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O mundo da violência e vigilância: A Era Vargas.

O mundo da violência e vigilância: A Era Vargas, o projeto político aceito pós-30, o Estado Novo, a falta de princípios policiais garante a eficácia do poder.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Resenha do livro:
CANCELLI, Elizabeth . O mundo da violência: a polícia na Era Vargas. 02. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1994.

A grande e constante vigilância sob a qual fora colocada a sociedade brasileira durante o período do regime do Estado Novo e de seu presidente, Getúlio Vargas, evidenciando a grandeza e centralização de todo o aparato policial, sendo disponibilizado a favor deste regime, capaz até de eliminar certas categorias da população “sempre passaram despercebidas pela historiografia do Brasil”.

E neste sentido, a busca crítica e minuciosa que vai além da existência da tortura, da repressão, dos crimes do medo (e etc.), de como tudo isso passara a ser acionado pelo Estado em seu exercício pleno do poder.

As certezas de um projeto político popularmente aceito pós-30, funda-se na busca de uma identidade nacional (a brasilidade), de como o indivíduo conformado, e sendo mesmo um espectador na grande maioria das vezes, manipulando-se os seus sentidos; e a brutalidade do totalitarismo e sua impulsão das massas e manutenção do poder.
Para uma investigação e uma pesquisa orientada sob tais aspectos Elizabeth Cancelli em seu livro “O mundo da violência. A polícia da era Vargas”, utiliza de uma gama enorme de documentos oficiais e civis, além de contar com uma escrita muito boa e de um olhar crítico apurado.

Cancelli com isso nos revela e desmistifica o suposto corte temporal que aparenta existir em 1937 quando é decretado o Estado Novo, mostrando que há ao invés disto um desenrolar histórico originado pelo projeto político estadonovista. Estado este que em sua trajetória vai se mostrar ser dual - o institucional e o de prerrogativas.

“A falta de princípios policiais garante a eficácia do poder, a polícia produz e reproduz como o grande agente de instabilidade social”, prende o cidadão fazendo inimigos objetivos para justificar suas medidas repressivas e a centralização que todo esse aparato policial exigia, fazendo só por isso aumentar os preconceitos e a grande hostilidade aos imigrantes e também a seus descendentes, bem como a outras parcelas e estereótipos existentes na sociedade. A polícia modifica a noção de cidadania do cidadão e da sociedade.
E com a utilização de muitos e variados documentos (como já foi dito) a autora consegue mostrar como agia a polícia de Vargas, que com seus inúmeros decreto-lei outorgava e legitimava todo o poder da polícia, sempre subordinada assim a seus mandos e desmandos, esclarecendo também o poder que possuía o chefe de polícia que em muitas vezes detinha mais poderes e liberdades de ação do que ministros e seus devidos ministérios.

“O mundo da violência” possui também além de uma rica bibliografia, alguns exemplos anexos no texto dos documentos utilizados e que fazem menção e ilustram a ação de órgãos relacionados com a repressão que o Estado imprimia, documentos de origem e aprendidos (censurados) pelo Departamento de Ordem Pública e Social (DOPS) e pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), dando-nos assim, uma visão panorâmica de como os braços da repressão se estendiam e de sua complexidade.
Através destes departamentos – todos sempre ligados ao presidente diretamente – se disseminava a figura do líder, “de um ente Todo-Poderoso que passara a ser confundido com toda a sociedade, era o símbolo mais forte da união nacional”, na tentativa de assegurar a sociedade uma identidade, sua homogeneidade.

O Estado Novo pretendia criar o novo homem, o novo cidadão, por isso tais afirmações, da brasilidade, do trabalho supervalorizado e de seus trabalhadores, dos bons costumes e da “correta organização social”, a polícia servia em muitas vezes como um pretexto para assegurar a organização desta nova sociedade, para garantir o seu sucesso e divulgação sem “interpéries indesejáveis”, para não deixar que pessoas que iam “supostamente” contra o regime atrapalhassem ou “sujassem”o que era “certo” sob o seu ponto de vista.
Mas muito mais que isso, a polícia era o braço direito do governo Vargas; ela garantia a manutenção do poder através do terror e da instabilidade gerada, ela era “o elemento que fundamentava o poder de Vargas”, retirando do indivíduo os seus direitos jurídicos e humanos.

Com este estudo minucioso e qualitativo a autora aborda diferentes temas sempre ligados umbilicalmente a população e ao governo, do indivíduo ou grupo ideológico e político com as instituições da repressão. Com esta abordagem Cancelli consegue nos passar e esclarecer muitos pontos obscuros dentro da política estadonovista e seus respectivos órgãos de controle e governo, de como se organizavam e como exerciam suas atividades em prol do regime, e também quais os seus efeitos dentro da sociedade, pois a repressão instalava o medo e o terror entre as pessoas, atingia não só apenas os torturados, os presos e perseguidos, atingia também em uma esfera mais ampla a família – abordagem que Cancelli infelizmente deixa de lado.


Publicado por: Amilson Barbosa Henriques

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.