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Orientação Sexual na escola, PCNs e transversalidade

A orientação sexual na escola, parâmetros curriculares nacionais e transversalidade.

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Duque de Caxias

2014

A escola tem a função de proporcionar ao aluno informações educacionais, para que ele se torne um cidadão e continue sua vida produtiva na sociedade. Algumas informações acabam sendo deixadas de lado apesar de sua importância, muitas vezes por padrões culturais e uma natureza conservadora que a sociedade contemporânea possui em seu padrão de moralidade exemplar. É o caso da sexualidade, informação negada durante muito tempo aos adolescentes e hoje se faz necessário ser trabalhado com urgência devido às problemáticas que o assunto possui.           

A sexualidade do adolescente assumiu uma dimensão de problema social. Entre inúmeras questões que poderiam se abordadas pelo tema sexualidade duas são centrais: Gravidez na adolescência e para o uso de camisinha,em uma perspectiva de cientifica e superficial. Deixando de lado os questionamentos,reflexões, analises, não abordando toda a amplitude do tema. Assim, a muito que se avançar em uma perspectiva de trabalhar com a orientação sexual nas escolas, algumas propostas serão trabalhadas aqui.

A Orientação Sexual nas escolas não tem visado ampliar a perspectiva dos adolescentes em relação aos preconceitos de gênero, doenças, gravidez na adolescência ou desnaturalizar idéias concretas programadas pelo senso comum. Na verdade, as escolas abordam esse tema apenas com o intuito de promover uma idéia de saúde e higiene precaução. A sexualidade é trabalhada na escola a partir de uma visão de problema a ser enfrentado.

Adolescência.

A adolescência é uma fase de transição da infância para a vida juvenil, marcada por muitas mudanças, novidades e questionamentos. Quando começa e quando termina a adolescência? o estatuto da criança e do adolescente 2001 nos artigos 1(primeiro) e 2(segundo) considera criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos e adolescente é aquele que se insere na faixa etária de 12 a 18 anos de idade podendo ser estendida até 21 anos para casos expressos em lei.

Adolescência é uma fase de transição entre a infância e à idade adulta associada a mudanças no desenvolvimento físico, psicológico, biológico e social do sujeito e que as transformações influenciam os aspectos afetivos intelectuais. “O adolescente é frustrado pela moratória imposta, e, ao mesmo tempo, a idealização social da adolescência ele ordena que seja feliz”. (CALLIGARIS,2000,P.18)

Sendo assim, a adolescência começa com o início da puberdade. A puberdade é um período referido a maturação sexual que ocorrem no corpo do menino e da menina devido à grande quantidade de hormônios que levaram a capacidade produtiva. Com isso, nesse período a criança adquire características sexuais primárias e secundárias. As meninas desenvolvem os seios, surgem pelos axilares e pubianos, e ocorre a mestruação. Nos meninos aparecem cabelos pubianos ocorre o aumento do órgão genital e surge cabelo nas axilas e na face.  E na faixa etária de 12 a 13 anos já se percebe a formação do esperma nos meninos, mas em geral entre 15 a 16 anos é o que se pode notar a quantidade de esperma e espermatozóides maduros.

 A adolescência é uma fase conhecida em nossa sociedade por passar por grandes conflitos e choques entre jovens pais e professores. Assim, nessa fase o jovem começa a questionar os princípios da sociedade, da religião da política da família, da sexualidade e da moralidade. E devido a essas características de maturação hormonal e intelectual, a sexualidade deve ser abordada na escola a partir do ciclo final do ensino fundamental primário(quinta serie) e durante toda a sua formação escolar,  a fim de instruir o aluno, garantindo seus direitos a instrução.

Nessa fase, o adolescente começa a tentar ser reconhecido pelos adultos, Para isso sente a necessidade de entrar em microgrupos sociais onde ele se encaixe e se sintar seguro. Esses grupos podem ser variados, grupo de amigos, grupo de estudo, grupo de teatro até uma gang. Os jovens dão base é o seu padrão de comportamento conforme os seus grupos, normalmente gostam de coisas parecidas se vestem aparecidamente, escutam as mesmas musicas, tem características em comum em geral. É importante destacar também que são muito influenciados pela mídia, nessa fase eles tendem a se afastar um pouco mais da família e se aproxima mais dos grupos dos amigos.

