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A Psicolinguística na Educação: novos tempos e novo fazer pedagógico

Veja aqui uma abordagem da Psicologia sob a égide das Teorias Linguísticas.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Resumo

Este artigo se fundamenta na investigação da forma do aluno da Educação básica no Estado de Mato Grosso, delimitando essa análise no aspecto profissional do ensino da Língua e propor o estudo dos modelos estratégicos dos pensadores caudatários de Ferdinand de Saussure. O tema desta pesquisa é a abordagem da Psicologia sob a égide das Teorias Lingüísticas, na escola de Educação Básica do Estado de Mato Grosso, enfatizando a compreensão/apreensão do sentido, segundo o contexto socioeconômico-cultural-histórico-político da região.

Palavras-chave: Educação, Psicolinguística, procedimentos metodológicos e Ensino.

Abstract

This article is based on research the way the student of basic education in the State of Mato Grosso, delimiting this analysis in the professional aspect of the teaching of language and propose the study of strategic models of flunkies thinkers from Ferdinand de Saussure. The theme of this research is the approach of Psychology under the auspices of the Linguistic Theories, school of Basic Education of the State of Mato Grosso, emphasizing understanding / apprehension of meaning, according to the socio-economic-cultural-historical and political context of the region.

Keywords: Education, Psycholinguistics, methodological procedures and education.

INTRODUÇÃO

Este trabalho procura analisar a base teórico-metodológica da psicologia e da lingüística adotadas para a detecção de Língua Português nos cursos de educação básica no Estado de Mato Grosso. Pretende-se, com essa pesquisa, analisar os impactos de tais abordagens na formação do entendimento dos alunos sobre o processo de constituição de sentidos propiciados pela leitura/ação-reflexão-ação e se possibilitam que os alunos possam escolher e criar, conforme suas histórias de leituras, seus próprios procedimentos pedagógicos para a exercitação em sua prática profissional.

OBJETIVOS

Os objetivos gerais deste trabalho se consubstanciam na investigação da forma do aluno da Educação básica no Estado de Mato Grosso, delimitando essa análise no aspecto profissional do ensino da Língua e propor o estudo dos modelos estratégicos dos pensadores caudatários de Ferdinand de Saussure. A partir desses objetivos, definiram-se as metas específicas da pesquisa:

  1. Realizar um levantamento das orientações teórico-metodológicas sobre o processo de ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa adotadas pelos docentes das instituições em estudo, bem como de pesquisas e publicações por elas produzidas sobre esse assunto;
  2. Observar os alunos durante os vários momentos da pesquisa, para verificar como as orientações teórico-metodológicas da Lingüística norteiam a execução do trabalho em sala de aula;
  3. Analisar as relações entre as concepções e metodologias de leitura adotadas pelos cursos de Educação Básica no Estado de Mato Grosso e as práticas implementadas pelos educandos, para verificar a influência da base teórico-metodológica sobre os procedimentos pedagógicos dos egressos em sala de aula;
  4. Estudar os modelos estratégicos dos autores e suas concepções no ensino da Língua, como mais uma possibilidade de interlocução entre os cursos.

HIPÓTESES

Parte-se da hipótese geral de que existem deficiências nessa formação dos educandos para o ensino de leitura, deficiências essas que, se realmente comprovadas, precisam se identificadas, analisadas e compreendidas, para viabilizar a implementação, pelas instituições, de estratégias eficazes para solucionar o problema, com a eliminação das causas.

  1. Supõe-se que a prática do ensino de Língua Portuguesa esteja ainda vinculada aos modelos clássicos escolares, que vêem a leitura/produção de texto/ação-reflexão-ação como mera decodificação.
  2. Supõe-se, por sua vez, que as novas bases teórico-metodológicas possam oferecer aos alunos oportunidade de sentirem maior segurança e liberdade intelectual para criação de procedimentos pedagógicos mais eficazes no ensino de leitura.
  3. Acredita-se que as dificuldades no ensino de leitura possam ser devidas ao fato de que ou as novas bases teórico-metodológicas não estão sendo oferecidas, ou não estão sendo apreendidas adequadamente pelos alunos, ou não estão ainda suficientemente desenvolvidas para influenciarem com eficácia a prática pedagógica.

