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A ESCOLA DE ANNALES: SEGUNDA GERAÇÃO: FERNAND BRAUDEL

A Segunda Geração da Escola dos Annales e seu maior representante Fernand Braudel, suas teses e a sua grande importância para o movimento.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

RESUMO

Iremos neste trabalho apresentar a Segunda Geração da Escola dos Annales e seu maior representante Fernand Braudel, suas teses e a sua grande importância para esse movimento historiográfico que nasceu na França. Iremos também mencionar as três fases da Escola dos Annales e seus representantes, embora um quadro de debates críticos no limiar dos anos 80 comece a indicar uma quarta fase. Nosso trabalho utilizou-se de pesquisa em livros, revistas e internet.

Palavras-Chave: Annales. Segunda Geração. Braudel.

1 INTRODUÇÃO

Queremos no decorrer do nosso trabalho, mostrar como surgiu a Escola dos Annales, daremos uma pequena explanação sobre a Primeira e Terceira Geração.  

Num segundo momento iremos falar sobre o foco do nosso trabalho que é a Segunda Geração dos Annales, quais as suas críticas e percepções de tempo histórico, como colaborou para a formação de novos conceitos sobre história.

E por fim iremos falar do principal representante da Segunda Geração dos Annales: Fernand Braudel, considerado por muitos historiadores como um líder carismático, hábil executivo e um intelectual brilhante, falaremos sobre sua formação, suas ideias, suas teses as mudanças que marcaram essa segunda fase dos Annales, e do conceito de longa duração que se transformou em modelo seguido por novos historiadores.

2 A TRADIÇÃO DOS ANNALES

Conforme Santos, Fochi e Silva (2012), dos encontros aos sábados entre vários docentes da Universidade de Estrasburgo, surgiram os Annales.

Os Annales surgiram de encontros aos sábados entre filósofos, sociólogos, historiadores, geógrafos, juristas e matemáticos docentes da Universidade de Estrasburgo, cidade a nordeste da França, região da Alsácia, que buscavam refletir sobre temas de filosofia e orientalismo, história das religiões e história social. (SANTOS; FOCHI; SILVA, 2012, p. 91).

Segundo Junior (2006), “A Escola dos Annales foi um movimento historiográfico surgido na França, durante a primeira metade do século XX”. (JUNIOR, 2006, grifos do autor).

Para Junior (2006),

Desde o século XVIII, quando a História passou a ser notada como ciência, os métodos de se escrever e pensar sobre História conquistaram grande evolução. A historiografia passou por grandes modificações metodológicas que permitiram maior conhecimento do cotidiano do passado, através da incorporação de novos tipos de fontes de pesquisa. Ainda assim, no início do século XX, questionava-se muito sobre uma historiografia baseada em instituições e nas elites, a qual dava muita relevância a fatos e datas, de uma forma positivista, sem aprofundar grandes análises de estrutura e conjuntura. (JUNIOR, 2006).

Conforme Santos, Fochi e Silva (2012), os colaboradores dos Annales queriam ir além dos textos.

Os colaboradores dos Annales assumiram o esforço de ampliar as fontes e os métodos, ir além dos textos; incluir estatísticas, referências da linguística, da psicologia da numismática, da arqueologia, demostrar interesse pela natureza, pela paisagem, pela população, demografia, pelas relações de troca, pelos costumes, rejeitar o factual em benefício da abordagem e compreensão da longa duração (SANTOS; FOCHI; SILVA. 2012. p. 92).

De acordo com Porto (2010), a Escola dos Annales foi uma reação ao historicismo.

A Escola dos Annales foi a grande reação ao historicismo e de grande difusão internacional no campo da historiografia. Nos estudos sobre a escola dos Annales (a revista e a difusão de sua historiografia por outros meios) sua trajetória está estabelecida em três gerações, embora um quadro de debates críticos no limiar dos anos 80 comece a indicar uma quarta fase. (PORTO 2010, p.133, grifos do autor)

Sobra a Primeira Geração da Escola dos Annales, Porto (2010), nos esclarece que:

A primeira geração, liderada por Marc Bloch e lucien Febvre, compreende o período entre 1929 e 1946. É marcada por alianças entre história, economia, sociologia, geografia e demografia, pelos conceitos de compreensão, história-problema, história global e pelo trabalho de superação dos princípios que regiam a história tradicional como a história política e a história dos eventos. Entre os anos 30 e 50 o domínio mais inovador da historiografia era justamente a história das economias, das populações e das sociedades e a história das mentalidades remete a esta tradição. (PORTO, 2010 p. 133).