Com isso, é preciso instruir o adolescente para prevenir que ele se contamine com doenças, tenha filhos muito precocemente, e não crie uma identidade preconceituosa e agressiva contra pessoas de sexo oposto ou com opções sexuais diferentes, para que possa através da instrução dos profissionais de educação refletir a fim de eliminar suas próprias inseguras e questionamentos. De fato, a sexualidade não deve ser tratada apenas como um problema a ser controlado, e sim como uma parte da formação importante dos jovens e adolescentes.

Sexualidade e a escola.

Dados da UNESCO revelam que em 2001 acerca da precocidade da vida sexual e a intensidade desta entre os sujeitos pesquisados. Na maioria das capitais brasileiras existe uma tendência a iniciação da vida sexual para crianças de 10 a 14 anos que assumem que já tiveram pelo menos relação sexuais com uma pessoa em sua vida. Em Cuiabá a quantidade de crianças de 10 a 14 anos que já tiveram relações sexuais foi de 57% das resposta. Por isso, o tema sexualidade nessa região e em todas as outras demais não pode ser dispensado nas escolas.

Gravidez na Adolescência- Problema Demográfico.

O censo de 2000 declara que à um crescimento dos casos de gravidez entre adolescentes. Segundo dado do censo 2000 divulgado pelo instituto Brasileiro de Estatística (IBGE) a taxa de fecundidade da mulher brasileira caiu 2,1%, enquanto entre jovens de 15 a 19 anos, aumentou 1,13% neste período. A gravidez na adolescência se torna um fato de evidencia por três motivos. O primeiro devido a redução da fecundidade no Brasil- entre 1960 e 2000 ela caiu de 6,3 para 2,3 filhos por mulher (IBGE,2002 b). O segundo é o aumento, ao longo das duas ultimas décadas da proporção de gravidez na juventude que ocorre fora de uma união. Outro elemento seria a maior perspectiva social em relação ao jovem.

“A gravidez na adolescência desponta como um desperdício de oportunidades, como uma subordinação – precoce- a um papel do qual, durante tantos anos as mulheres tentaram se desvencilhar.” (HELBURN ET al . 2002, p.4)

A maternidade na adolescência é vista como uma grande calamidade e uma responsabilidade política. Por isso, políticas de saúde, educação e de assistência social foram tomadas para impedir futuros problemas sociais decorrentes da explosão demográfica, nas adolescentes das camadas de baixa renda.

O planejamento familiar deve ser considerado prioridade absoluta em saúde pública. Os recursos necessários para levá-los às populações mais carentes dos pais são insignificantes quando comparados ao custo social da explosão de gestações não planejadas dos dias atuais. (VARELLA, 2002,p.E12).

Assim, o investimento na sexualidade visa o controle social. A sexualidade ganha destaque apenas quando se torna um problema público que precisa ser combatido. A pedagogia se interessa por uma sexualidade com pontos de implantação, ela codifica os conteúdos e qualifica os locutores. Dessa forma, as informações dadas aos estudantes são apenas as “necessárias” e não controversas, em uma perspectiva de ciência e não humanitária.

Estas questões demonstram o investimento na sexualidade como forma de controle social. Por dizer respeito à saúde coletiva, ao controle de natalidade, ao crescimento populacional, à vitalidade das descendências e da espécie, a conduta sexual da população torna-se, na nossa sociedade, objeto de análise e de diferentes intervenções governamentais. (Altamann, Helena)

  A escola sempre visou resolver problemas em relação à sexualidade os desvios foram sempre vistos como, anormalidades a serem combatidas e enquadradas dentro da normalidade. Com isso, a escola tinha o objetivo de resolver os “problemas” das diferenças em relação à sexualidade.

