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A gestão da didática no ensino superior - EAD

Clique e saiba mais sobre a didática na educação a distância.

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Resumo

A didática na educação a distância é assunto de muitas reflexões e discussões de pensadores. Alguns dizem que a didática nesta modalidade de ensino deve ser diferenciada, principalmente por se tratar de aulas onde a proximidade física é inexistente. Outros salientam que a didática é uma só, pois é método de ensino aprendizagem, e sendo método não se distingue.

A história da didática, bem como a educação a distância tem particularidades em especiais. A educação à distância, pode-se dizer, nasce junto com a didática e ambas tem seus avanços no decorrer da história.

Palavras-chave: didática – educação a distância - método

Durante muito tempo ensinar, educar e aprender foram processos que se mantiveram a partir de contatos muito próximos: o olho no olho, a fala e a réplica, a ação e a reação, e na Educação a Distância não se percebe estes fatores, pois os mesmos estão além da interação das telas de tevês e computadores.

Uma vez que a didática é o elemento transformador da teoria em prática, e que os alunos em EAD tem em suas rotinas de aprendizagem no contato indireto ou distanciado com seus professores, como se dá a gestão da didática em ensino a distância? Como o método de ensinar, a didática, se comporta diante da evolução dos recursos que são disponibilizados para os alunos em tempos de “farta” tecnologia?

Este artigo traz o desafio da reflexão sobre estes aspectos, uma vez que didática em seu vocábulo, deriva da expressão grega Τεχν? διδακτικ? (techné didaktiké), que se traduz por arte ou técnica de ensinar. A proposta deste artigo é trazer a Didática desde o século XII, em sua essência para o ambiente virtual da atualidade, fazendo um traçado entre o passado e o futuro e, desenhando também, os caminhos da Educação a Distância desde a sua influência nos processos de letramento do começo do século passado, até o envolvimento propriamente dito, com os cursos de graduação.

Este trabalho também objetiva analisar a Didática na modalidade de Educação a Distância no ensino superior – graduação, já que a história de didática está imbricada na história da educação tradicionalmente presencial. Porém é elementar frisar que esta mesma história, tem reservado um espaço especial, mesmo que apoucado, para a EaD

Educação A Distância – Um Pouco de História

Mesmo sendo escassa a bibliografia específica sobre a Didática na Educação Superior – modalidade EaD, é possível acoplar várias obras e apreciar as colaborações Alves (1998) falando da história da Educação a Distância pelo mundo, contando de seus avanços que começa em Platão, passando pelas cartas aos Coríntios e Efésios, aportando no século XV, na Alemanha com a invenção da imprensa e fazendo uma especial referência no ano de 1880, onde estudiosos começaram a pensar em EaD em moldes muito próximos com o que temos na atualidade.

Convém ressaltar que, ainda na abordagem deste autor, é possível verificar a difusão da EaD por toda a Europa, solidificando uma proposta de educação que serve de modelo para o mundo.

Contando a história da EaD no Brasil, Cavalcante e Abranches (2006) fazem um apanhado quanto as tecnologias da informação e comunicação, distribuída em três fases que se relacionam e complementam-se. Já Keegan (1980) fala de uma educação a distância onde não se pode perceber evidentemente a ausência.

Areti (1997) fala de uma educação a distância mais interativa, definindo aspectos dialógicos e bidirecionais, onde se percebe a mediação pedagógica. Em Alves e Nova (2003) há uma definição que reporta esta modalidade de ensino que possibilita mediações entre aprendizagem e redes de conhecimento.

A legislação que regulamenta a Educação a Distância no Brasil a LDBEN nº 9.394/96 em seu artigo 80, traz a regulamentação desta modalidade de ensino, que pode também ser apreciada neste trabalho.

A Didática – Retrospectiva Histórica na Educação Brasileira

Explana a partir de Veiga (1991) os dois momentos da didática na educação brasileira estão divididos em períodos. O primeiro compreende os anos de 1549 até 1930, intitulado de “Os primórdios da didática”. O segundo momento compreende a didática de 1930 até os tempos atuais. Porém este segundo momento é subdividido em cinco períodos, assim disposto: 1º período intitulado de Didática tradicional, correspondendo os anos de 1930 a1945; 2º período chamado de Novas Ideias da Didática, que transcorrem entre os anos de 1945 a 1960; o 3º período conhecido por Descaminhos da Didática que decorrem nos anos de chumbo, desde o golpe militar de 1964 até a abertura política; o 4º e último período que a autora faz referência abrange a Didática Atual, que é responsável pelo renascimento de uma didática que se preocupa com o aluno como sujeito autônomo, crítico e cidadão do mundo.

