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As disputas religiosas na Irlanda

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Atualmente, o chamado Reino Unido é uma união política e territorial que abrange a Inglaterra, a Escócia, o País de Gales e a Irlanda do Norte. Na verdade, apesar do termo “unido”, que subentende uma relação pacífica entre as quatro nações envolvidas, na prática, principalmente na Irlanda, não é o que tem acontecido através dos tempos.

Localizada à oeste da Inglaterra, a Irlanda passou a ter interferência política externa a partir de 1175. Neste ano, o monarca Henrique II, da Inglaterra, conquistou a região, determinando que a partir daquele momento a Irlanda ficaria sujeito às leis inglesas.

Quando em 1534, no contexto da Reforma Protestante, Henrique VIII rompe-se com a Igreja Católica e funda a Igreja Anglicana, a Irlanda, que era de maioria católica, viu-se obrigada a adotar a mesma “religião” da Inglaterra: o Anglicanismo.

Apesar da imposição dos Henriques, é importante destacar que não é a questão religiosa, o maior problema entre Irlanda e Inglaterra e sim, a questão política, territorial e nacionalista dos irlandeses.

A religião apenas foi incorporada ao conflito já existente. Assim, manter a religião católica passou a ser encarado como uma forma de protesto contra os ingleses. O que é perfeitamente compreensível se entendermos que naquela época a religião era ligada ao estado, sendo muitas vezes utilizada como forma de garantir o poder. [1]

No século XVII a Inglaterra passa por várias transformações sociais e políticas. E o protestantismo implantado na região desde meados do século anterior, coopera para o surgimento de muitas contendas religiosas que dividem a sociedade britânica. Em 1603, por exemplo, a dinastia Stuart, na pessoa de Jaime I, chega ao trono inglês. Este reina sobre a chamada “União das Três Coroas” (Inglaterra, Escócia e Irlanda), por um período de 22 anos, até sua morte, mas não consegue apoio do Parlamento. Após sua morte, em 1625, seu filho Carlos I assume o poder, dissolve o parlamento e tenta impor a religião anglicana aos presbiterianos escoceses.

Apesar de no campo religioso, os Stuart enfatizarem as diretrizes católicas e privilegiarem os súditos católicos, a disputa religiosa não acontecia apenas entre Anglicanos e Católicos, mas também entre Anglicanos e Puritanos, ou seja, entre os próprios protestantes. Veja abaixo, um pouco sobre os puritanos.

Na organização da Igreja da Inglaterra a ideia predominante era não introduzir outras modificações além das requeridas pelas ideias fundamentais do protestantismo (…) A Reforma inglesa foi desse modo, conservadora, guardando o velho sistema de governo da igreja e muitas das antigas formas de culto.

Mas havia um partido muito forte na Inglaterra profundamente desejoso de alcançar mudanças mais radicais. Muitos dos seus membros (…) foram apelidados de ‘puritanos’ (e) pretendiam que se introduzisse uma estrita disciplina na igreja da Inglaterra para libertá-la de clérigos e leigos indignos. Eles próprios eram homens de moral severa, muito firmes em suas convicções e grandes estudiosos da Bíblia. Na teologia, seguiam a Calvino.

(…) Os puritanos não pretendiam abandonar a igreja do seu país e, de fato, não podiam fazê-lo, visto como a lei exigia que todas as pessoas assistissem ao culto da igreja nacional (Anglicana) (…) Desejavam era remodelar a igreja segundo as suas ideias.

(…) O ‘Grande Parlamento’, que se reuniu em 1640, representou a Inglaterra daquela época, com uma maioria decididamente puritana. Desse modo tiveram eles, afinal, a oportunidade de remodelar a igreja inglesa como desejavam. [2]

Liderada por Oliver Cromwell, a Revolução Puritana serviu para por fim à monarquia inglesa e proclamar um governo republicano. Oliver Cromwell foi aclamado presidente do novo Conselho de Estado, conhecido como Commonwealth (Comunidade de Nações ou Governo de Cromwell). Acumulando poderes políticos em mãos, Cromwell não atendeu às exigências do exército que o colocou no poder, e implementou uma ditadura que excluiu os populares das instituições políticas.