De acordo com essas etapas do processo de investigação, pretende-se organizar este trabalho em cinco capítulos.

No primeiro capítulo, serão apresentadas e discutidas as diretrizes do MEC para a licenciatura de Letras, com o objetivo de possibilitar a análise da atuação das instituições de ensino superior do Estado de Mato Grosso em relação ao desenvolvimento das habilidades e competências consideradas necessárias ao profissional dessa área.

O segundo capitulo analisará os conteúdos programáticos do curso de Letras das distintas instituições, suas respectivas bibliografias, além do projeto pedagógico da instituição, para verificar o perfil profissiográfico idealizado para os alunos, sua conformidade com os padrões estabelecidos pelo Ministério da Educação, bem como o papel dado, na formação dos alunos, ao ensino e aprendizagem de leitura/produção de texto.

O terceiro capítulo terá por objetivo discutir os resultados do acompanhamento da prática do magistério dos profissionais de Língua Portuguesa mantido pelas instituições pesquisadas, para ser verificada a ocorrência ou não de uma ruptura com o modelo da escola tradicional, que fazia do ensino uma repetição de equívocos ao tratar a leitura como simples decodificação de sinais gráficos para reconhecimento de palavras e frases. Neste capítulo, pretende-se identificar influências teórico-metodológicas sobre as práticas dos docentes e educandos.

No quarto capítulo, serão analisadas, comparadas e discutidas as teorias lingüísticas e as metodologias adotadas nas diferentes instituições em relação ao processo de ensino e aprendizagem de leitura e produção de texto, com a finalidade de produzir uma interlocução produtiva entre as distintas correntes teórico-metodológicas e incentivar o intercâmbio de experiências entre as instituições de ensino superior no Estado de Mato Grosso.

No quinto capítulo, abordar-se-á a produção cientifica das instituições investigadas, através da apresentação e analise de suas pesquisas e publicações, para se verificar como tem sido trilhado o caminho de construção de suas próprias histórias no campo da ciência relacionado ao ensino e aprendizagem da Língua. Ao final do trabalho, pretende-se apresentar as considerações finais, com nossa contribuição a este tão importante estudo.

JUSTIFICATIVAS

Os estudos sobre o ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa e, conseqüentemente, de sua abordagem pelas instituições, são de relevância inquestionável, pois podem produzir reflexões que orientem procedimentos para melhoria do ensino e aprendizagem da língua materna em todas as instituições de ensino, de todos os níveis em todos os países. É justamente por essa razão que a bibliografia sobre o tema é tão vasta.

Porém, apesar de toda essa produção, não conseguimos descobrir nenhuma pesquisa ou publicação cujo tema abordasse o ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa sob a égide das Teorias Lingüísticas em instituições de Educação Básica do Estado de Mato Grosso. Esse tema, inédito, apresenta-se, portanto, como assunto que merece e precisa ser pesquisado.

Além disso, o tema tem grande importância para o País, para o Estado e para a comunidade local, uma vez que os relatórios do MEC, distribuídos nacionalmente, sobre a atuação das faculdades, centros superiores de ensino e universidades, baseados em informações levantadas pelo Exame Nacional de Cursos, têm apontado para graves problemas na área educacional, um dos quais se relaciona à formação de professores no Brasil.

São as comunidades que efetivamente sofrem com os maus resultados e tal fato releva a importância social desta pesquisa.

No caso da formação de docentes, o problema acaba por encerrar um circulo vicioso. Os profissionais que estão lecionando nas redes públicas e particular, formados por essas instituições superiores com problemas de qualidade, se transformam nos responsáveis pela formação dos alunos da escola fundamental e média.

O ENEM, que se apresenta como mais uma possibilidade de o aluno concluinte da escola média entrar na universidade pública, revela o pouco rendimento desses alunos, realidades que limita seu percurso futuro. Esses jovens apresentam pouca bagagem de conhecimentos, deficiência no desenvolvimento de habilidades e competências, problemas que os professores e as instituições não foram capazes de solucionar durante o período em que os alunos freqüentaram a escola antes de chegarem ao terceiro grau.

