O que é Filosofia?
O que representa a filosofia? Como é possível perceber, a origem da palavra filosofia tem raízes na língua grega. Observemos o significado dos componentes que a compõem. "Philos", que significa amigo, aliado + sophía, que representa sabedoria, conhecimento e saber. Na Grécia Antiga, o filósofo era reconhecido como amigo ou amante da sabedoria, destacando o caráter significativo da filosofia como um amor ao conhecimento. Naquele período, o assombro e a admiração pela vida e realidade motivavam os indivíduos a se engajarem na filosofia. Contudo, ao longo da história, o conceito de filosofia evoluiu. Na Antiguidade, as fronteiras entre ciência e filosofia eram difusas, sendo os primeiros filósofos também os pioneiros cientistas. Pode-se considerar a filosofia como a progenitora da ciência, da qual gradualmente se desvincularam formas de pensamento e métodos que, posteriormente, se especializaram e se autonomizaram. Essas formas de pensamento e métodos são aquilo que chamamos hoje de ciência.
Conforme Lindenberg (1983, p. 511) destaca, na antiguidade, não havia nada equivalente à totalidade da ciência moderna ou aos seus ramos específicos, como física, química, geologia, zoologia e psicologia. Os temas abordados por essas disciplinas contemporâneas eram todos parte da filosofia natural, inserindo-se, assim, em um projeto filosófico mais abrangente. A própria história é um dos valiosos legados da filosofia. A filosofia ocidental surgiu como uma forma de conhecimento que buscava se distinguir de mitos, retórica, tragédias e poesia, mantendo-se até os dias de hoje como um espaço dedicado à prática reflexiva.
Nas origens da Filosofia, em contraste com a realidade atual das grandes cidades, saturadas e iluminadas, nossos antepassados mantinham uma conexão íntima com a natureza e seus eventos. Tempestades, vulcões, chuvas, eclipses, raios, trovões, lua e estrelas representavam um conjunto desconhecido, impressionante e frequentemente ameaçador para o ser humano primitivo. Ao longo de sua evolução, o ser humano refinou sua perspectiva em relação à natureza, ajustando sua interação com ela, enquanto a busca pelo controle ambiental persiste como uma das características mais marcantes de sua trajetória.
Ilustrando essa interação ancestral entre o ser humano e a natureza, mencionamos um antigo observatório solar recentemente identificado no Peru, construído quase duzentos anos antes da ascensão da Sociedade Inca. Esse observatório permitiu que a população daquela época desenvolvesse um calendário com 13 segmentos, conforme evidenciado na figura 1.1, capturada durante um solstício de inverno no observatório de Chankillo, no Peru. Cada uma das cavidades na representação indicava o ponto de nascimento do Sol nos diferentes meses do ano.
Figura 1.1 Foto tirado no solstício de inverno, no observatório de Chankillo, no Peru. Cada uma das concavidades do sol nos meses do ano.
Esses registros temporais desempenhavam funções cruciais nas civilizações antigas. Além de contribuírem para a prática agrícola e a organização de períodos de conflito e batalhas, tinham um papel preponderante na representação de entidades e divindades. Essa associação conferia significado e propósito aos fenômenos naturais. Nesse ponto crucial de nossa história, onde eventos naturais eram vinculados a divindades, surgiam os primeiros mitos. Desse modo, podemos conceituar um mito como uma narrativa elaborada com o propósito de simbolizar fenômenos naturais, buscando elucidá-los e conferir-lhes significado.
No que diz respeito à origem dos mitos, é crucial notar que, desde tempos remotos, eles representam uma tentativa humana de conferir significado ao mundo ao seu redor. Os deuses são concebidos como entidades reais, respeitáveis e responsáveis por atribuir sentido aos eventos naturais. Dado que são produtos da imaginação humana, a maioria desses deuses exibe características físicas e psicológicas similares às dos seres humanos, incluindo personalidade e a capacidade de expressar emoções como raiva e compaixão. Assim como em qualquer tradição, os mitos são transmitidos de uma geração para outra, mantendo-se em sintonia com a civilização, evoluindo e mesclando-se a outras crenças.
