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Pequenas igrejas, grandes negócios

Deus não propôs a negociação de valores e direitos, mas a instituição da fé.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Donaldo de Assis Borges[1]

Marco Antonio de Souza[2]

Aliança? O que é uma aliança? No geral, implica “um concerto estabelecedor de concessão de poder ou ajuda a alguém que prescinde de determinado benefício”. E o Negócio? O que é um negócio? É uma “troca mútua de direitos”. A vida, mesmo cotidianamente, exige inevitavelmente que as trocas comerciais as quais chamamos “negócios” ocorram desde as relações com os mais tenros bebes, a fim de que seus medicamentos e roupas não faltem, até aos preparativos do funeral daquele sábio avô que completou a sua missão em ditosa idade.

O que nem sempre é possível de se estabelecer plenamente nos negócios é a honestidade dos elementos embasadores do universo no qual o correspondente empreendimento está inserido. Ou seja, considerando a falibilidade humana e uma triste e lamentável flexibilidade de valores ideais como o respeito ao semelhante e ao tratamento igualitário e digno, as bases negociais, há longa data, têm sido maculadas por uma persistente tendência de explorar a falta de conhecimento e desorientação que sistematicamente ao longo das eras tem assaltado a pessoa humana, levando-a a viver uma ação existencial inconsciente ao ponto de desconhecer a sua própria capacidade (natureza) e, por isso, enganar-se.

A este propósito, vale considerar algumas realidades que ocorrem no exercício dos trabalhos de parcela considerável de denominações religiosas a respeito do “empreendimento da fé”. “A fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem”, segundo a inspiração do escritor de Hebreus (Cap. 11, v 1).

A primeira conclusão a este respeito é que “crer” faz parte integrante da natureza humana. Em decorrência, o exercício desta capacidade permite à pessoa humana a realização de parte da sua integralidade. E, assim sendo, é humana e espiritualmente correto este nobre sentimento considerando que a ausência do desenvolvimento dessa potencialidade torna o homem menos integral.

Mas como desenvolver esta capacidade sem causar danos à totalidade da pessoa humana? É sabido que os dirigentes espirituais são os facilitadores ou guias dos caminhantes da estrada do espírito. Cumpre àqueles exortar o caminhante para que, como “justo, viva pela sua fé” (Habacuque, 2,4; Deuteronômio 3). Neste ponto, o “empreendimento da fé” corre o risco de se desvirtuar do relevante estatuto do dízimo e das ofertas preconizado por Malaquias (Cap. 3, 8-11), escritura na qual o profeta enfatiza a demonstração da fé de quem busca a vida espiritual devolvendo parte do que recebeu de Deus em forma de contribuições materiais para a casa do Senhor. Levando em conta inclusive a subsistência do altar do qual deve comer o sacerdote, porque também é bíblico que não se há de atar a boca do boi que debulha.

O fato de tratar a fé como um empreendimento não se afigura espiritualmente incorreto, porquanto as sagradas escrituras além de estabelecer a fé como da natureza humana, objetiva que a criação inteligente – o homem – viva segundo tal fé. O que não é coerente com os trabalhos executados religiosamente neste empreendimento é fazer dele um simples e prosaico negócio terreno como se fosse possível negociar a benção de Deus. A multiplicação das Igrejas ou Templos deve-se, sobretudo às dissidências de parte de suas lideranças, onde as iniciativas individuais parecem estabelecer feudos com comandos autoritários. São pequenas igrejas, mas grandes negócios, sobretudo para quem não tem o propósito de fazer alianças, apenas comercializam a fé.

O propósito criacionista de Deus, no ato respectivo da formação da humanidade, não ocorreu mediante consultas à própria criatura por razões óbvias, mas a seqüência da relação entre Criador e criatura admite “alianças” tal qual a promessa realizada com o patriarca Abraão de transformá-lo numa perene nação, haja vista sua fé.

O inadmissível é considerar que com Deus se “negocie”, troque-se valores ou direitos. O Criador e Pai admite aqueles que Consigo “aliam-se” e, nesta condição de aliados cumpram a sua lei e, ao mesmo tempo, reconhecendo-o como Autor e Consumador da Vida os façam participantes do “grandioso negócio do céu”.

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[1] Docente da Universidade de Franca e do Centro Universitário de Franca – Uni-FACEF.

[2] Docente da Universidade de Franca.


Publicado por: DONALDO DE ASSIS BORGES

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