Conforme Porto (2010), a Segunda Geração, constitui-se como escola ao entrar em conceitos e métodos definidos.

A segunda geração, dirigida por Fernand Braudel, compreende o período entre 1946 e 1968 e é marcada pelo tema das civilizações e temas demográficos. Constitui-se como escola, ao aportar conceitos (estrutura e conjuntura) e métodos (história serial das mudanças na longa duração) definidos. O estudo das utensilagens mentais (ou psicologia histórica dos anos 30), ao lado de fontes massivas, representativas e temporalmente comparáveis e com certa regularidade, os leva a utilizar os conceitos de regularidades, quantificação, séries, técnicas, abordagem estrutural, tendo como centro de um projeto intelectual oferecer certa dinâmica às estruturas trabalhadas pelas ciências sociais e ainda tentar articular a longa duração como acontecimento. (PORTO, 2010, p. 133, grifos do autor).

A Terceira Geração, para Porto (2010), diferente das demais gerações, não apresentou nenhuma marca pessoal.

A terceira geração se constitui a partir de 1968 e foi dirigida por vários pesquisadores, não apresentando assim uma marca pessoal, tal como nas anteriores fases. Uma de suas formas mais visíveis foi como história das mentalidades, que terá seduzido uma geração com seus acenos de profundezas: a ‘reconstituição de comportamentos, expressões e silêncios que traduzem as concepções do mundo e as sensibilidades coletivas, as representações e imagens (da natureza, da vida e das relações humanas, deus), mitos e valores, todos parte de uma psicologia coletiva’. (PORTO, 2010, p. 134, grifos do autor).

De acordo com Junior (2006), as influências deixadas pela Escola dos Annales são sentidas até os dias de hoje.

Escola dos Annales deixou sua marca bem notável da historiografia desde então e continua existindo até hoje. Desde seu surgimento, passou por quatro fases e teve grandes nomes como representantes de cada uma. A primeira delas, a fase de fundação, é identificada por seus criadores Marc Bloch e Lucien Febvre. A segunda fase, já em torno de 1950, é caracterizada pela direção e marcante produção de Fernand Braudel. A partir da terceira geração a Escola dos Annales passou a receber uma identificação mais plural, na qual destacaram-se vários pesquisadores como Jacques Le Goff e Pierre Nora. A quarta geração da Escola dos Annales é referente a um período que se inicia em 1989, neste momento há um desenvolvimento notório da História Cultural e os grandes nomes que a representam são, por exemplo, Georges Duby e Jacques Revel. (JUNIOR, 2006, grifos do autor).

3 A SEGUNDA GERAÇÃO DOS ANNALES

Segundo Santos, Fochi e Silva (2012).

A segunda geração dos Annales dedicou-se a criticar a percepção de tempo histórico que privilegiava o indivíduo e o acontecimento (protestos, nascimento, morte, ato de casamento, formatura), que por sua vez foi entendido como explosivo, ruidoso, nada mais que fogo de palha, e que se caracterizaria por promover uma narração dramática, precipitada e de pouco fôlego. (SANTOS; FOCHI; SILVA. 2012. p. 95 e 96).

De acordo com Santos, Fochi e Silva (2012).

A revista, a partir da segunda geração do Annales, sofre mudanças de nomenclatura e é intitulada de Annales: Économies, Societés, Civilisations (Anais: Economia, Sociedade e Civilização); que ficou sob a direção de Fernand Braudel (1902-1985), que se esforçou em levar adiante os projetos da geração anterior dos Annales e contou com a colaboração dos estudiosos Ernest Labrousse (1895-1988); Pierre Goubert (1915-2012); Georges Duby 1919- 1996); Pierre Chaunu (1923- 2009) e Robert Mandrou (1921-1984). (SANTOS; FOCHI; SILVA. 2012. p. 95, grifos do autor).