Nesse contexto, surgem sistemas de crenças que a humanidade elabora constantemente, buscando atribuir significado e compreensão ao mundo que nos cerca. Com o desenvolvimento das sociedades e o intercâmbio cultural entre diferentes povos, as pessoas passaram a se deparar com variados conjuntos de crenças e mitologias. Essa diversidade resultou em conflitos entre esses sistemas, sendo exatamente esses embates que impulsionaram o surgimento da filosofia na Grécia Antiga. A partir desse momento, a busca por respostas a esses conflitos passou a se fundamentar em argumentação lógica, experimentação e racionalidade. Com o advento da filosofia, o nosso entendimento do mundo experimentou uma transformação significativa.
Figura 1.2 O Partenon. Atenas foi uma das mais importantes cidades-estado da Grécia antiga. O Partenon foi construído na época de Pericles (447-438 a.C) e era dedicado à Palas Atenas, Deusa da Sabedoria.
A convivência conflituosa de diversas crenças provavelmente suscitou incertezas em alguns indivíduos, levando-os a buscar compreender o mundo com base em fatos, afastando-se de explicações sobrenaturais fantasiosas. Muitos estudiosos afirmam que foi nesse contexto que a filosofia teve sua origem. Segundo Aristóteles, renomado filósofo grego, o matemático Tales de Mileto destacou-se como pioneiro ao formular e sustentar ideias inovadoras sobre o mundo, como a concepção de que tudo é água. Essa abordagem inédita, contrária às crenças míticas predominantes, marca o início de uma era mais racional na trajetória da humanidade. Importante frisar, no entanto, que o advento da filosofia não resultou na extinção completa da mitologia grega da época. Os mitos estavam profundamente enraizados na sociedade, e a filosofia, então apenas uma nova forma de análise e reflexão sobre os eventos, contava com poucos seguidores.
Com o decorrer do tempo, começaram a surgir as denominadas Escolas de Pensamento, agrupamentos de indivíduos que se reuniam para desenvolver teorias e concepções sobre o mundo. A maioria dessas escolas era liderada por um pensador central, acompanhado por seus seguidores. O conjunto de pensadores dessa fase é comumente referido como pré-socráticos, devido ao fato de terem vivido antes de Sócrates, um dos grandes filósofos da história. É relevante mencionar alguns filósofos proeminentes dessas escolas antigas, como Demócrito e sua teoria atômica. Conforme essa teoria, toda matéria é composta por minúsculas e indivisíveis partes fundamentais chamadas átomos. Destaca-se também a Escola de Empédocles, centrada nas ideias dos quatro elementos primordiais: fogo, terra, água e ar.
Tales de Mileto
Ampliando nossa visão sobre a importância da água. Para esse pioneiro filósofo, a água era o princípio absoluto, a essência primordial que permeava todas as coisas. Imagine a vida sem a presença vital desse elemento!
Anaximandro de Mileto (século VI a.C)
Já Anaximandro, discípulo perspicaz de Tales, nos conduz a um território intelectual intrigante. Para ele, o elemento determinante na origem do universo não se limitava a algo tangível. Áperion, o indeterminado, o infinito. Aqui, a cosmologia transcende o observável, mergulhando no âmbito do intelecto. Anaximandro, além de suas explorações cósmicas, aventurou-se nos domínios da biologia e astronomia, ampliando ainda mais as fronteiras do conhecimento.
Anaxímenes de Mileto (século VI a.C)
Anaxímenes de Mileto, propunha que o ar, chamado ípneuma, era o elemento fundamental na origem do universo. Ele afirmava que as coisas nasciam do ar e retornavam a ele através de processos como a rarefação e a condensação, implicando que o ar era simultaneamente um princípio invisível e físico, intelectual e sensível. Para Anaxímenes, a respiração era equiparada à vida em seu sentido mais amplo, concebendo o cosmos como resultado de um imenso movimento respiratório.