A Didática e a  EAD –Caminhos que se cruzam

Ainda fazendo referência a revisão de literatura, existe a proposta de teia, e esta é construída através das reflexões de Deleuze e Guattar, Michel Focault, Jürgen Habermas, Matuarana, Vygotsky apud Bernardes, Morin e Levy , e fortemente evidenciada para a Didática na docência superior, estando intimamente relacionada com um compromisso ético e humanizado de envolvimento com a aprendizagem, onde a Educação a Distância está comprometida, já que, de acordo com suas características (educação acessível para todos, por exemplo) atinge um grande número de pessoas.

Otto Peters escreve e transcreve sobre Educação a Distância, destacando seu relevante papel para a democratização do ensino. Portanto, este apanhado bibliográfico é um convite à história da Educação a Distância, no sentido de aprimorar e discutir a cerca Didática (arte de Comenius ou desing de Peters apud Flechisg, 1987- grifo meu).

A Educação a Distância faz parte do contexto da humanidade e sua utilidade já era percebida, antes mesmo, do cristianismo. Platão através de suas cartas instruía seus discípulos sobre filosofia, política e aprendizado. Ramal (2003) salienta que as Epístolas escritas aos povos de Efésios e Corintios, por exemplo, bem como aos discípulos individualmente, são formas de ensino a distância, na medida em que, tinham como objetivo informar e espalhar a doutrina cristã por todos os lugares.

Na Primeira carta aos Coríntios é possível observar claramente o ensinar/aprender entre as perguntas, respostas e relatórios daquela época. Em 1Coríntios é possível encontrar os relatórios em 1.11; 16.17; as cartas em 7.1, as respostas aos relatórios nos capítulos 1-6 (1.11 e 5.1) e outras as respostas as cartas em 7.1-16.12., sendo assim, o objetivo destes escritos eram bem definidos, ofereciam instruções e cobravam a execução das ordens.

As cartas eram entregues a uma só pessoa e esta distribuía as instruções aos integrantes da comunidade dos Coríntios, que por sua vez, transmitiam seus anseios, dúvidas e questionamentos, também por cartas.

Este ordenamento está muito bem relacionado, ao que hoje conhecemos como Educação a Distância: comunicação, além da própria linguagem oral, em tempo e local previamente estipulado.

Durante muito tempo as cartas foram os principais instrumentos em Educação a Distância e com a invenção na imprensa no século XV, na Alemanha, por Johannes Guttenberg, facilitando assim, o acesso aos textos impressos, a difusão do EaD começa tomar forma.

Em 1880 alguns estudiosos da Inglaterra tentam sem sucesso, devido a impedimentos das autoridades, estabelecerem um curso por correspondência (devidamente certificado). Estes estudiosos resolveram levar sua proposta de Educação a Distância para os Estados Unidos e em 1882, surge na Universidade de Chicago o 1º curso superior em EaD, onde todo o material era disponibilizado pelo correio. Ainda nos Estados Unidos, em 1906, segundo Alves (1998), surge a primeira escola primária nesta modalidade (Calvert Scholl (Baltimore).

Mesmo sendo os Estados Unidos o pioneiro nesta modalidade de ensino, alguns países da Europa como Inglaterra, Espanha e França são os responsáveis pela difusão do ensino a distância pelo mundo, já que os centros de educação destes países serviram de modelo para outros. Litto (2002) salienta que, no Brasil o governo controla de maneira centralizada a educação superior, enquanto que em outros países o desenvolvimento de inovação é uma necessidade, o que fez com que as estratégias de propagação do ensino avance a passos longos.

Em meados de1970, na Inglaterra a OU – Open University inicia seus cursos, totalmente à distância. A trajetória da OU é um sucesso indiscutível: em 1980 já tinha cerca de 70.000 alunos, formando em média 6.000 pessoas por ano. Esta Universidade serve como referência a muitas outras Universidades abertas no mundo, como a Open Polytechnic na Nova Zelândia, a Indira Ghandi National Open Univerity na Índia e mais recentemente a Universidade Aberta do Brasil, entre outras.