Nos anos 1920 e 1930, os problemas de “desvios sexuais” deixavam de ser percebidos como crime para serem concebidos como doença. A escola passa a ser tida como espaço de inteiração preventiva da medicina higiênica, devendo cuidar da sexualidade de crianças e adolescentes a fim de produzir comportamentos normais.(VIDAL, 1998)

A educação sexual sempre foi considerada como algo a ser ensinado pelos pais , mas nos dias atuais isso se modificou e a escola passou a cumprir esse papel. Atualmente os pais se apresentam muito distantes dos filhos, por isso a família deixou de cumprir um papel de formação o qual se atribui a escola.

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)

Em 1996 a orientação sexual entra nos PCNs como tema transversal, mas até hoje a educação sexual é pouco trabalhada nas escolas. Professores que trabalham com o tema são ate descriminados ganham jarrões nas escolas como “professora pornu”. A orientação sexual é um tema transversal, os temas transversais tematizam problemas fundamentais e urgentes da vida social. A orientação sexual entrou nos PCNs devido ao crescimento de casos de gravidez indesejada entre adolescentes e do risco de contaminação por HIV, sífilis entre outras doenças venéreas.

A proposta dos PCNs é trabalhar o conteúdo de orientação sexual em todos os ciclos de escolarização e não como conteúdo de uma disciplina. Entretanto, é comum os alunos terem contato com o tema apenas em uma disciplina e às vezes uma ou duas vezes na vida. Os entraves para se trabalhar esse tema segundo Helena Altmann seriam “ausência de formação especifica, falta de condições para realização de trabalhos interdisciplinares, desencontros entre professores que precisam trabalhar em diversos locais, falta de estrutura e de material, desinteresse, medo de falar sobre o assunto, entre outros”. 

É muito comum os alunos terem contato com esse tema através de palestras, oficinas, cartilhas e minicursos. As escolas municipais da cidade do Rio de Janeiro são as que mais recebem palestrantes em seus auditórios com programas educacionais voltados a esse tema para adolescentes.

Aulas de Ciências.

Os livros de ciências têm como conteúdo especifico da sétima serie de ensino Fundamental temas ligados à sexualidade. Mas nos livros de ciências a sexualidade é tratada numa perspectiva das ciências biológicas apenas. Com isso, a abordagem sobre o tema é limitada ao contexto de ciência, os conteúdos não são problematizados e nem visam contextualização social e o próprio PCNs reconhece isso.

Praticamente todas as escolas trabalham o aparelho reprodutivo em Ciências Naturais. Geralmente o fazem por meio da discussão sobre a reprodução humana, com informações ou noções relativos à anatomia e fisiologia do corpo humano. Essa abordagem normalmente não abarca as ansiedades e curiosidade das crianças, nem o interesse dos adolescentes, pois enfoca apenas o corpo biológico e não inclui a dimensão da sexualidade. ( Brasil, 1998, p.292. PCNs)

Uma nova maneira de trabalhar a sexualidade na educação.

Para uma nova abordagem ampla e complexa sobre o tema Sexualidade é importante destacar que uma só andorinha não faz verão, para se trabalhar o tema é preciso haver mais que um professor ou um palestrante tratando sobre o assunto. Dessa maneira, toda a gama de funcionários da escola deve trabalhar para contribuir e corrigir os erros de abordagem do passado, para que o tema esteja contido em todas as disciplinas de forma transversal.      

 Para que isso se torne possível, é preciso que todos colaborem conjuntamente no trabalhado. A primeira questão é romper com o preconceito que existe em relação ao tema. Muitos professores que trabalham com o tema são subjulgadas e discriminados como; professores sexuais o professor da “putaria” pelos alunos. De fato, se todos os professores tratassem o tema de forma comum é natural como ele é e esse grande tabu seria minimizado.

Mas aí se chega a uma nova questão, como fazer em uma escola grande com mais de 50 professores trabalharem conjuntamente com o tema? É necessária toda uma união administrativa onde os professores possam se unir e discutir as formas de trabalho. Nessas reuniões eles podem trocar experiências e falar em um pouco mais sobre como está sendo a abordagem do assunto, suas técnicas e dificuldades.

É claro que toda escola tem conselho de classe para discutir sobre notas, trabalhos, conceito final e reprovações. Mas para que haja um bom funcionamento do colégio é necessário ir muito, além disso, é necessário trabalhar conjuntamente, e esse resultado só é chegado através de reuniões, onde ajam discussões, troca de idéias e suposições. Deve haver também discussões abertas para os países dos alunos, abordando o tema sexualidade.