Conforme relatos dos autores Santos, Fochi e Silva (2012), a Segunda Geração dos Annales priorizava a longa duração, lançou mão de conceitos e partiu rumo a totalidade do social.

Foi o momento em que os estudiosos lançam mão de conceitos, abordagens e métodos oriundos da demografia, etnologia, história regional, geografia, relações sociais, ciência política; visavam recuperar a globalidade dos fenômenos humanos, numa perspectiva de movimento rumo à totalidade do social.
Compreendiam que existia uma relação de reciprocidade e de pertencimento entre as esferas da economia, da política, da cultura e da sociedade (a cultura é economia, política, sociedade); se utilizavam de tabulações e programas de computadores, consolidava-se assim o método comparativo, que versou sobre o tempo mais longo e maiores extensões de espaço, ou seja, preconizavam a longa duração. (SANTOS; FOCHI; SILVA. 2012. p. 97, grifos do autor).

Para Oliveira e Casimiro (2007), Fernand Braudel foi o sucessor de Febvre e ele, acreditava que todas as estruturas estão sujeitas a mudanças mesmo que num processo lento.

A segunda geração dos Annales foi protagonizada por Fernand Braudel que sucedeu Febvre como diretor efetivo da revista. Para Braudel, a contribuição especial do historiador às ciências sociais é a consciência de que todas as ‘estruturas’ estão sujeitas a mudanças, mesmo que lentas. Ele desejava ver as coisas em sua inteireza, por isso era impaciente com fronteiras, separassem elas regiões ou ciências. Quando prisioneiro, durante a Segunda Guerra, Braudel teve a oportunidade de escrever sua tese. Seus rascunhos eram remetidos para Febvre, de quem recebeu forte influência que o direcionaram para a geo-história. A obra com o título o Mediterrâneo e Felipe II, de grande dimensão, era dividida em três partes, cada uma exemplificando uma diferente forma de abordagem do passado: primeiro, uma história ‘quase sem tempo’ da relação entre o ‘homem’ e o ambiente; segundo, a história mutante da estrutura econômica, social e política e, terceiro, a trepidante história dos acontecimentos (a parte mais tradicional), corresponderia à idéia[sic] original de uma tese sobre a política exterior de Felipe II. (OLIVEIRA; CASIMIRO, 2007, grifos do autor).

Conforme Burk (1991).

Os Annales começaram como uma revista de seita herética. ‘É necessário ser herético’, declarou Febvre em sua aula inaugural, Oportet haereses esse (Febvre, 1953, p.16). Depois da guerra, con [sic] tudo, a revista transformou-se no órgão oficial de uma igreja ortodoxa. Sob a liderança de Febvre os revolucionários intelectuais souberam conquistar o establishment histórico francês. O herdeiro desse poder seria Fernand Braudel. (BURK, 1991, p. 30, grifos do autor)

4 FERNAND BRAUDEL

O autor Junior (2006), nos relata um pouco sobre a vida de Fernand Braudel.

Nascido em Luméville-em-Ornois no dia 24 de agosto de 1902, o francês Fernand Braudel se formou em História pela importante Universidade de Sorbonne. Sua carreira profissional teve início no continente africano, quando se mudou para Argélia e por lá residiu durante dez anos. A partir de 1933, integrou o grupo de intelectuais franceses que colaborou na organização da Universidade de São Paulo, na qual exerceu o cargo de Professor entre os anos de 1935 e 1937. Voltou à Europa ao ser nomeado para a seção de ciências da École Pratique des Hautes Études, na cidade de Paris. Acompanhou de perto a crescente tensão antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Iniciada esta, foi mantido preso durante longos anos e, mesmo impossibilitado de ter acesso a qualquer obra, escreveu sua mais célebre tese. Utilizando apenas suas memórias para fazer as referências. Com uma grande intensidade na escrita, redigiu todo o texto em apenas um ano, sendo que a obra completa foi publicada em três volumes. (JUNIOR, 2006, grifos do autor).

Segundo Burk (1991), Braudel lecionava história em uma escola da Argélia, quando ao Annales foram criados.