Pitágoras de Samos, aproximadamente entre 550 e 500 a.C
É reconhecido como uma figura proeminente na Grécia Antiga. Seu famoso Teorema de Pitágoras é conhecido por muitos, ainda que a memória exata do teorema possa ser nebulosa. Embora Pitágoras tenha desempenhado um papel crucial, nenhum de seus escritos chegou até nós. No século V a.C., seu discípulo Filolau iniciou o registro escrito de seus ensinamentos, mas essas obras também foram perdidas ao longo do tempo. As primeiras biografias de Pitágoras só foram documentadas oito séculos após sua existência, graças a Lâmblico e Porfírio.
Heráclito de Efésio (535 a 475 a.C.)
Era conhecido na antiguidade como "o Obscuro" devido à complexidade de seus escritos. Para Heráclito, o fogo, chamado de Pir, era o elemento primordial que fundamentava a explicação do mundo. Ele acreditava que a tensão, o conflito entre opostos, a mudança e a dialética eram os princípios fundamentais do universo, enquanto a razão regia o mundo, mantendo sua ordem. Além disso, Heráclito pode ser considerado o primeiro antropólogo, pois em sua filosofia, o homem também é objeto de análise.
Parmênides de Eleia (século V a.C)
Parmênides de Eleia adotou uma abordagem distinta, apresentando sua obra em versos e se afastando do estilo mítico. Ele afirmava a identidade entre o ser e o pensamento, considerando o ser como uno, imutável, eterno, imóvel e indivisível. Parmênides é classificado como monista, defendendo que tudo que existe sempre existiu e nada pode transformar-se em algo diferente de si mesmo. Para ele, a mudança e a diversidade eram meras ilusões dos sentidos. Parmênides se destaca como o principal representante da filosofia do ser, contrastando com a filosofia do século V a.C. de Heráclito. A oposição entre esses dois filósofos é uma das mais significativas entre os pré-socráticos, estabelecendo e delineando diversas questões que moldariam posteriormente a filosofia ocidental.
Anaxágoras de Clazômena (500-428 a.C)
Anaxágoras de Clazômena, que viveu entre 500 a.C. e 428 a.C., postulava na antiguidade que todas as substâncias poderiam ser subdivididas ao infinito, concepção que a física moderna confirmou. Ele defendia a ideia de que tudo consistia em partículas minúsculas e invisíveis, sustentando um ponto de vista plurista ao afirmar que vários elementos contribuíam para a origem do universo. Anaxágoras atribuía a regência dessa combinação ao "nous," um conceito que engloba razão, espírito ou inteligência. Segundo ele, o "nous" seria ilimitado, eterno, governando a si próprio e permanecendo inalterado pela mistura com qualquer outra substância.
Leucipo e Demócrito de Abdera (século V a.C)
Leucipo e Demócrito de Abdera, entre 500 a.C. e 428 a.C., são reconhecidos como adeptos do atomismo, pois postulam a existência de átomos, partículas indivisíveis e invisíveis, como os componentes fundamentais do universo. De acordo com sua visão, os átomos estão constantemente em movimento, colidindo, unindo-se e separando-se. A concepção deles sugere que o funcionamento do universo é totalmente mecânico, desprovido de qualquer força influenciando os átomos, motivo pelo qual ambos são categorizados como materialistas. No contexto pré-socrático, diversas outras correntes filosóficas ganharam destaque. Na Grécia Antiga, por exemplo, duas teorias notavelmente conflitantes emergiram, explorando as disparidades entre conhecimento e ideia. Essas teorias ficaram conhecidas como Monismo de Parmênides e Mobilismo de Heráclito.
Mobilismo: “tudo flui"
Heráclito e seu Conceito de Mobilismo. Além de ser reconhecido como o precursor do mobilismo, Heráclito ficou famoso não apenas por essa teoria, mas também devido à sua peculiar abordagem na documentação escrita. Ele adotava um estilo de escrita com frases avulsas, desconexas e trechos breves, o que conduziu os acadêmicos a interpretar suas ideias de maneiras diversas. Em relação ao mobilismo, Heráclito expressava a crença de que todas as coisas estão em constante movimento, em um estado de mudança perpétua, ou, usando suas próprias palavras, "não se pode entrar duas vezes no mesmo rio." Considerando essa constante transformação, mesmo ao evitar os momentos instantâneos, tanto a pessoa quanto o rio já terão se alterado em relação ao passado.