Devido a essa concepção de importância que o ensino e aprendizagem de leitura e produção de texto possuem em relação à formação de professores, este trabalho decidiu por situar-se na linha de pesquisa de Lingüísticas e Discursos. O desejo de pesquisar a abordagem do ensino de leitura e produção de texto nos cursos da Educação Básica do Estado de Mato Grosso surgiu à medida que analisando os ementários, planos de ensino, didática, metodologia, resultados de provas, concursos observou-se a existência de uma desvinculação entre produção de texto (oral e escrito) e produção de leitura. Desvinculação essa que não poderia nem deveria ocorrer, pois, segundo MARCUSCHI (2001), a produção de texto é um contínuo da produção de leitura, um substancia o outro.

Detectou-se, também, como fator gerador de dificuldades para o desenvolvimento adequado da aprendizagem sobre produção de leitura, que eram adotadas linhas divergentes de abordagem do ensino de leitura e produção de texto, criando inconsistência que não permitiam uma escolha consciente do educando sobre o que é sentido no/do texto e qual orientação teórica ele deveria adotar para desenvolver o ensino de leitura em sala de aula e fora dela.

Um trabalho desta natureza é, portanto, relevante, porque possibilita a revisão das linhas lingüísticas que podem representar o sustentáculo das ementas de um curso de Letras e servir para aumentar nosso entendimento das teorias sobre língua, texto e discursos, auxiliando no aperfeiçoamento de docentes para a realização de trabalhos com leitura em sala de aula.

A carência nessa área se faz sentir, com maior ênfase, no ultimo ano da Educação Básica, quando o efeito de todas essas problemáticas podem se percebidas no momento em que notamos o discente perdido em suas ações, o que é natural, devido à sua inexperiência, porém repetindo estratégias ultrapassadas, sem consciência cientifica de procedimentos metodológicos para desenvolver adequadamente suas práticas de ensino de leitura/produção de texto.

Embora estejamos diante de uma complexidade de causas dessas deficiências na área educacional, é certamente da universidade/escola/professores que se esperam medidas eficazes para bem preparar os profissionais dos mais distintos setores, o que não tem acontecido e nos vem preocupando enquanto educadores e membros das comunidades em que eles atuam.

Ainda que o estágio supervisionado dos egressos da universidade não tenha aquele antigo caráter terminal, sendo hoje considerado um momento inicial de prática de trabalho, o mau desempenho dos alunos nessa fase aponta a dificuldade que os universitários sentem para atender às propostas dos professores responsáveis pela supervisão dos estagiários. Em suma, tais dificuldades revelam que os alunos não apresentam uma boa formação, ou seja não tiveram suficientemente desenvolvidas suas competências e habilidades para alcançarem um adequada performance no estágio e conseqüentemente na sua práxis.

Tais resultados têm sido vivenciados pela comunidade acadêmica e pela comunidade escolar na qual os estagiários vão atuar, sendo observados pelos professores que acompanham o desempenho dos alunos, que alertam as instituições, durante as reuniões de trabalho, sobre a necessidade de ser aprimorada a qualidade de nossos cursos, no sentido de criarmos a imprescindível eficiência na formação dos futuros profissionais.

Nesse sentido, esta pesquisa tem relevância acadêmica e cientifica, já que sua realização pode auxiliar no desenvolvimento e/ou implementação de estratégicas eficazes para o ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa, colaborar para nossa aprendizagem sobre o processo de produção de leitura/produção de texto, além de contribuir para a ampliação de bibliografia sobre o tema. Além disso, a produção cientifica voltada para o Estado de Mato grosso pode beneficiar concretamente a comunidade, produzindo troca de experiências entre profissionais e instituições locais, envolvendo toda a comunidade acadêmica.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Como fundamentação teórica, foram lidos os artigos de Fiad (1996) sobre Lingüística, ensino de língua materna e formação de professores, cuja bases podem dialogar com esta pesquisa, que será norteada pelo interacionismo sociodiscursivo. Nossa concepção de linguagem e a abordagem do tema leitura e sentido terão apoio na Análise do Discurso e nas teorias da Enunciação, dentre as correntes modernas da Lingüística, e também se servirá das Diretrizes do MEC para a Licenciatura de Letras, por serem estes os caminhos julgados possíveis para a melhor equação da proposta desta pesquisa.