A ditadura puritana de Cromwell não acabou com a revolta e descontentamento dos irlandeses, de modo que mais de um século depois, em 1798, surge um grupo secreto conhecido como “Irlandeses Unidos”, que luta contra a interferência dos ingleses em sua região.

O impasse entre uma parte da população da Irlanda, de maioria católica, e outra parte, de maioria protestante, fez surgir um movimento conhecido como “Sinn Féin” (Nós Sozinhos), em 1905, que depois, de eleição de maioria irlandesa ao Parlamento britânico em 1918, criou as condições para que acontecesse a independência da Irlanda, e reconhecida pela Inglaterra, em 1921. Com isto, a região do Ulster (Norte), de maioria protestante, aceitou e continuou como parte do Reino Unido.

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Fonte: Wikipedia [3]

Por que as rivalidades religiosas ainda continuam na Irlanda?

Juntamente com a luta do “Sinn Féin”, surgiu também um grupo político radical, paramilitar católico e reintegralista, conhecido como IRA ou Exército Republicano Irlandês, responsável por uma série de atentados aos protestantes da região de Ulster (Irlanda do Norte).

No início da década de 1920, o IRA aparece com suas ações terroristas que reivindicavam o completo fim da interferência britânica e a unificação completa de seu território. Por outro lado, os protestantes de origem britânica que ocupavam a região Norte repudiavam tal intento, já que temiam a represália dos católicos que dominavam o Sul. Dessa forma, a questão irlandesa passou a se desdobrar em um conflito político, contra os ingleses, e religioso, voltado contra os irlandeses do Norte. [4]

O problema, agora, após a separação das regiões Norte e Sul (1921), não é tanto territorial, uma região contra a outra, e sim, questões, principalmente civis e religiosas, dentro do próprio território de Ulster, ou Irlanda do Norte, como ficou conhecida. Nesta região, os católicos (minoria) lutam por igualdade civil e política contra os protestantes (maioria).

Um artigo da Folha de São Paulo, de 05 de outubro de 2002, sob o título “Guerra civil entre católicos e protestantes na Irlanda já dura 34 anos”, enfatiza a continuidade das disputas religiosas entre católicos e protestantes. Neste caso, especifico, apenas na região de Ulster, houve 5 pessoas (católicos) mortos e 120 pessoas feridas. Os 34 anos destacados no título acima tem como base os anos de 1968 a 2002.

A minoria católica do norte foi discriminada e nas eleições sempre ficou em desvantagem. No final dos anos 60, promoveu uma manifestação pacífica para chamar a atenção sobre seus problemas. O auge do movimento foi em 1968, quando aconteceu a imensa manifestação de 5 de outubro no centro do bairro de Derry. A repressão policial foi seguida pela constituição de milícias protestantes armadas, comandas pelo líder protestante radical Ian Paisley, que realizaram sangrentos ataques aos bairros católicos. [5]

Esses conflitos exigiram a interferência do Reino Unido, cujas tropas – cerca de 22 mil soldados – ocuparam a região. Mas estas tropas também cometeram excessos, matando 13 pessoas que faziam manifestações em 30 de janeiro de 1972, no conhecido “Domingo Sangrento”.

No mesmo ano, 1972, foi realizado um referendo para saber se a população de Ulster queria sua independência. A maioria, constituída de protestantes, preferiu sua permanência ao Reino Unido.

A violência continuou nos anos 70, milhares de ativistas católicos foram enviados para o campo de prisioneiros e o IRA praticamente desapareceu. Militantes do IRA, presos em 1981, fizeram greves de fome, alguns até por mais de dois meses sem comer. Um deles, Bobby Sands, tornou-se símbolo e mártir da luta católica contra os protestantes. Depois disto, morreu outro, mais outro… No total, 10 presos morreram na prisão. Bem, entre “… os anos de 1969 a 1982, a disputa causou mais de 2.000 mortes, na maioria de civis.” (FSP, 05/10/2002)

Os atentados continuaram nos anos 90, sempre exigindo a intervenção do Reino Unido, procurando várias tentativas de paz. Mas o IRA voltou a negociar depois de um controle imposto pelo Reino Unido aos protestantes da região.