A sala de aula é um ambiente de criação em que o professor e os alunos devem ter total liberdade para criar, discutir, criticar e acrescentar. Ela deve romper com a hipocrisia conservadora de que adolescente não sabe nada sobre sexo, e falar do assunto pode tirar a “pureza” do mesmo. A sexualidade existe nas escolas e é falada constantemente pelos alunos nas aulas, no pátio, na rua ou em qualquer lugar, é um assunto comum.Os adolescentes encontrarão respostas para suas dúvidas irrevogavelmente, então que seja na escola.

Em uma pesquisa feita em Curitiba um aluno disse o seguinte relato. ”O que agente fala mais aqui na escola ou na rua a gente conversa sobre sexo e jogos. Sobre sexo, sobre transar, de virgindade sobre ser virgem ou não. Sai sobre transar. A gente fala que poderia ir para o motel, poderia ir ao apartamento, em casa mesmo para transar ou na rua no mato”. (Sexo masculino 13 anos).

Em uma pesquisa feita em Curitiba sobre como adolescentes chegam a informações sobre sexo, mais de 50 % disse que chega através de formações da televisão. É sabido que as principais fontes de acesso a esses meios de informação são televisão, internet e amigos. De fato, os adolescentes falam muito desse assunto entre si, o pai a mãe entrou em segundo plano. É prudente a informação de que conversar com os professores apresenta percentual positivo muito baixo, inferior aos valores relacionados à conversa com ninguém.

Minha mãe fala, mas algumas coisas assim, ela fala que é perigoso, que não pode perder muito cedo porque fica ruim[...] Perder a virgindade muito cedo porque pode pegar doença, é, doença. [...]É, Eu não gosto de comentar com a professora não. Eu gosto de comentar mais com a minha mãe, meu pai, entendeu?Com eles eu não sinto vergonha de falar sobre isso. (Sexo feminino 12 anos)

Sendo assim, todo professor deve tratar sobre o assunto da forma que achar melhor, já que, é um tema transversal. Os professores podem organizar debates, apresentar filmes, vídeos explicativos, ou simplesmente conversar abertamente com os alunos de forma didática. Eles também podem estabelecer conexão com suas áreas cientificas. A professora de biologia pode falar sobre sexualidade e gênero, o professor de sociologia pode tratar o assunto das diversas formações familiares que temos em nossa sociedade. A professora de filosofia pode falar a respeito dos estereótipos criados pela sociedade como, por exemplo, o machismo.

O professor de geografia pode tratar de assuntos como o abuso sexual e falar como isso é absurdamente devastador perante os direitos humanos universais. O mestre de história dentro de seu contexto didático metodológico dissertaria, por exemplo, sobre a questão do aborto e como isso era comum em algumas sociedades e grupos, enquanto que em outras não. A professora de ciências pode aprofundar um pouco mais o assunto sobre preservativos anticoncepcional, pílula do dia seguinte e a transmissão de doenças. Mas deve se destacar que qualquer professor pode trabalhar esses devidos temas, estabelecendo conexões com a sua disciplina ou não.

Assim, o professor de matemática, física e química pode em uma de suas aulas passar um vídeo sobre um tema relacionado a sexualidade ou iniciar um debate a respeito de abuso sexual ,escolha sexual e demais assuntos pois os temas são muito abrangentes. Além disso, a Orientação Sexual que o PCNs propõe é de forma transversal, por isso, todos os professores devem trabalhar o assunto.

Entrevista e opiniões.

Em uma entrevista se procurou saber que tipo de conversa sobre sexualidade acontece entre os s adolescentes. A seguir alguns trechos da entrevista.