O docente da Educação Básica precisa refletir sobre o ensino de leitura/produção de texto, a fim de que possa futuramente, em sua vida profissional, ter um bom desempenho, tanto na escola quanto em outros segmentos, porque o mundo moderno tem exigido desse professor a constante atualização de informações, conhecimentos, métodos e a competência do saber fazer pedagógico.

Durante o curso de Letras, deve perceber que leitura não é só uma questão lingüística, mas pedagógicas e social ao mesmo tempo, conforme nos alerta Orlandi (1993). Não é mera decodificação, mas compreensão que se articula com diferentes linguagens que constituem seu universo simbólico.

Por essa razão, não deve reduzir suas aulas de leitura a três vezes por semana, sabendo-se que ler é uma rotina diária; nem deve utilizar técnicas que pressuponham “incapacidade” do aluno em aprender o sentido do texto, pensando-se na competência textual. Tais concepções são incompatíveis com o avanço teórico produzido até então, que jogou por terra a crença em um processo passivo do leitor e a prática de não se considerar a própria história de leituras do aluno, assim como a história da sua relação com a escola, e com todo o conhecimento de mundo que, para ele, é altamente significativo e deve compor a sua aprendizagem da prática de leitura.

As posturas teórico-metodológicas mudaram, possibilitando que o leitor-sujeito surja com suas leituras possíveis. Dentro desse novo contexto, felizmente o professor se vê obrigado a uma atitude constante de alerta sobre os conteúdos do livro didático, pois poderá necessitar de se posicionar como exemplo para o aluno frente às respostas do livro, aceitando, desligando-se, ou até mesmo corrigindo a resposta dada pelo chamado “livro do professor”.

Essa postura analisante deve ser conquistada pelo professor e seus formandos, como atuais e futuros orientadores do processo da leitura e produção de texto. A todos cabe a tarefa de provocar reflexões a serem discutidas, e principalmente desperta-las nos alunos e lembrá-los sobre sua própria história de leituras, colocando desafios à sua compreensão, propiciando-lhes condições para que esse desafio tenha bons resultados.

Tal procedimento metodológico pressupõe a leitura como multiplicidade de sentidos, porque todo texto é polissêmico e também concebe a leitura como leitura do mundo, da sociedade humana; leitura das diferenças, dos contrastes, contradições, conflitos e encontros que fazem a vida individual e social, simultaneamente.

Para que se chegasse a tais avanços no pensamento cientifico sobre produção de leitura, segundo Marquesi (1995), a partir da década de 60, a Lingüística é marcada por uma nova perspectiva para os seus estudos, tanto em relação a seu objeto quanto a seu método de trabalho: o texto se coloca como unidade de análise.

A expressão Lingüística Textual, no sentido atual, ocorreu pela primeira vez em 1967, em trabalho desenvolvido por Weinrich. Este trabalho influenciou estudos desenvolvidos por Conte, Marcuschi, Fávero & Koch, apud Marquesi (1995), passando-se da expressão Lingüística Textual para o conceito, registrando-se variedade de termos e objetos de estudo desencadeados a partir dela: Textologia-Harweg; Teoria do Texto-Schimidt; análise do Discurso – Harris; Hipersintaxe – Polek; Translingüística – Barthes e designações outras ou equivalentes, como a Pragmática do Texto que, em Schimidt, significa teoria de texto.

Dentre as vertentes atuais da Lingüística do texto no Brasil, hoje, Koch apud Marquesi (1995) registra as seguintes linhas: De Beaugrande/Dressler, estudo dos diversos critérios ou padrões de textualidade – semântica procedural; de Weinrich, a construção de uma macrossintaxe – partitura textual; Van Dijk, estudo das macro e superestruturas textuais – produção de resumos e da tipologia de textos; da análise do discurso, linha norte-americana – estudos dos modelos e mecanismos cognitivos envolvidos na compreensão e produção de textos; do grupo de lingüistas franceses, ordem textual e operacionalização dos construtos teóricos para o ensino das línguas; da análise da conversação; da análise do discurso-linha francesa – cunho predominantemente sócio-ideológico; do grupo de Petöfi, linha voltada para a Semiótica dos textos verbais.

