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A Inflação e o cenário político nacional

Confira aqui uma reflexão sobre a inflação no cenário nacional!

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Inflação é o aumento dos preços dos produtos. Esse aumento é regido pela lei da oferta e da procura. Se uma produção de laranja é afetada por uma seca o preço da laranja, do suco e outros derivados aumentam. Na produção rural, nas fábricas, nos supermercados, nas lanchonetes. A oferta diminui o preço aumenta. Nessa lógica o prejuízo causado pela seca é repassado adiante até chegar ao consumidor/trabalhador. E esse trabalhador não recebe um aumento salarial equivalente ao aumento dos produtos, fazendo com que seu poder de consumo diminua. E em todo processo inflacionário quem cobre os prejuízos é o trabalhador.

Na atual conjuntura é importante ressaltar que para haver inflação não necessariamente precisa haver escassez de matérias primas, ou qualquer coisa que compõem o processo produtivo. Basta os bancos, multinacionais e acionistas decidirem que necessitam aumentar suas margens de lucros. Para isso há leis que permitem tais ações. E se compararmos as articulações tributárias, tais como juros de bancos sobre empréstimos e também crediários no comércio brasileiro com outros países podemos perceber o quanto somos extorquidos. Um especialista, Ladislau Dowbor[1] afirma que:

No caso dos juros comerciais, as pessoas não se dão conta, até porque não conhecem os juros internacionais e do resto do mundo. Só para citar alguns exemplos. Houve um escândalo nos EUA porque eles estavam cobrando 16% de juros ao ano no cartão de crédito. No Brasil o índice é 238% ao ano. O juro é calculado ao ano. Apresentá-lo ao mês, como ocorre no Brasil, é uma desonestidade, porque você esconde que ele é cumulativo. A pessoa pensa “é só 3%”. Eu sou professor da PUC-SP. Ela me paga no Santander e o cheque especial aqui no Brasil é de 160% ao ano. Agora, lá na Espanha, o correntista do Santander tem o direito de entrar no cheque especial até 5 mil euros, por seis meses e com juros zero. Isso é lógico. Como as pessoas deixam ali um dinheiro não aplicado – mas que o banco aplica – se o correntista entrar um pouco no vermelho, as coisas se equilibram. Existe uma lei para isso. (fonte: http://dowbor.org/2014/05/ladislau-dowbor-o-brasil-esta-mudando-para-melhor-nao-da-para-contestar-isso-maio-2014-5p.html/ - acesso em 21/06/2014)

Tais leis servem para proteger os interesses dos bancos. Como já foi mencionado em outros capítulos, isso é possível graças ao nosso poder legislativo que atua em prol desses interesses. Muitos deputados e senadores são diretamente ligados aos donos dos bancos, em trocas de favorecimentos, financiamentos de campanhas, relações comerciais. Isso é nato ao Brasil. Nosso país nasce desses acordos. Portanto a aprovação ou eliminação de impostos e taxas de juros obedece tais interesses. Nessa perspectiva podemos tomar como exemplo a seguinte articulação citada por Dowbor, no mesmo artigo:

Eles acabaram com a CPMF que era um imposto razoável e eram os bancos que pagavam, porque eles fazem as transações financeiras, os demais pagavam pouco. Acabar com a CPMF foi uma forma de absolver os bancos dos impostos que chegava a R$ 60 bi. A SELIC chega a R$ 150 bi ao ano, é dinheiro dos nossos impostos transferido para os intermediários financeiros. Além disto, cobram juros exorbitantes, basicamente a mesma taxa ao mês que no mundo se paga ao ano. A isto temos de acrescentar os crediários comerciais, com os juros que eles obram, tipicamente de 100%. Pensem no exemplo das que têm dedicação total a nós. Tipicamente, um fogão que sai a R$ 200,00 da fábrica, eles vão pagar 40% de imposto, e vão ganhar bem mesmo vendendo à vista, cobrando por exemplo R$ 420 a vista. A prazo sai R$ 820,00. O consumidor está pagando $820,00 por um fogão que sai a R$ 200,00 da fábrica. É na venda a prazo, com juros exorbitantes, que se faz realmente o lucro. É mais uma atividade de intermediação financeira do que prestação de serviços comerciais. (fonte:  http://dowbor.org/2014/05/ladislau-dowbor-o-brasil-esta-mudando-para-melhor-nao-da-para-contestar-isso-maio-2014-5p.html/ - acesso em 21/06/2014).

