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Mercador de Sonhos

Clique e conheça a história do escritor que já vendeu picolé!

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Quando eu era menino na cidadezinha de Parintins, a coisa mais incrível para uma criança pobre de 10 (dez) anos de idade era vender picolé do Brasa Bar.

Todos os moleques queriam pegar uma bolsa de isopor para vender no cais do porto. Era o máximo. O primeiro passo para a vida adulta de trabalhador.

O cais era o local preferido dos vendedores de queijo e sonhos (espécie de doce). Os melhores vendedores pegavam os carrinhos e andavam por toda cidade vendendo picolés dos mais diversos sabores. Tinha de doce de leite, farinha de tapioca, cupuaçú, açaí, graviola, côco, coalhada, abacate, morango e muitos outros sabores.

Depois de muito tentar consegui pegar uma bolsa com 40 (quarenta) unidades. Dirigi-me alegre até o cais do porto e lá fiquei esperando os barcos chegarem de todos os cantos e recantos do norte do Brasil.

Quando um barco chegava a muvuca era geral.

Gente entrando e saindo.

Gente gritando, vendedor de queijo e sonho se pendurando, fazendo verdadeiros malabarismos para vender seus produtos.

Alguns vendedores subiam em pequenas canoas e de lá ofereciam seus produtos antes mesmo do barco fazer a atracação.

Na minha primeira bolsa cheia só vendi cinco picolés. Fui um fracasso.

Eu não conseguia ter a dinâmica de meus companheiros, era muito parado para aquele serviço que exigia muita astúcia e sagacidade.

Antes dos picolés derreterem, fui devolvê-los ao dono do bar.

Obviamente, fui dispensado.

O dono ainda me deu uma gorjeta de caridade.

Fiquei triste, mas percebi que aquilo não era para mim.

Com a gorjeta que ganhei fui até a banca de revistas que ficava perto do mercado municipal.

Aquele era para mim o melhor lugar da cidade que existia.

Eu adorava ver as capas dos gibis do Zé Carioca, Tio Patinhas, Conan, Hulk, Homem-Aranha, Tex, Super-man, Capitão América, e outros. E pela primeira vez na vida eu tinha dinheiro para levar uma daquelas maravilhas da Disney e da Marvel Comics.

Foi graças a essa experiência fracassada que comecei a colecionar gibis e, mais importante ainda, a gostar de ler.

Se isso não tivesse acontecido na minha vida, ninguém leria essa história que chegou ao fim.

*Geone Angioli é especialista em Literatura Brasileira e professor do Instituto Federal  de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - Campus/Parintins.


Publicado por: GEONE ANGIOLI FERREIRA

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