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Síndrome do Ninho Vazio Nunca Mais

Como lidar com a dificuldade particular em lidar com separação e perdas? Confira!

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

“Olho e sou visto, logo existo!”
Winnicott

“Tudo vale a pena se a alma não é pequena.”
Fernando Pessoa

Vou falar hoje de independência ou morte, de algemas partidas, pois laço jamais é prisão. “Ninho” é uma metáfora linda e poética sobre o lar. Em tese, é o refúgio que ampara, abriga, acolhe, protege, favorece, provê e contém. Dizem até que é o descanso do guerreiro. “Vazio” ressalta o mérito do mesmo em dever cumprido. Deduzo que as aves prontas já se foram, então, missão cumprida. Alçaram voo à aventura de conquistar o encantador, divertido e imenso mundo. Belo e triste. Liberdade. Vida (Ouça como a palavra soa). Assim, são os filhos... Viva! Ufa! Alívio aos pais, finalmente tempo para mim...

Você já viu pássaros voando abraçadinhos? Grudados podem bater asas? Impossível. Crescimento, desenvolvimento e maturidade são intrínsecos à separação, autonomização, individuação e reconhecimento das diferenças. Nossos filhos, cada um em seu tempo e ritmo próprio, amadurecem. Graças a Deus, voam livres rumo ao seu destino. Diz o poeta que eles moram lá na casa do amanhã onde não iremos habitar nem em sonhos. Que bom! Que eles nos superem em tudo. Torço para que construam uma vida significativa e plena em sentido. Vantagem afetiva é que não nos abandonam nunca no bem querer. Diferente dos pássaros nós humanos possuímos vínculos. Sempre que a saudade bate eles retornam barulhentos ao aconchego para trocar novidades. Reabastecem a pilha afetiva e novamente lá se vão. Ainda, há vezes que nos surpreendem e nos brindam em gratidão. Ocasionalmente podem até virem carinhosamente para cuidar, mas sem serem escravos do amor. Ora eventualmente, se necessário, feridos voltam para serem cuidados. Afinal, no ciclo da vida perda implica na sucessão em ganhos. Há sempre troca nas relações e entre as gerações não é diferente. Portanto, ultrapassamos etapas para conquistar degraus evolutivos. Aliás, somos mantidos sempre bem vivos dentro das cavernas das lembranças e da saudade dos que amamos e que nos amam mesmo depois de nossa morte. Sabia que os elos da ligação emocional são invisíveis e muito mais resistentes do que imaginamos? Sobrevivem a nós. Acorda! Distância, ausência e o tempo não destrói a eterna solda do amor.

Agora vamos falar de patologia. “Síndrome”, em medicina, remete à doença. Sinais e sintomas delatam sofrimento. “Síndrome do Ninho Vazio” conta da dor mental de muitos pais, predominantemente mulheres, que não lidam de forma serena com esta fase normal da vida. Pode coincidir o agravo do padecer pela menopausa, aposentadoria e envelhecimento. Desta forma, o ciclo natural da vida, pela exacerbação da angústia de separação, poderá ser vivenciado com sentimentos de intensa nostalgia, tristeza excessiva, abandono, insegurança, esvaziamento, inutilidade, luto, desamparo, desespero e solidão. Existencialmente a pessoa se prende ao leite que ferveu e derramou não se dando conta do que ainda sobrou na leiteira. Afinal, não se atenta que ainda dá pra fazer do resto uma ótima coalhada ou até um saboroso doce de leite. Como toda mudança na vida requer rituais de passagem, flexibilidade e adaptação ao novo.  Isto exige resiliência psíquica. Vemos aqui que a estrutura de personalidade rachou e expôs a vulnerabilidade defensiva do indivíduo. Explico. Freud, em 1926, já dizia que quando a angústia de separação é excessiva, é vivida como um temor trágico de se ver só e abandonado, fonte primeira de dor psíquica e de sentimento de luto. A dinâmica mental não suportou a exigência imposta pelo desconhecido da quebra da rotina e ausência do convívio cotidiano com a pessoa querida desvelando a fragilidade dos alicerces do próprio eu. Assim, é denunciada a dificuldade particular em lidar com separação e perdas. Qual a saída? Abra os olhos do coração. É chegado o tempo de despertar! Necessário é aproveitar mais esta chance que a vida oferece e com determinação agarrar a oportunidade de investir em si mesmo e fazer a sua vida valer a pena. O maior desejo do ser humano é ser compreendido e ninho vazio é sonho de liberdade.

Dicas do Especialista ou Como Enfrentar a Síndrome

  • Crise é sempre oportunidade quando há sintoma psíquico pedindo socorro;
  • Não engesse a vida e não paralise seus filhos, pois o tempo não espera;
  • Prevenção do quadro começa ainda no berço com o aprendizado afetivo da constância do bom e permanência do bem querer;
  • Tenha um romance consigo mesmo: se liga em você!
  • Busque ajuda especializada para organizar e desenvolver sua mente;
  • Agarre a oportunidade de aprender a capacidade de ser e estar só, ou seja, domestique a sua solidão;
  • Construa ou resgate seu projeto de vida em que seja você o único autor e ator da sua própria história (fatos) e estória (colorido que se dá aos fatos);
  • Não tenha medo de vivenciar a descoberta de si mesmo;
  • Redescubra e invista no relacionamento conjugal;
  • Retome e enriqueça o projeto homem e mulher, comum ao casal, e que jamais se resume aos filhos;
  • Apoie, abençoe, orgulhe-se e deslumbre-se com o avanço e êxito de seus rebentos;
  • Resgate seus sonhos e saboreie todo o prazer e a liberdade do novo tempo arduamente conquistado;
  • Priorize vida de qualidade, que é fazer o que você particularmente prefere e gosta (é muito diferente de “qualidade de vida” que segue protocolos universais);
  • Exercite o corpo, a mente, a criatividade e o espírito: trabalhe, faça atividades físicas, esportes, arte, lazer, cultura (cante, dance, pesque, adote um animal, festeje, brinque com as crianças, leia, assista, conecte, viaje, ore, cultue sua fé, pinte, borde, faça jardinagem, saboreie a culinária, celebre com os amigos, conheça seus vizinhos, confraternize com a rede de parentesco mais ampla, faça cursos, participe de grupos de apoio, converse com os jovens que são revigorantes, troque experiências com os mais velhos, pratique o ócio produtivo, politize, exerça cidadania, comprometa-se com uma boa causa, etc.);
  • Jamais se esqueça: “o que conta na vida não é o que fizeram com a gente, mas o que a gente faz com o que nos fizeram”;
  • Generosamente seja voluntário, mas somente e após priorizar o que é seu, isto é, se ainda sobrar tempo e disponibilidade afetiva se doe ao outro;
  • Lembre-se, acima de tudo, “Quem ama liberta”;
  • Urgente, faça amor com a vida;
  • E, finalmente, desejo que seja sábio: - Viva e deixe viver!!!

“O que significa ‘cativar’?
É uma coisa muito esquecida, diz a raposa.
Significa ‘criar laços...’ 

... Só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível para os olhos”
Antoine de  Saint.Exupéry

Eliane Pereira Lima
Psicóloga - Psicanalista

CRP 06/43457-
Crianças - adolescentes – adultos


Publicado por: Eliane Pereira Lima

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