E por que tudo isso ocorre aos nossos olhos e ouvidos e não percebemos? Porque nós cidadãos não entendemos nada sobre sistema financeiro. É algo que não é para ser entendido. É um mecanismo de enriquecimento e acumulação desenfreada. E pela lógica da geração de dinheiro por empréstimos, podemos perceber o quanto se deve aos bancos. Os governos, as empresas as pessoas. Todos devem aos bancos. E onde está toda essa riqueza? Na realidade ela não existe. Os bancos emprestam dinheiro virtual, eles criam a dívida a partir do nada. E a dívida garante a eles o retorno em dinheiro real. As dívidas são eternas. E para que não haja um colapso ou um entrave na circulação monetária criam-se empréstimos, para quitar outros empréstimos e seus juros. E para que se potencialize a produção de bens materiais em geral sempre haverá a dívida, pois quanto mais dinheiro existe impresso, mais é necessário se produzir para acompanhar, parcial e proporcionalmente, a riqueza virtual em riqueza real.

O que ocorreu foi uma inversão das funções econômicas ao longo da história. O dinheiro surgiu para facilitar as trocas de produtos. Quanto mais produtos mais dinheiro se produzia. Quando surgiu o capitalismo financeiro a inversão se deu na medida em que fez necessário incentivar os consumos. Os governos absolutistas que se vincularam à burguesia comercial se apropriaram do processo de produção e consumo e passaram a ganhar com ele. E para incentivar o consumo de produtos que geravam lucros para suas empresas e para o governo, motivou-se a geração de dinheiro através de empréstimos. Ou seja, quando há um empréstimo cria-se dinheiro. É aqui que nos deparamos com o problema final. A criação de dinheiro é infinita, porém o mundo não é. Os recursos naturais e humanos que produzem a riqueza real não são infinitos. Então como falar em sustentabilidade? Para tal é necessário que se transforme o significado e a função da criação de dinheiro. E para isso, o meio mais coerente é que os governos controlem esse processo atendendo os interesses sociais, pois o que temos são governos dependentes dos bancos, com governantes que levam vantagens em tal dependência. É importante lembrar que o termo “governantes” não é, necessariamente o poder executivo. É sim, com maior intensidade o poder legislativo.

Todas essas relações eram classificadas como usura. No passado, a usura era considerada um pecado, com punições que chegavam à pena de morte. Atribuía-se uma um alto grau de imoralidade àqueles que lucravam emprestando dinheiro com juros. Isso mudou com a ascensão da burguesia. Tal ascensão foi tão eficiente que articulou as diretrizes políticas através das constituições de caráter liberal e também adaptou a moralidade cristã à lógica e moral burguesa. Assim a usura, um pecado, se transformou em virtude, o empreendedorismo. Porém os efeitos disso em escala global e histórica não são nada virtuosos. São devastadores e catastróficos. Estamos caminhando para um condição em que os emprestadores logo serão os dnoso de toda a riquza que existe. Quando não houver mais condições de quitar as dividas, serão também os donos dos bens como terras, casas, carros, fontes de energia, de água. E nós viveremos para pagar dívidas sobre coisas que não são nossos. Tais como os financiamentos tão comuns atualmente. E todo esse ciclo de empréstimos é apenas parte do problema. Toda a riqueza arrecada com os juros e taxas são direcionadas para potencializar o próprio sistema, acumulando todos os meios de produção e fontes de recursos primários e energéticos nas mãos dos próprios banqueiros. É uma imoralidade em escala global. É a subjugação de bilhões de pessoas na condição de escravos, com efeitos como fome, violência e miséria à uma grande parcela desses bilhões.