Quando os Annales foram criados em 1929, Braudel contava com seus vinte e sete anos, lecionava história em uma escola da Argélia e trabalhava em sua tese, que se iniciara como um ensaio de historia diplomático, de caráter convencional, entretanto ambiciosa. Fora projetada originalmente como um estudo sobre Felipe II e o Mediterrâneo, ou em outras palavras uma analise da política externa do soberano. Braudel durante quase dez anos (1923-1932), lecionou na Argélia, experiência que na qual lhe permitiu abrir os horizontes. Sendo seu primeiro importante artigo publicado durante esse período, tinha por tema as presenças dos espanhóis ao Norte da África, no século XVI (BURK, 1991, p. 31, grifos do autor.).

Conforme Burk (1991) era normal que enquanto escreviam suas teses, os historiadores lecionassem em escolas.

Durante seu longo período de gestação, a tese ampliou consideravelmente seu objetivo. Era e é normal para os historiadores acadêmicos franceses lecionarem em escolas enquanto escrevem suas teses. Lucien Febvre, por exemplo, ensinou brevemente em Besançon; Braudel, durante dez anos, 1923-32, lecionou na Argélia, experiência que lhe permitiu ampliar seus horizontes.
Seu primeiro artigo importante, publicado nesse período, tinha por tema a presença dos espanhóis no Norte da África, no século XVI. Esse estudo, cujas dimensões são a de um pequeno livro, merece ser resgatado de seu imerecido esquecimento. Era, ao mesmo tempo, uma crítica a seus predecessores no tema pela ênfase que haviam atribuído aos grandes homens e às batalhas; uma discussão sobre a ‘vida diária’ das guarnições espanholas; e também uma demonstração da estreita relação, embora invertida, entre a história africana e europeia[sic], [...].
A pesquisa foi interrompida quando Braudel foi contratado para lecionar na Universidade de São Paulo, 1935-1937, período definido por ele, mais tarde, como o mais feliz de sua vida. Foi no retorno de sua viagem ao Brasil que Braudel conheceu Lucien Febvre, que o adotou como um filho intelectual. [...]. (BURK, 1991, p. 31, grifos do autor).

Conforme nos relata Barros (2012).

Braudel além de ser um grande líder para os Annales entre 1956 e 1969, ofereceu a mais brilhante contribuição historiográfica do período. Os Annales da segunda geração se beneficiaram com um líder carismático, um hábil executivo e um intelectual brilhante. Stoianovich, um dos mais reconhecidos historiados do movimento, considera Braudel como o verdadeiro fundador do que se poderia chamar de ‘paradigmas dos Annales’, onde o conceito de longa duração adquire sua forma mais bem acabada [sic], para transformar-se em um modelo que seria seguido por novos historiadores, seja ela nas monografias regionais, ou seja, nos trabalhos de recorte mais amplo. (BARROS, 2012, p.4 grifos do autor).

Junior (2006) nos relata, que a principal obra foi de Braudel foi, O Mediterrâneo, “Fernand Braudel publicou várias obras importantes, mas a de maior destaque, incomparavelmente, foi justamente a que escreveu completamente de cabeça durante os anos em que esteve preso nos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial. ” (JUNIOR, 2006).

Santos, Fochi e Silva (2012) “Entre as principais obras de Braudel encontra-se ‘Civilização e impérios do Mediterrâneo na época de Felipe II’ (1949), ‘O mundo atual’ (1963), ‘Escritos sobre a história’ (1969), ‘O Mediterrâneo’ (1985). ” (SANTOS; FOCHI; SILVA, 2012, p. 97, grifos do autor).

De acordo com Burk (1991).