  • “Elas ficam falando que o bigulinho dele é grande,não sei o quê”. (Sexo feminino 12 anos)
  • “O que mais preocupa os adolescentes é a gravidez, é o que todos os adolescentes pensam antes de transar”. (Sexo masculino 11 anos)
  • “Depois elas falam, você quer meu pau, eu falo você não tem. Elas falam vem aqui, então, assim que elas ficam”. (Sexo masculino com 11 anos)
  • “As meninas falam em bater siririca. ( Sexo feminino 13 anos)
  • “Todo garoto bate punheta”. ( Sexo masculino 14 anos).
  • “Porque o homem hoje em dia só quer aproveitar. Só quer ficar e mais nada, depois que come não quer saber de mais nada”. (Sexo feminino 12 anos)

A sexualidade ainda é um tabu para diversas famílias e para o ambiente escolar, as pesquisas mostram que muitas vezes os alunos têm medo de falar sobre o assunto com os pais. Segundo os alunos, o temor é em relação à possibilidade de um comportamento punitiva por parte dos pais. Já no ambiente escolar, os alunos explicam que a razão pelas quais não se sentem bem para conversar com o professor é a timidez e vergonha. A alternativa que apresenta mais alto valor percentual parece ser o tipo de abordagem e as circunstâncias que o professor cria.

[...] Depende da maneira que foi ensinado porque tem certas coisas que a professora conversa com a gente no meio de um monte de gente, fica sem graça, a gente fica com vergonha de responder. (Sexo feminino 15 anos)

Dentro do diálogo sobre a sexualidade e os trabalhados em sala de aula, é perceptível que as meninas se sentem mais acanhados para falar do assunto. De fato, está relacionado à características culturais de como é o ensino informal de meninos e meninas. Isso é, enquanto meninas são ensinadas desde cedo a ter habilidades doméstica dando mais circulação ao limite lar, os meninos precisam abrir seu caminho no mundo masculino mais público fora de casa.

Ela fica mal falada, por isso ela tem que pensar bastante nessa hora. A menina que transa com um e com outro, eles falam aquela é biscate, vagabunda, cadela. (Sexo feminino, 14 anos)

Proposta.

  • Deve haver Debates, diálogos e reuniões por parte da coordenação , entre os professores para tratar o tema.
  • Exigência de reuniões entre professores e pais para tratar o tema.
  • Abordar o assunto na proposta curricular.
  • Inserir o assunto sexualidade no conteúdo didático (livros e apostilas).
  • Criar trabalhos semestrais abordando o conteúdo.
  • E garantir que através das reuniões os professores cheguem a um consenso, dividindo ,compartilhando e aplicando o tema em sala.

Dever educacional.

De fato, a escola ainda resiste muito em assumir um posicionamento sobre a educação sexual, mas esse dever não pode mais ser negado. Além de o PCNs exigir a abordagem obrigatória do tema, os alunos dizem que a iniciação das informações sexuais começa na escola de forma formal ou informal.

Porque o que acontece mais na escola é o sexo, começa na escola sendo que o aluno começa a sentir tesão um pelo outro e começa com história de namoro. Leva pra cama, a menina engravida ela não quer assumir a responsabilidade, e o menino também não. Por isso, eu acho que a gente devia estudar mais sobre o assunto. (Sexo feminino,14 anos)

A escola poderia orientar, trazendo os professores e pessoas que saibam bastante do assunto e pessoas experiente para falar sobre o assunto. (Sexo feminino, 14 anos)

Dúvidas dos alunos

  • Uma pergunta o que é masturbação? (Sexo feminino, 13 anos).
  • Muitas vezes meus amigos perguntam, será que masturbação traz algum problema aos nossos órgãos sexuais? (Sexo masculino, 14 anos)
  • Como é a primeira vez, é bom ou ruim? (Sexo feminino, 14 anos).
  • Eu queria fazer uma pergunta, com que idade pode transar e o que transmite o sexo? (Sexo feminino, 11 anos)

Através do trabalho é possível concluir que os adolescentes sabem do que o assunto sexualidade se trata,muitas vezes de forma incompleta e deturpada. Na maioria das vezes eles chegam ao conhecimento que tem, através da família, através dos próprios colegas de grupo na escola ou em outros ambientes. Mas na maioria das vezes esse ensino que ocorre sobre a sexualidade ele é conduzido e orientado a para a prevenção.