Agora imagine se, hipoteticamente, os governos tomassem as rédeas dessas articulações em uma grande reforma nas políticas econômicas e passassem a utilizar a riqueza gerada pelos juros e impostos como um retorno à sociedade civil. Se limitassem as margens de lucro dos bancos e das multinacionais e garantisse uma produção equilibrada de todos os setores. Mas para isso precisaríamos antes de uma reforma eleitoral radical. Tal reforma exige uma intensa mobilização da sociedade civil que pressione o poder legislativo para tal mudança. E tal mobilização depende, por sua vez, de um elevado nível de consciência e conhecimento sobre as estruturas vigentes assim como o caráter e os efeitos das políticas econômicas que temos. Seria necessários garantirmos que deputados, senadores, vereadores, prefeitos, presidentes e governadores não tivessem vínculos com o setor privado. Sejam bancos ou empresas. Apenas com tais mudanças poderíamos ter mudanças fundamentais em nossas estruturas. E assim cogitar o início de um sistema realmente sustentável.

Quando atingirmos uma coerência ética entre a função, objetivo e ação politica todas as coisas podem se transformar para melhor. A função de um Estado e de um sistema político é servir ao povo. E não oprimi-lo. É administrar a produção de riqueza e sua distribuição. Portanto esse estado deve controlar com exclusividade a geração de dinheiro que pertence aos bancos. É necessário, como um primeiro grande passo que os governos anistiem a própria dívida. De todos os impostos que pagamos ao governo uma boa parte dele, talvez a maior, é direcionada para pagar dívidas e juros aos bancos. A consequência mais direta seria do fim das dívidas públicas aos bancos seria o direcionamento de quantias bilionárias para infraestruturas essenciais como serviços e obras públicas. Junto com isso os governantes devem articular a produção de dinheiro com a riqueza real. Com escolas, fábricas, ferrovias, rodovias, tecnologias de produção, altos salários, produtos de qualidade e sustentáveis cria-se uma base sólida de produção de riqueza, geração de dinheiro e consumo de bens. Em um ciclo renovável não acumulativo. Nesse nível de organização não haveria inflações de grande impacto, portanto não haveria ondas de desemprego, população excluída de serviços básicos. Não haveria fome.

Toda essa máquina existente é fruto da articulação econômica entre governos, empresários e banqueiros. A desconstrução ou destruição disso só se daria pela ruptura entre governos, empresas e bancos. Os donos do mundo são os banqueiros e donos de multinacionais(isso quando não são os mesmos). Eles compram os governos. Submetem-nos em dívidas e escravizam o povo. Uma ruptura iniciada pelo poder executivo não seria suficiente. Seria vista como ditadura. Os banqueiros controlam a mídia, os deputados , juízes, senadores. E a raiz de todo o mal é a ignorância. As escolas, a mídia , as universidades desconhecem, ou fecham os olhos e a boca para o funcionamento real de criação de dinheiro através de empréstimo. As revistas e periódicos de economia e ciências políticas são pagos para se calarem. E, portanto nos calarem. Ou melhor, não permitirem que aprendamos a pensar e falar sobre isso. Que possamos entender como funciona.  Promovem uma eficiente manutenção da desigualdade e escravidão voluntária. Voluntária pois acreditamos que estamos conquistando coisas quando estamos adquirindo dívidas. Ao passo que sem esse sistema predatório de taxas de juros e impostos aquilo que produzimos com nosso trabalho renderia muito mais, e assim poderíamos trabalhar menos, ficar menos doentes, nos dedicarmos mais à família, a arte, ao lazer, a espiritualidade. Poderíamos ser mais humanos e menos escravos.


[1] Ladislau Dowbor, formado em economia política pela Universidade de Lausanne, Suiça; Doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, Polônia (1976). Atualmente é professor titular no departamento de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, nas áreas de economia e administração. Continua com o trabalho de consultoria para diversas agências das Nações Unidas, governos e municípios, além de várias organizações do sistema “S” (Sebrae e outros). Atua como Conselheiro no  Instituto Polis, CENPEC, IDEC, Instituto Paulo Freire, Conselho da Cidade de São Paulo e outras instituições.


Publicado por: Alan Carvalho

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