No Brasil a história da educação a distância traz suas primeiras conquistas em 1904, pois na cidade do Rio de Janeiro, atendendo a uma demanda mundial, são oferecidos cursos técnicos, sem exigência de escolarização anterior, com material impresso. Para atender as necessidades de um mercado que começa a se industrializar (operar através de máquinas), foi necessária a ampliação desta modalidade de ensino. Além das correspondências, surge em 1923, também no Rio de Janeiro, a Rádio Sociedade, idealizada por Henrique Morize e Roquete Pinto. Em 1939 nasce o Instituo Universal Brasileiro e nas décadas de 70 e 80, organizações não governamentais começam a oferecer cursos supletivos de 1º e 2º graus. Nesta época as aulas já eram via satélite e complementadas com material impresso.

Contar a história da EAD se faz pertinente para que se tenha um entendimento das Tecnologias da Informação e Comunicação voltadas para a educação e a didática. No Brasil, segundo, Cavalcante e Abranches (2006)l:

A primeira fase dos cursos de EAD é marcada pela auto-instrução, baseada exclusivamente no fornecimento de material impresso como forma de realização do curso. (...) A base da aprendizagem era a memorização de um dado conteúdo, contido no material impresso enviado ao aluno.

A segunda fase da EAD vai ser caracterizada pelos recursos audiovisuais de comunicação: são as primeiras experiências com o uso do rádio e da televisão. (...) Este era o momento do predomínio da pedagogia tecnicista, durante as décadas de 1960 e 1970, aprofundando o estigma de que a EAD era um estudo de caráter supletivo, baseado na reprodução de um dado conhecimento, com a perspectiva da formação técnica. (...)

A mudança significativa dos paradigmas da EAD ocorre na década de 1990 com a introdução do uso das tecnologias de comunicação e informação. É a fase da Internet e da Web como ferramenta de comunicação. (...)

Mesmo podendo se admitir na atualidade a EAD sem o uso de tais tecnologias, é evidente o total predomínio desta modalidade com uma profusão de ferramentas, marcando definitivamente a forma de se fazer EAD. Tal característica marca a aprendizagem pelo processo de troca de informações e não mais de memorização de conteúdos, sendo exemplo disto o crescimento das ferramentas de comunicação utilizadas em diversos ambientes virtuais de estudo (e-mail, fóruns, chat, murais).

Com tantas mudanças em seu processo evolutivo, fica o questionamento: o que definiria a Educação a Distância na atualidade e o que a diferem da “antiga” modalidade? 

Alguns autores conceituaram e definiram esta modalidade de ensino, e em 1977, Holmberg apud Nunes (1992) evidencia como Educação a Distância aquela que viabiliza inúmeras formas de estudo/aprendizagem, em diferentes níveis e que não necessitam da contínua e imediata ação de tutores presenciais (ensino por correspondência)

Keegan (1980), inspirado no que definiu Moore (1972), apresenta EaD em uma perspectiva em que pode-se perceber a distância e não a ausência. Explana  a modalidade de ensino na seguinte forma:

(...) tipo de método de instrução em que as condutas docentes acontecem à parte das discentes, de tal maneira que a comunicação entre o professor e o aluno se possa realizar mediante textos impressos, por meios eletrônicos, mecânicos ou por outras técnicas (pág.206).

Porém, Garcia Areti (1997) defini EaD com particularidades bastante interessante, é numa visão mais interativa, levando em conta o pensamento dos autores citados acima. Este fala desta modalidade com aspectos dialógicos e bidirecionais de todos os envolvidos neste processo educativo, sendo possível perceberem uma intensa mediação pedagógica, e a presença de diversos materiais didáticos e de tutoria atuante. Já que, “A educação a distância se baseia em um diálogo didático mediado entre o professor (instituição) e o estudante que, localizado em espaço diferente daquele, aprende de forma independente (cooperativa)” (Garcia Aretio, 2001, p. 41).

Segundo o autor as características essenciais do EaD são:

a) a quase permanente separação do professor e aluno no espaço e no tempo, salvaguardando-se que nesta última variável pode produzir-se também interação síncrona.

b) o estudo independente no qual o aluno controla o tempo, espaço, determinados ritmos de estudo e, em alguns casos, itinerários, atividades, tempo de avaliação, etc. Aspectos que podem complementar-se – ainda que não necessariamente – com as possibilidades de interação em encontros presenciais ou eletrônicos que fornecem oportunidades para socialização e a aprendizagem colaborativa.

c) comunicação mediada de via dupla entre professor e estudante e, em alguns casos, destes entre si através de diferentes recursos.

d) o suporte de uma instituição que planeja, projeta, produz materiais, avalia e realiza o seguimento e motivação do processo de aprendizagem através da tutoria (Garcia Aretio, 2001, p.40).