Segundo os PCNs a escola deve debater dentro do termo sexualidade as  diferenças,estereótipos, tabus, preconceitos , conceitos e crenças porém mantendo um distanciamento das opiniões e aspectos pessoais do professor.Mas o que tem sido trabalhado, quando é trabalhado é a prevenção de doenças, uso de preservativo, e conceitos científicos do corpo, como a função do sistema reprodutor. E isso, não tem rompido com as barreiras do preconceito e da ignorância social, e os pilares da sociedade patriarcal.

Com isso, se percebe que os sujeitos seguem as informações das mídias de massa, modelo esse sedimentado, concretizado no patriarcalismo, onde o homem tem que ser o líder desde cedo, dar um sentido a iniciação sexual mais cedo e as meninas devem ser virgens até o casamento. Dessa forma meninas que perdem a virgindade são chamadas muita das vezes vagabundas e biscates.Na mesma medida que a virgindade é utilizada como algo negativo em relação aos meninos.                                   

Homossexuais também são estereotipados entre os adolescentes, é comum fichas de bundões, viado e sapatão.Assim, se percebe que à os signos sexuais e a sexualidade estão enquadradas em um modelo tradicional da cultura. Os conceitos que circundam através dos meios de comunicação, de massa, concretizam um pensamento social predominante que é aderido pelas crianças, através dos pais.

  Currículo

O currículo escolar tem um significado muito amplo, ele abrange todas as experiências escolares cotidianas. A palavra currículo remete muita das vezes a uma espécie de emenda, onde se teria métodos de aprendizagem e todo o conteúdo programático para o estudo, porém ele é bem mais amplo que isso. Segundo Antonio Fabio Barbosa existem dois currículos, o formal e o em ação.  

Com isso, o currículo apresenta conflitos, contradições e resistências, e segundo Antonio Fabio Barbosa;

” Essa nova visão de currículo inclui: planos e propostas (o currículo formal), o que de fato acontece nas escolas e nas salas de aula (o currículo em ação), bem como as regras e as normas não explicitas que governam as relações que estabelecem nas salas de aula ( o currículo oculto). Aponta, assim, para o fato de que no currículo desenvolvem-se representações, codificadas de forma complexa nos documentos, a partir de interesses, disputas e alianças, e decodificadas nas escolas, também de modo complexo, pelos indivíduos nelas presentes. Sugere, ainda, a visão do currículo como um campo de lutas e conflitos em torno de símbolos e significados”.        (Antonio Fabio Barbosa)

A proposta curricular seria os planos e propostas para o aprendizado, uma parte mais burocrática da ação, onde os conteúdos são descritos com metas e planos de ação para o aprendizado. Porém, esses planos devem seguir a realidade cultural da escola que esta atuando, com as realidades e particularidades próprias da mesma, abrangendo o contexto multicultural. E para isso, a escola precisa ter liberdade na elaboração de seu currículo de forma autônoma, sem depender de órgãos centrais e intermediários para definir as políticas de educação que fazem da escola uma mera executora do processo.

O educador deve ter autonomia, já que, autonomia e liberdade fazem parte da própria natureza do ato pedagógico, respeitando e interagindo com a cultura predominante dos educandos. Nada deve ser jogado fora daquilo que é cultural de um povo, por isso, fazer dos hábitos culturais dos alunos objetos de estudo e utilizar esses mesmos hábitos para aplicar o conteúdo e conduzir o aprendizado.

“A formação do pensamento ocidental dominante, que exige “ver para crer”, levou a grande dificuldade em se aceitar o múltiplo: Os múltiplos sentidos, os múltiplos caminhos, os múltiplos aspectos, as múltiplas regras, as múltiplas fontes.”(Nilda Alves)

Assim, não se deve excluir o conhecimento cotidiano produzido nas relações sociais e culturais desse contexto, o aluno não vem para escola vazio, ele traz consigo uma serie de vivencias e aprendizados que não deve ser desprezado. Os alunos já chegam com bastante conhecimento sobre sexualidade ao colégio, seja pelo contexto sociocultura, pela mídia ou pelo conhecimento passado pelos pais, e o profissional da educação vai trabalhar encima desse conhecimento, inserindo mais complexidade e detalhamento, enriquecendo o conhecimento do aluno através de uma dialética.