Com o advento da Segunda Guerra Mundial, Braudel teve, por mais irônico que possa parecer, a oportunidade de escrever sua tese. Permaneceu quase todos os anos de guerra como prisioneiro num campo perto de Lübeck. Sua prodigiosa memória compensou em parte a impossibilidade de recorrer às bibliotecas, tendo rascunhado O Mediterrâneo em cadernos escolares comuns e os remetia a Febvre, para lhe serem devolvidos ao final da guerra. [...]
O Mediterrâneo é um livro de grandes dimensões, mesmo que consideremos os padrões da tradicional tese de doutoramento francesa. Sua edição original continha aproximadamente 600000 palavras, o que perfaz seis vezes o tamanho de um livro comum. Dividido em três partes, cada uma das quais – como o prefácio esclarece – exemplifica uma abordagem diferente do passado. Primeiramente, há a história ‘quase sem tempo’ da relação entre o ‘homem’ e o ambiente; surge então, gradativamente, a história mutante da estrutura econômica, social e política e, finalmente, a trepidante história dos acontecimentos.
A parte mais tradicional, a terceira, parece corresponder à idéia [sic] original de Braudel de uma tese sobre a política exterior de Felipe II. Ele oferece aos seus leitores um trabalho altamente profissional de história política e militar. Traça breves, mas incisivos esboços do caráter dos atores principais da cena histórica, do Duque de Alba, ‘esse falso grande homem’, ‘de mente estreita e curta visão política’, ao seu senhor Felipe II, lento, ‘solitário e discreto’, cauteloso e perseverante, um homem que ‘via sua tarefa como a sucessão infindável de pequenos detalhes’, mas ao qual faltava uma visão do todo. São descritos com vagar a batalha de Lepanto, o cerco e a libertação de Malta, e as negociações de paz do final da década de 1570. (BURK, 1991, p. 32, grifos do autor)

Ainda conforme Junior (2006).

A obra O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo à Época de Felipe II foi sua tese defendida em 1947 e publicada dois anos depois, em três volumes. Foi a obra que introduziu também seus novos e inovadores métodos historiográficos. Nela, o personagem central não é o rei espanhol Felipe II, mas o mundo mediterrâneo. Após orientações de seu mestre Lucien Febvre, fundador da Revista dos Annales, Fernand Braudel mudou a perspectiva do tema político para uma análise do mundo mediterrâneo com aspectos mais amplos, como a economia da região. (JUNIOR, 2006, grifos do autor)

Segundo Cracco (2009), podemos afirmar que Braudel, em sua tese O Mediterrâneo,

Faz uso do que convencionou-se chamar de estruturalismo, ainda que não inteiramente, mas trazendo para o campo da história os avanços que esta proposta atingiu em outras disciplinas vizinhas. Portanto, podemos dizer que Braudel criou, ou ao menos foi um dos mais importantes utilizadores, um estruturalismo histórico, uma espécie nova de estruturalismo, contrariando com isso a pecha de que o estruturalismo seria a histórico. (CRACCO, 2009 p. 93).

De acordo com Junior (2006),

Após defender sua tese escrita enquanto estava no campo de concentração, tornou-se Professor do Collège de France, em 1949, e assumiu simultaneamente a função de diretor do Centre de Recherches Historique da École des Hautes Études. Foi também administrador da Maison de Sciences de l’Homme e diretor da Revista dos Annales. Fernand Braudel se destacou como importante membro da chamada Escola dos Annales introduzindo significativas mudanças nos métodos historiográficos tradicionais. (JUNIOR, 2006, grifos do autor).

Conforme Santos, Fochi e Silva (2012).

Braudel propôs teorizações fundamentais quanto à percepção temporal e cronológica da história, propondo uma tripartição que estabelecia o factual, como sendo o que possui curta duração, e que ocorre a experiências de indivíduos, insurreições, levantes; conjuntural cíclico, fatos e fenômenos que transcorrem em média duração; tais como ciclos econômicos, ditaduras, regimes políticos; longa duração: o que praticamente não se percebe mudar, que é imóvel, que é arcado por permanências e continuidades, o tempo da natureza.  Braudel contribuiu muito quando propôs a percepção de três temporalidades históricas, a curta, a média e a longa duração. A percepção de curta duração, o evento, efêmero que se circunscrevia no campo da política do indivíduo; a média duração, a conjuntura, que diz respeito à temporalidade das relações e instituições sociais; longa duração, ou a noção de estrutura, que se refere ao ambiente geográfico, aos ciclos da natureza, e a lentidão dos processos geológicos, pela qual o autor reclamava prioridade. (SANTOS; FOCHI; SILVA. 2012. p. 96, grifos do autor).

