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França Artártica

É fundada, em 1555, a chamada França Antártica.

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No transcorrer do século XVI, certos estadistas europeus demonstraram-se descontentes com os consecutivos tratados estabelecidos entre Portugal e Espanha, os quais acabavam por lhes excluir da divisão das áreas a serem colonizadas e exploradas, principalmente no que diz respeito ao "Novo Mundo". Francisco I da França, por exemplo, enunciava: “Gostaria de ver a cláusula do testamento de Adão que me afastou da partilha do mundo”. Tal insatisfação ocasionou  sucessivas investidas nas costas "brasileiras", através da ação de corsários e piratas.

Durante o governo geral de Duarte da Costa (1552-1558), o Brasil-colônia sofre uma pesada investida francesa, na região litorânea da atual cidade do Rio de Janeiro. Sob comando do vice-almirante francês Nicolas Villegaignon, uma expedição armada toma a ilha de Serigipe, nas adjacências da Baía de Guanabara, e inicia a edificação de um forte de defesa contra possíveis ataques de tropas portuguesas, desrespeitando o Tratado de Tordesilhas. Desta forma, é fundada, em 1555, a chamada França Antártica.

A principal motivação para a invasão estava relacionada à inserção francesa na exploração das riquezas naturais daquela região, sobretudo no que se refere ao pau-brasil, cuja resina vinha sendo largamente utilizada na Europa para tingir tecidos manufaturados de alto luxo.

Ao mesmo tempo houve também motivações religiosas. Sob pano de fundo da Reforma Protestante no continente europeu, iniciaram-se uma série de lutas religiosas e massacres na França, entre católicos e protestantes, sendo os últimos liderados pelo almirante Garpard de Coligny que, como um dos financiadores deste projeto de invasão, acaba dando nome ao citado forte construído em Seregipe. Assim, os franceses protestantes calvinistas, também chamados de huguenotes, diante do quadro de intolerância religiosa que viam emergir no contexto europeu, sendo duramente perseguidos, foram obrigados a fugir e procurar locais onde pudessem viver e praticar livremente seu culto. Assim, o continente americano  passa a ser visto como uma das boas possibilidades. Contudo, é válido ressaltar que, pelo menos sob o ponto de vista inicial, não se tratava de um projeto missionário protestante, mas antes uma  necessidade imposta a fim de abrigar os protestantes perseguidos.

Nesta empreitada, devido às diferentes motivações que a impulsionaram, participaram tanto católicos quanto protestantes. Em 1556, sentindo um clima favorável para o início da instalação de um processo missionário efetivo, com o objetivo de conversão religiosa dos residentes na colônia, partem de Genebra 14 missionários calvinistas, chegando a ilha no ano de 1557.

Contudo, a vinda destas pessoas passou a deixar enfurecidos os católicos franceses aqui instalados, marcando o início de embates entre fiéis das duas religiões. Os constantes conflitos demandavam uma presente atuação conciliatória de Villegaignon, que se desgastava fisica e mentalmente. O vice-almirante passou a perceber  que os interesses religiosos começaram a se sobrepor aos econômicos, pelos quais tanto fazia zelar. Devido a este fato, no ano de 1558,  Villegaignon resolve voltar à França, deixando o comando da colônia nas mãos de um dos seus sobrinhos, Bois de Le Comte.

Aproveitando-se da ausência de seu líder, os portugueses resolvem fazer uma contra-ofensiva, atacando o forte de Coligny. A partida de Villegaignon coincidira com a chegada ao poder do terceiro governador geral da colônia portuguesa, Mem de Sá, que iniciou um processo de captação e mobilização de  recursos para expulsar definitivamente os considerados invasores, tornando as tropas lusas mais fortalecidas para o embate.

No ano de 1560 finalmente é tomado o forte Coligny. Contudo, a tomada do forte, ao contrário do que se parece sugerir, não representou o fim da França Antártica, uma vez que a grande maioria dos franceses já havia se instalado no continente, vivendo entre os índios tupinambás, com as quais estabeleceram alianças militares. Apesar do contato inicial pouco amistoso entre ambos, franceses e tupinambás começaram a perceber os benefícios do estabelecimento de uma aliança, que demarcava uma cooperação mútua: os tupinambás viam nos franceses a chance de se libertar do domínio imposto pelos portugueses, com o processo de exploração de sua mão de obra e a catequização. Para o lado dos franceses, havia a oportunidade de aproveitar deste clima de tensão para fortalecer suas defesas contra ofensivas portuguesas.

Neste mesmo período, houve a formação da chamada “Confederação dos Tamoios”, em que se aliaram indígenas de diversos grupos, como tupinambás, guaianazes e aimorés, entre outros, contra a opressão advinda dos colonizadores portugueses. O intuito era realizar um ataque generalizado aos portugueses para sua expulsão, visando inclusive a vila de São Paulo. Lembrando que Tamoio provém da palavra tupi tamuya, que significa velho, ancião, o mais antigo. Ou seja, tais grupos indígenas passaram a lutar pela sua emancipação e expulsão dos invasores portugueses se alicerçando no discurso da ancestralidade, que passou a se constituir como o fio condutor da resistência. Portanto, aliando-se aos tupinambás, os franceses, em conseqüência, uniam-se também aos demais grupos indígenas confederados, fato que lhes contribuía para seu fortalecimento frente aos portugueses, uma vez que o crescimento das guerras de religião na França fizera com que se diminuísse as atenções e recursos enviados para a colônia no continente americano.

Em 1563, Estácio de Sá, sobrinho do governador geral Mem de Sá, é designado para comandar mais uma expedição contra a presença francesa. Agora as atenções estavam voltadas aos franceses infiltrados em pleno continente. No Espírito Santo, Estácio consegue estabelecer uma importante aliança com os índios temiminós, inimigos do grupo tamoio, liderados pelo cacique Araribóia. Depois de 2 anos de conflitos, apesar das diversas baixas e ataques mal sucedidos, Estácio de Sá, com o intuito de legitimar a presença portuguesa na região,  funda São Sebastião do Rio de Janeiro, que com o passar dos anos daria origem a atual cidade do Rio de Janeiro. 

Atualmente a ilha de Serigipe é conhecida como ilha de Villegaignon, em homenagem ao principal líder da França Antártica, e funciona, desde 1938, como Escola Naval, sob responsabilidade da Marinha.


Publicado por: André Eitti Ogawa

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