Por essa razão, a noção de sentido, tão como essencial aos estudos sobre produção de leitura, varia conforme a orientação da corrente lingüística. Em Orlandi (2001) – Análise do Discurso, por exemplo, o sentido surge da interação entre interlocutores, a situação, o contexto histórico social, ideológico, ou seja as condições de produção. Esses fatores não são meros complementos, arquitetam o sentido. O sentido do texto não se aloja em um interlocutor separadamente, mas está no espaço discursivo criado por eles.

Pêcheux (1975), em relação ao sentido, diz que seu lugar é na formação discursiva:

“A formação discursiva é, enfim, o lugar da constituição do sentido e da identificação do sujeito. É nela que todo sujeito se reconhece (em sua relação consigo mesmo e com outros sujeitos) e ai está a condição do famoso consenso intersubjetivo (a evidência de que eu e tu somos sujeito) em que, ao se identificar, o sujeito adquire identidade.”

Entendendo que, em situação de produção ou recepção de texto, não só fatores de ordem textual devem ser considerados, mas que também os de ordem contextual, ou pragmáticos, devem-se acrescentar contribuições teórica da Lingüística contemporânea, definindo-a como uma Lingüística dos sentidos e processos cognitivos e não apenas da organização pura e simples dos constituintes da frase.

Tal autor incorpora, no ensino de Língua Portuguesa, os processos de constituição do fenômeno lingüístico ao seu produto. Assim, Marcuschi (2002) trata o texto como ato de comunicação nas relações humanas, afirmando que linguagem, sociedade/cultura e história constituem-se mutuamente. O sentido, nesta perspectiva, surge da interação sócio-discursiva.

Esse é um entendimento que tem como base uma concepção de língua como lugar de interação, o que equivale a dizer que o sujeito é uma unidade psicossocial, de caráter ativo e essa participação acontece quando esse sujeito produz ou reproduz o social em sua ação cotidiana, em seu engajamento com a vida. Segundo Brandão (2001:12), citando bakhtin (1979):

“...é um sujeito social, histórica e ideologicamente situado, que se constitui na interação com o outro. Eu sou na medida em que interajo com o outro. É o outro que da a medida do que sou. A identidade se constrói nessa relação dinâmica com a alteridade. O texto encena, dramatiza essa relação. Nele, o sujeito divide seu espaço com o outro porque nenhum discurso provém de um sujeito adâmico que, num gesto inaugural, emerge a cada vez que fala/escreve como fonte única do seu dizer. Segundo essa perspectiva, o conceito de subjetividade se desloca para um sujeito que se cinde porque átomo, partícula de um corpo histórico-social no qual interage com outros discursos, de que se apossa ou diante dos quais se posiciona (ou é posicionado) para construir sua fala.”

Para o ensino da Língua portuguesa, essa é uma contribuição para que alcancemos o objetivo de apoiar o surgimento do “cidadão crítico para o exercício da cidadania”, conforme tanto se declara em inúmeros planejamentos de aula, porque favorece uma reação para o “não-apagamento” do sujeito, produtor de texto e acredita na contribuição do interlocutor como agente em interação no ato comunicativo. A comunicação é, então, resultado de uma interação entre sujeitos, construtores de sentido, em determinada circunstância histórica, agentes que se comprometem, que se colocam politicamente, porque não existe o discurso neutro.

Nas teorias da Enunciação, segundo Benveniste (1989), há um sujeito-locutor que centraliza o ato de produção da linguagem. Segundo essas teorias, há marcas textuais que relacionam o sujeito e o que ele escreve e, através dele, do texto e do outro, sua relação com o mundo. Desta forma, o sujeito produz o sentido, define intencionalmente a subjetividade de seu texto, colocando a si mesmo como o “eu” e a seu interlocutor como o “tu”: jogo da intersubjetividade.

Um estudo dessa natureza sobre o processo de constituição de sentidos que envolvem o ato de ler mostra a complexidade do procedimento pedagógico de “ensinar leitura”, conforme salientado pela própria Orlandi (2001), que, ao colocar essa expressão entre aspas, deseja questionar se seria possível ensinar leitura – essa é uma questão a ser discutida, pesquisada.