De acordo com Cracco (2009).

Em 1958 Braudel, publica na Revista dos Annales o Débats et Combats, que segundo, as páginas do texto são chamadas ao debate, cuja discussão envolve os problemas relativos as durações na historia e nas ciências sociais, logo temos quase quarenta paginas que marca a apresentação teórica-metodologia da longa duração. As considerações sobre a longa duração e a interação que Braudel utilizou na construção de sua tese são segundo ele, o caminho para uma unificação. ‘Portanto as pretensões do texto vão muito além da demonstração das diferentes temporalidades históricas, tendo um teor de programa no qual pretende cumprir a função entre as diferentes ciências do homem, por meio da temporalidade histórica’ (CRACCO, 2009 p. 73, grifos do autor).

Segundo Cracco (2009), Braudel unifica as propostas de temporalidade histórica entre os dois fundadores dos Annales.

Braudel, portanto, executou uma unificação das propostas de temporalidade histórica entre os dois fundadores dos Annales: compartilha da perspectiva temporal de Febvre ao buscar diferentes níveis de observação, do tempo individual ao coletivo estrutural, porém, ao contrário, não partindo do individuo em busca de uma mentalidade coletiva e sim partindo já de estruturas de longa duração para, somente na terceira parte de sua tese, buscar o tempo individual dos acontecimentos e personagens da história. Braudel inverte a perspectiva temporal de Febvre sem subvertê-la. Em relação à Bloch, as propostas de ambos os autores se aproximam mais à primeira vista: ambos focavam em primeiro lugar as estruturas e os movimentos longos ou permanências da história. A diferença e inovação de Braudel é a forma como apresenta o que chamou de cortejo de durações, diferentes tempos históricos, tempos escalonados apresentados numa mesma obra. Braudel faz uso das perspectivas dos fundadores dos Annales, no entanto, levando ao extremo as preocupações relativas à temporalidade histórica. Vale agora apresentar de forma sistemática a perspectiva temporal de Braudel, como apresentada em textos de cunho teórico; as formulações mais diretas sobre a dialética da duração (CRACCO, 2009, p. 56).

Segundo Cracco (2009), Braudel subdividiu sua tese em quatro subitens.

Braudel subdivide sua tese em quatro subitens, cujo primeiro é intitulado Historia e Durações, onde procura definir as três durações que utilizou em sua tese (longa duração, ciclos de média duração e eventos); o segundo subitem é intitulado de A Querela do Tempo Curto, cujo autor disserta sobre a não aceitação das ciências sociais das durações históricas, no qual Braudel vincula a idéia [sic] de que o historiador é privilegiado por manejar o tempo como nenhum outro cientista social; terceiro subitem é chamado de Comunicação e Matemáticas Sociais, no qual afirma não ser mais necessário escrever sobre eventos, longa duração, estrutura e sincronia, declarando ser o momento de escrever sobre os três temas centrais que toca um estudo do tempo longuíssimo: história inconsciente, modelos e matemáticas sociais; o quarto e ultimo subitem é intitulado de Tempo do historiador, tempo do sociólogo, o autor chega a conclusão de que os tempos do historiador  e do sociólogo são diferentes, sendo que para o historiador o tempo se impõe sempre invariavelmente, propondo uma certa dominância da historia sobre as outras ciências (CRACCO, 2009, p. 98 grifos do autor).

Conforme Santos, Fochi e Silva (2012).

Braudel debatia que a História deveria esforçar-se para sintetizar a soma de todas as histórias possíveis, uma espécie de coleção de ofícios e de pontos de vista, de ontem, de hoje e de amanhã; evitar escolher e centrar-se somente em uma dessas histórias, ou em um acontecimento. Não pensar apenas no tempo breve, não acreditar que só os setores, maquinarias que fazem ruído e alarde são os mais autênticos e legítimos, mas também que existem os silenciosos e que são capazes de rombos e desestruturas irreversíveis. Fazendo estas ressalvas, o estudioso combatia por uma história de análises conjunturais. (SANTOS; FOCHI; SILVA, 2012 p. 97).

