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O sol e o mar

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Diz à lenda que há setecentos anos, vivia uma família de pescadores na beira da praia, no Estado do Maranhão. Era uma família de cinco filhos, quatro homens e uma mulher. Todos trabalhavam juntos. A menina que se chamava Ludmila acordava bem cedo pra ajudar no café, enquanto os meninos desembaraçavam as redes pra ir trabalhar.

Quando era lá pra noitinha, eles chegavam, e aí, todos se juntavam no terreiro da casa pra contar e separar os peixes que seriam vendidos no dia seguinte.

Ludmila era uma mulher dos seus vinte e quatro anos, morena pelo sol, cabelos negros prateados, uma beleza que era enfeitada por uma flor de gardênia. Ela sempre chamava atenção dos meninos, todas as vezes que ia à cidade com seu pai.

Um dia no final do entardecer, Ludmila tinha o hábito de se afastar de casa, pra um lugar nas pedras que só ela conhecia, e ficava a pensar nas coisas de menina, cantarolava ao mesmo tempo em que penteava seus cabelos prateados. A noite caia, e Ludmila continuava lá, olhando a lua e admirando o mar.

Ela percebe que algo estava se aproximando, trazido pelas águas, era um cadáver de um homem, ela se assusta, mas vê que não está morto, ela desce das pedras, pega um galho seco na areia, e tenta puxá-lo pra beirada.

Sem saber o que fazer, ela sacode o rapaz pela roupa tentando reanimá-lo.

      — Ei! Mas devagar, assim você me mata! — Quem é você? falou Ludmila — Meu nome é Roderik, respondeu o rapaz. Então Roderik explicou o que aconteceu, ele estava num navio, e subiu no mastro para observar a distância da terra, neste momento ele apontou sem querer a luneta para o sol, que ofuscou seus olhos e o fez desequilibrar, caindo no mar, depois disso não se lembra mais de nada.

      — Sorte minha ter sido salvo por você, sorriu Roderik. Ludmila meio sem graça agradeceu no olhar.

         Roderik era um rapaz branco, cabelos ruivos pegando fogo, e sardas no rosto.

          Nesse momento chega o pai de Ludmila a sua procura, e a vê conversando com o rapaz desconhecido.

      — Ludmila minha filha, estamos procurando por você, quem é este homem?!

Roderik ainda fraco, tenta explicar a situação, mais o pai de Ludmila a arrasta pelo braço, sem parar para ouvir o que eles têm a dizer.

      — Calma papai, ele é uma vítima! Estava a deriva no mar. Então o pai escuta a história e resolve levá-lo pra casa, mas só por uma noite, nada mais.

         Quem disse que Roderik e Ludmila dormiram, passaram a noite conversando e rindo muito. O pai de Ludmila vinha de hora em hora e chamava atenção da menina.  Já está na hora de você ir dormir, e você Roderik, vá procurar seu canto.

Até parece que eles escutavam, estavam tão entretidos que a noite passou. — Já amanheceu e você nem descansou Roderik, falou Ludmila. — Nós dois não dormimos rs, disse Roderik. Agora ele teria que ir embora, o pai da menina não permitiria que um homem estranho ficasse em sua casa. Roderik sem conhecer o local, levanta e sai, mas antes ele precisava fazer algo. — Ludmila! Quero me despedir, fecha os olhos. Ludmila na sua inocência fez o que ele pediu, e Roderik dá um beijinho de leve em seus lábios. Ela fica tão vermelha, sem saber o que dizer. Ele segura suas mãos e diz que voltará pra buscá-la, porque esta noite que passaram juntos, ele descobriu que ela era a mulher da sua vida.

Um mês se passou, e Ludmila que até então só se preocupava com afazeres da casa, agora todos seus pensamentos eram em Roderik.

O Pai que não era bobo, percebia o que estava acontecendo, mas não deu muita importância, porque não sabia da promessa que o rapaz tinha feito a sua filha.

Três meses depois, Ludmila está nas pedras onde sempre ia pensar, e vê uma garrafa com um bilhete boiando no mar. Era uma carta de Roderik, ele diz que está chegando de navio e que ela ficasse pronta pra fugirem juntos. Ludmila guarda a carta em sua roupa e corre desesperadamente pra casa.

Ela não tinha muito que levar, só uma trouxa de roupas velhas, quem nem lá iria usar.

Numa noite, o pai da menina chega mais cedo da pesca e não encontra Ludmila, vai até o quarto, e percebe uma trouxa arrumada no canto da cama. Ele revira tudo, e encontra a carta embaixo do colchão de palha. Ele fica furioso, ela era única mulher da casa, não ia permitir tal despropósito. Então o homem bebe muito e sussurra sozinho _Minha filha ninguém vai levar! Se fizer isso comigo, vou amaldiçoar! Porque se não ficar aqui, lá também não vai ficar.

Ele sai atrás da filha, gritando por todo lado, desorientado pela bebida.

Ludmila escuta os berros do pai, ele já sabe de tudo, com medo ela corre pra dentro da mata, e fica lá até o dia amanhecer. O pai que era um homem astuto sentou na areia até ela aparecer.

O navio se aproxima no horizonte do mar, Ludmila na mata, vê seu amado chegar, e como fazer se seu pai está a esperar?

Roderik na proa pede que baixem o barco, ele se aproxima para ancorar. O pai de Ludmila grita — Volta agora, porque minha filha você não vai levar!

Ludmila corre em direção a Roderik, e o abraça, com pés descalços e sem trouxa de roupas — Vamos agora! Não há tempo esperar.

Os dois entram na barca e sem olhar pra trás, se afastam no mar.

O pai de Ludmila, com ódio pela traição, amaldiçoa o casal, e levantando a mão — Vocês não ficarão juntos, nem aqui e nem em outro lugar, vão ser como o sol e o mar, nunca vão se encontrar.

O barco se afasta, eles sobem no navio e partem.

A noite cai, e uma tempestade chega sem esperar, o navio balança com tamanha força, que sua proa se quebra, lançando todos ao mar. 

Roderik tenta alcançar Ludmila, ela tenta alcançá-lo também, quanto mais nadam, mas longe ficam um do outro.

Eles não se vêem mais, no meio da escuridão, só ouve baixinho o eco da voz. Já sem forças, Ludmila se entrega, e uma mão a carrega pro fundo mar.

Roderik se perde, e no desespero pela vida, ele faz uma barganha — Me tira daqui!, Não me deixa sofrer, minha Ludmila quero novamente poder ver. Então seu pedido é aceito, um vento muito forte o carrega pro céu, além do espaço.

Amanhece, e pouco se vê dos destroços do navio. Ninguém se salvou.

Nessa época muitos navegantes puderam ouvir a voz dos amantes, o mar chamava por ele e o sol chamava por ela. E assim foi por muitas décadas...


Publicado por: Robert Lima

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