Monismo: “o ser é"
Apesar de compartilhar algumas ideias com Heráclito, Parmênides expressa uma marcante oposição em relação aos pontos cruciais do filósofo. A ordem cronológica dessas teorias e a possível interação entre os dois pensadores são desconhecidas, mas as disparidades em seus pensamentos são evidentes. Em contraste com a constante mudança e movimento do mobilismo de Heráclito, Parmênides postula que a realidade e a natureza são imutáveis e estáticas. Sua teoria, que afirma que tudo está repleto de ser, ecoa a ideia de unidade proposta por Tales. A contribuição mais notável de Parmênides para o desenvolvimento da filosofia talvez resida em sua inovadora proposição de identidade na frase "o ser é, e o não ser não é."
A Construção da Filosofia na Antiga Grécia
Ao longo do tempo, observamos um aumento na presença das chamadas escolas de pensamento na Grécia Antiga. Esses sistemas, geralmente liderados por um filósofo e seus seguidores, exerceram uma influência crescente na sociedade grega da época, abrangendo áreas como política, metafísica e diversos aspectos sociais. Dentro dessas escolas filosóficas, identificamos três componentes fundamentais:
· A epistemologia, que explora a natureza, fontes, limitações e critérios do conhecimento, já presente nas teorias de Parmênides e Heráclito.
· A ética, responsável por definir o que é certo ou errado, virtude ou vício, e ainda abordando questões morais e de justiça.
· A estética, que envolve a concepção de beleza, arte, teatro e os métodos para criá-los.
Sofistas
Transformações na Grécia Antiga no Século V a.C.: Avanços Artísticos e Jurídicos. Durante esse período, a Grécia experimentou profundas mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais. Você está familiarizado com o notável desenvolvimento artístico e jurídico alcançado pelos gregos nessa era? Foi nesse contexto que surgiram tragédias que perduram até os dias de hoje, como "Édipo Rei" de Sófocles, "Prometeu Acorrentado" de Ésquilo e "Medeia" de Eurípides. Na Grécia, a tragédia adquiriu uma dimensão de cerimônia cívica, diferindo das características religiosas que predominavam anteriormente. Por outro lado, a comédia, especialmente nas obras de Aristófanes, desempenhou um papel crucial na crítica social.
Os Sofistas emergem em um contexto no qual a habilidade da argumentação se tornou crucial. Reconhecidos como mestres da oratória, dedicavam-se a instruir sobre o desenvolvimento de argumentos tanto a favor quanto contra uma mesma posição. Percorrendo toda a Grécia, realizavam conferências e estabeleciam uma forma inovadora de ensino itinerante e remunerado, marcando assim o início da profissão de professor na história. Essa abordagem educacional, inaugurada pelos sofistas, visava acompanhar o indivíduo desde a infância até a idade adulta. Diversos elementos, como a dialética, a poética, a linguagem, a retórica e a gramática, ocupavam uma posição proeminente no ensinamento dos sofistas.
Com os sofistas, observamos uma mudança fundamental na filosofia, onde o foco se desloca da natureza para o homem como o principal objeto de reflexão. Podemos caracterizar esse período como o surgimento da filosofia antropológica. Notáveis sofistas do século V a.C. incluem Protágoras, Górgias, Hípias, Pródico, Crítias, Antífon, Trasímaco e Licófron. Cerca de dois séculos após o início da filosofia, Sócrates entra em cena, sendo aclamado até hoje como o filósofo mais significativo de todos os tempos.
Referências Bibliográficas
Michel, F. (2023). Citações Filosóficas: Insights Profundos para Reflexão e Compreensão do Mundo. Recuperado de https://conhecimentoamichel.blogspot.com/2023/09/citacoes-filosoficas-insights-profundos.html
Chaui, M. (2005). Convite à Filosofia. São Paulo: Ática.
Palácios, G. A. (2007). Ensina-se a filosofar, filosofando. In: Philósophos, 12(1), 79-90. Goiânia: UFG.
Chaui, M. (2011). Introdução à História da Filosofia: dos Pré-socráticos a Aristóteles (2a ed., revista e ampliada). São Paulo: Companhia das Letras, vol. 1, p. 20.
Publicado por: Fernando michel da Silva correia
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