Conforme Junior (2006),

Fernand Braudel foi fundamental para uma renovação nos métodos historiográficos e, como Historiador, se destacou como um dos maiores intelectuais do século XX. Sua brilhante carreira se encerrou na cidade de Cluses, quando faleceu no dia 27 de novembro de 1985. Mas, ainda assim, outras cinco obras suas foram publicadas após a morte. (JUNIOR, 2006 grifos do autor)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Braudel nos fez entender que se estudarmos a relação entre o homem e o seu meio teremos melhores condições de entendermos a sociedade em que vivemos.

Na tese de Braudel podemos ver sua admiração pela geografia e o seu apreço pela longa duração de tempo.

Braudel desafiava os historiadores a se comunicarem com outras ciências ou áreas de conhecimento, acreditava que os historiadores deveriam ir sempre além, não focar somente na história de ontem, de hoje ou de amanhã, e sim sintetizar toda as histórias possíveis.

A importância de Braudel frente a Segunda Geração dos Annales foi sem dúvida alguma de grande valia, ele mostrou que os historiadores deveriam percorrer distâncias maiores do que estavam acostumados a percorrer, para com isso conseguir atingir as estruturas sociais e econômicas da sociedade.

Acreditamos que Braudel fez da Segunda Geração dos Annales uma das gerações que mais pensou, estimulando os historiadores, a pesquisarem, analisarem, compararem, e não se isolar, mas sim sair de sua zona de conforto.

REFERÊNCIAS

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BURK. Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales 1929-1989 /tradução Nilo Odália. – São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1991. Disponível em: http://edmundomonte.com.br/wp-content/uploads/2015/02/A-Escola-dos-Annales_Burke- Peter.pdf/>. Acessado em 20 de agosto de 2016.

CRACCO. Rodrigo Bianchini. A longa duração e as estruturas temporais em Fernand Braudel: de sua tese O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Felipe II até o artigo História e Ciências Sociais: a longa duração (1949-1958). Assis: 2009. 115 f. Disponível em: http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/93349/cracco_rb_me_assis.pdf?sequence=1/>. Acessado em 18 de agosto de 2016.

FLORES, Elio Chaves. Lições do professor Braudel: o Mediterrâneo, a África e o Atlântico. Revista Afro-Ásia, n. 38, 2008, p. 9-38

JUNIOR, Antônio Gasparetto. Fernand Braudel. 2006. Disponível em: http://www.infoescola.com/biografias/fernand-braudel/>. Acessado em 15 de agosto de 2016.

________________. A Escola dos Annales. 2006. Disponível em: http://www.infoescola.com/historia/escola-dos-annales/>. Acessado em 21 de agosto de 2016.

MOURA, Américo.  Escola dos Annales: 1ª, 2ª, 3ª geração. Historia em Foco, 201-. Disponível em: http://historyfoco.blogspot.com.br/p/escola-dos-annales1-2-3-geracao.html./>. Acessado em 15 de agosto de 2016.

OLIVEIRA. Edileusa Santos; CASIMIRO. Ana Palmira Bittencout. A Escola dos Annales, de Peter Burke. 2007. Disponível em: http://www.passeiweb.com/estudos/livros/a_escola_dos_annales/>. Acessado em 21 de agosto de 2016.

PORTO, Maria Emília Monteiro. Cultura Histórica pós anos 70: entre dois paradigmas. In: CURY, Cláudia Engler; FLORES, Elio Chaves; CORDEIRO JR, Raimundo Barroso. Cultura histórica e historiografia: legados e contribuições do século 20, João Pessoa, editora universitária/UFPB, 2010. p. 131-146.

SANTOS. Paulo Cesar dos; FOCHI. Graciela Márcia; SILVA. Thiago Rodrigo da. Teoria e historiografia. Indaial, SC: UNIASSELVI, 2016. p. 209. ISBN 978-85-7830-952-7

TAFNER, Elizabeth; SILVA, Everaldo da. Metodologia do Trabalho Acadêmico. Indaial, SC: UNIASSELVI, 2012. P. 240. ISBN 978-85-7830-397-6


Publicado por: Fernanda Vach Michel

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