Esta pesquisa quer, pois, investigar a formação do aluno de Letras, se o ensino de leitura tem, no curso, uma abordagem simplificadora, com a doação de modelos de “ensinar a ler”, antes tradicionalmente adotados na escola, ou se realmente a universidade tem procurado mostrar a ele essa fugacidade do sentido, fornecendo-lhe parâmetros para, no co-texto e/ou no contexto, chegar à sua multiplicidade, isto é, compreender o texto, sabendo que o sentido pode ser outro.

Culminando os trabalhos, estudar com o grupo os modelos estratégicos de Van Dijk, pela amplitude que seu estudo possibilita ao professor por meio das inúmeras perspectiva de pesquisa interdisciplinar que esse futuro profissional possa vir a fazer: associando texto/discurso não só ao quadro lingüístico, mas a outros domínios, como a Sociologia, Antropologia, a Psicologia, a Psicologia cognitiva, enfim, em outros domínios em que o discurso tem uma função a desempenhar.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para consecução dos objetivos anteriormente explanados, será realizado um levantamento documental nos cursos de Educação Básica do Estado de Mato Grosso e uma pesquisa de campo com a observação de procedimentos pedagógicos adotados por professores dessas instituições, portanto, será adotado um estudo de casos.

Dentre essas instituições, serão escolhidas uma instituição pública do Estado. Essa escolha orienta-se para a possibilidade de serem encontradas variáveis, serão escolhidos para participar da pesquisa docentes que não apresentem entre si diferenças relevantes nos aspectos socioculturais, regionais, de idade ou sexo, ou de repertório semântico.

COLETA DE DADOS

Serão coletados programas e ementas do curso de Letras das instituições, seus projetos pedagógicos, bem como matriz curricular dos cursos de Educação Básica, a fim de se proceder a uma avaliação qualitativa, utilizando-se o método dedutivo.

LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOS PROGRAMAS E PUBLICAÇÕES

Será analisado o projeto pedagógico, bem como as linhas teóricas sugeridas pelo conteúdo programático, pelas bibliografias adotadas e pelas publicações produzidas pelas instituições em estudo, para se verificar como o processo de sentido/ leitura /produção é por elas abordado e apresentado aos alunos e como influenciam sua formação profissional. As linhas teóricas serão combinadas, relacionadas e comparadas.

ACOMPANHAMENTO DOS DOCENTES

Com base em levantamentos estatísticos, será criada uma amostra significativa de docentes na instituição escolhida, para verificar diferenças de procedimentos pedagógicos de ensino de leitura/ produção de texto, busca de sentido e os possíveis impactos/ influências das bases teórico-metodológicas da Lingüística adquiridas por eles nos cursos das instituições a que pertencem.

ANÁLISE DE DADOS

Os dados do levantamento documental e do acompanhamento dos professores serão analisados para possibilitar a verificação das hipóteses iniciais.

Estudos sobre os modelos estratégicos dos Pensadores caudatários de Ferdinand de Saussure.

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS

Os resultados obtidos na avaliação final desta pesquisa poderão servir para ampliar nosso campo de reflexões e contribuir para a melhoria dos procedimentos pedagógicos do ensino de leitura/ produção de texto e, especificamente, da atuação das instituições de Ensino da Educação Básica do estado de Mato Grosso.

ETAPAS DA PESQUISA

  1. Levantamento bibliográfico.
  2. Crítica e seleção das referências bibliográficas.
  3. Fichamento de material bibliográfico.
  4. Elaboração dos instrumentos de coleta de dados
  5. Elaboração dos instrumentos de análise de dados.
  6. Seleção da amostra.
  7. Coleta de dados.
  8. Análise e interpretação de dados.
  9. Estudo dos modelos estratégicos.
  10. Redação do relatório de pesquisa.
  11. Montagem e formatação dos originais.

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Cleuber Cristiano de Sousa - Graduado em Letras. Especialista em Língua Portuguesa. Pós-graduando em Saúde Mental. Pós-Graduando em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Mestre em Educação. Doutorando em Ciências da Educação.


Publicado por: Cleuber Cristiano de Sousa

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