A escola deve dar espaço para o aluno expor seu conhecimento e usar meios alternativos para apreender o conhecimento programático da escola, a pedagogia deve ser livre e libertário e não excludente.Sendo assim, a utilização de vídeos, filmes,cartilhas e até visitas a um museu podem ser meios alternativos de se chegar a informações e aprende-las, se tratando de sexualidade não é difícil encontrar uma gama de matérias e alternativos para se trabalhar o assunto,

Os diversos caminhos para se chegar ao conhecimento e muitos conhecimentos que não são reconhecidos pela escola, mas que fazem parte do cotidiano dos alunos, talvez essa seja a razão de haver certo desinteresse para alguns. O professor deve trabalhar com o cotidiano dos alunos, analisar o contexto social e cultural em que estão inseridos e trabalhar com aquilo que os educando trazem para a escola, estabelecer conexões entre o que os alunos dizem e o conteúdo programático, além de debates e discussões sobre suas dúvidas.

O currículo não é neutro e este implicado em relações de poder. O currículo tem historia, produz identidades transmite visões. O objetivo central do currículo é garantir a aprendizagem do aluno em uma perspectiva multicultural e valorizando o conhecimento que o alunos trazem a escola, em sua realidade e vivências. Ele deve desconstruir estereótipos e visões preconceituosas que são normatizadas pela sociedade, deve permitir a analise crítica da sexualidade.

Soluções Sexualidade como tema transversal.

A sexualidade do adolescente é abordada como algo a gerir, controlar e administrar através de uma gama de informações. A perspectiva da orientação sexual trabalhada nas escolas visa prevenir doenças, afastar a gravidez precoce e criar um padrão de comportamento ao jovem ditando-lhe um comportamento “normal” e eliminando toda a “anormalidade” dispensável ao sistema. Os objetivos são claros acabar com problemas sociais e não de promover esclarecimentos e reflexões sobre o tema.

Cumpre falar de sexo como de uma coisa que não se deve simplesmente condenar ou tolerar, mas gerir, inserir em sistemas de utilidade, regulamento para o bem de todos, fazer funcionar segundo um padrão ótimo. O sexo não se julga apenas, administra-se.(Focault 1997,p.27)

Isso mostra que falar de sexualidade no ambiente escolar ainda é um tabu apesar dos avanços. Muitos temas ainda são censurados e desprezados no ambiente de ensino. A seleção dos conteúdos tem apenas visado aquilo que pode representar algum tipo de catástrofe social, como epidemias e gravidez precoce. Sobre tudo, a sexualidade é um tema amplo de mais para uma perspectiva tão reducionista e cientificada que vem se tendo nas escolas.

Com isso, a escola deve trabalhar a orientação sexual rompendo com o preconceito e estereótipos, e possibilitar que os adolescentes eliminar suas próprias inseguras e questionamentos. De fato, a sexualidade não deve ser tratada apenas como um problema a ser controlado, e sim como uma parte da formação importante dos jovens e adolescentes.

A igreja diz: o corpo é uma culpa
A ciência diz: o corpo é uma máquina
A publicidade: diz o corpo é um negócio
O corpo diz: eu sou uma festa.
(Eduardo Galeano)

Bibliografia:

Coelho, Eugênia. Sexualidade: O que têm a dizer alunos e professores.. FAPEMAT. Cuiaba,Mato Grosso 2006.

Altamann, Helena. Sobre a educação sexual como um problema escolar. Rio de Janeiro.Unicamp. 2003.

Alves, Nilda. Decifrando o pergaminho- o cotidiano das escolas nas lógicas das redes cotidianas. Uerj, RJ.

Veiga, llma Passos Alencastro. Projeto Politico pedagogico da escola, uma construção coletiva. 14 edição, Papirus,2002.

Helina, Maria .Sexualidade na educação.Publicado em  31/07/2014 às 12:34. Disponivel em http://revistaescola.abril.com.br/blogs/educacao-sexual/. Acesso em 6 de agosto de 2014.

Canen, Ana. Multiculturalismo e currículo em ação: um estudo de caso. Revista Brasileira de educação.2002.

 


Publicado por: JESSICA BILITARIO DE MEDEIROS

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