Em Belfast, capital da Irlanda do Norte, atualmente, os católicos, representados, pelo inativo IRA, e agora, Partido Sinn Fein, são conhecidos como nacionalistas, e os protestantes, representados pelo Partido Unionista, frequentemente são chamados de leais – ou unionistas. Ao que parece, estes dois segmentos políticos estão conseguindo manter a paz entre eles (católicos e protestantes), pelo menos, por enquanto, principalmente após o chamado Acordo da Sexta-Feira Santa, de 10 de abril de 1998 e, da consequente formação do Parlamento de Belfast, que procura cuidar dos interesses de todos os habitantes do país.

Hoje, portanto, a Irlanda do Norte

- está ligada ao Reino Unido, enquanto a Irlanda do Sul constitui um país independente.

- é composta por maioria protestante, cerca de 55%, contra 35% de católicos, e outros, 10% da população.

- tem como capital, a cidade de Belfast, enquanto a Irlanda do Sul, a cidade de Dublin.

- tem certa autonomia na definição de leis próprias, diferente do que acontece em Londres (Inglaterra).

- constitui cerca de 17% do território da ilha da Irlanda, enquanto 83% pertencem à Irlanda do Sul.

Resumo/Cronologia:

  • 1175 – Henrique II, da Inglaterra, conquistou a região da Irlanda.

  • 1534 – Henrique VIII funda a Igreja Anglicana, que vigoraria também na Irlanda.

  • 1603 – Jaime I impõe seu reino as União das Três Coroas, incluindo a Irlanda…

  • 1640 – O Parlamento inglês é dominado por puritanos (calvinistas), liderados por Oliver Cromwell.

  • 1798 – Surge um grupo secreto conhecido como “Irlandeses Unidos”, que começa a luta pela não interferência dos ingleses em sua região.

  • 1905 – Surge o movimento conhecido como “Sinn Féin” (Nós Sozinhos), para proclamar sua independência, mas a região norte (Ulster) não tem interesse.

  • 1921 – A Irlanda do Sul consegue sua independência e a Irlanda do Norte prefere continuar ligada ao Reino Unido.

  • 1968 – Grande manifestação de católicos: 5 mortos e 120 feridos, além de sangrentos ataques por parte de radicais protestantes.

  • 1972 – 13 católicos mortos, no chamado “Domingo Sangrento” (30 de janeiro).

  • 1981 – Morte de Bobby Sands, (mártir e símbolo de luta) mais 9 pessoas, em greve de fome.

  • 1998 – Acordo da Sexta-Feira Santa, criação do Parlamento de Belfast e tentativa de pacificação.

Notas / Bibliografia:

[1]  FARIA, Caroline. Disponível em: http://www.infoescola.com/historia/a-questao-da-irlanda/. Acesso em 17/07/2013.

[2]  NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã, 6ª ed. São Paulo: Casa Ed. Presbite-riana, 1985. Pág. 178 a 180.

[3]  Mapa da Irlanda. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_na_Irlanda_do_Norte. Acesso em 17/07/2013.

[4]  SOUSA. Rainer. A Questão da Irlanda. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-questao-irlanda.htm. Acesso em 17/07/2013.

[5]  FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u46064.shtml. Acesso em 18/07/2013.

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Sites relacionados:

  • https://brasilescola.uol.com.br/geografia/reino-unido.htm.
  • http://alcidesbarbosadeamorim.com.br/?p=308.
  • http://pt.wikipedia.org/wiki/Irlanda_do_Norte.
  • http://www.infoescola.com/historia/a-questao-da-irlanda/.
  • http://www.coladaweb.com/historia/reforma-anglicana.
  • https://brasilescola.uol.com.br/busca/?q=Revolu%E7%E3o+Puritana&x=0&y=0.
  • https://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-questao-irlanda.htm.
  • https://brasilescola.uol.com.br/historiag/revolucao-inglesa.htm
  • http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u46064.shtml.
  • http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-e-a-causa-do-conflito-entre-catolicos-e-protestantes-na-irlanda-do-norte.

Publicado por: Alcides Barbosa de Amorim

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