Alves e Novoa (2003) definem EaD em uma linguagem mais atual quando afirmam:

A Educação a Distância como uma das modalidades de ensino e aprendizagem, possibilitada pela mediação dos suportes tecnológicos digitais e de rede, seja esta inserida em sistemas de ensino presenciais, mistos ou completamente realizada por meio da distância física (p.3).

Por fim, o Decreto 5622/2005 (BRASIL, 2005) regula o artigo 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, LDBEN n. 9.394/96), onde dispõe sobre a oferta da educação a distância em diversos níveis e modalidades de ensino.

(...) caracteriza-se a educação à distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversas (Decreto 5.622/05, p. 01).

Sendo assim, é possível perceber os avanços que a EaD fizeram em sua história recente, e percebe-se ainda, que esta modalidade de ensino surgiu como maneira de democratizar a educação através do encurtamento de distâncias, não apenas físicas, como também sociais, culturais, religiosas, éticas, políticas, ideológicas e econômicas, em prol  de uma educação para todos.

A Didática – Retrospectiva Histórica na Educação Brasileira

Antes mesmo de conceituar a didática, ou mesmo descrever sua retrospectiva histórica, é interessante pensar sobre seu objeto de estudo: o processo ensino/aprendizagem, e suas particularidades que complementam as relações entre o ensinar e o aprender, bem como a importância da didática em sua função de trazer para o processo de aprendizagem o sentido da ação docente em harmonia com a reação discente.

Segundo Veiga (1991), a história da didática se dá em dois momentos, sendo o primeiro delimitado pelo período de 1549 a 1930, intitulado Os Primórdios da Didática; o segundo momento é o que enfoca a didática desde a década de 1930 até os tempos atuais.

Os primórdios da didática, de acordo com Veiga (1991), têm seus primeiros registros na educação jesuíta (1549 a 1759), onde a educação não tinha papel de relevância, visto que o país tinha sua economia baseada na agricultura que se caracterizava pela exportação e dependia da Europa para desenvolver suas atividades. Sendo assim, a educação era voltada para os indígenas, e que tinha como objetivos, além da catequização, a submissão e o aculturamento . A didática se destacava como agente de regras normalizadoras que tinha como objetivo seguir um código escrito. O plano de instrução era o “Ratio Studiorim” (como ensinar).

Ainda neste período é possível perceber uma ação pedagógica dogmática, em que não era admitido o pensamento crítico. O saber era detido pelo mestre, onde o ensino era enciclopédico, os métodos eram baseados na lógica seguida por todos os docentes e a disciplina era de vital necessidade.

O segundo período da didática pode ser dividido em quatro momentos (VEIGA, 1991):      

1º.  Didática tradicional – 1930 a 1945-  Este período foi caracterizado pela: Prioridade ao ensino secundário e superior; A construção do Ministério da Educação e Saúde Pública (Governo Getúlio Vargas - início da década de 1930); Uma nova visão da didática a partir do Movimento Escolanovista em 1932; A fundação da 1ª Universidade Brasileira- USP- onde a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras originou a Didática como disciplina para os cursos de formação docente, pois todo este movimento colocava o magistério como peça fundamental na proposta de reformulação e renovação do ensino; Em 1939 a didática é elevada à condição de curso e disciplina que durava um ano; A didática valoriza o aluno e não somente o professor, pois dá ênfase ao ensinar “bem”, tendo um caráter prático (técnica do ensino-aprendizagem) e o centro de interesses é o estudo dirigido, a unidade didática.

2º.  Novas idéias da didática – 1945 a 1960 – Principais acontecimentos: Reabertura política, o país renascia para a democracia marcada por uma época de grandes investimentos no desenvolvimento: Governo JK com o lema de ”desenvolver 50 anos em 5”; Processo de industrialização acelerado motivado pela proposta do governo; Período de lutas ideológicas, onde a Igreja Católica defendia os interesses  privados e os Intelectuais os interesses públicos; Didática de ensino – desenvolvida através de estágios (necessidade de preparar para o desenvolvimento acelerado); Um sistema liberal e pragmático; Característica da metodologia: como ensinar; Forte influência americana – MEC/USAID - Tecnicista

3°. Descaminhos da Didática – Pós 1964 – Os anos de chumbo influenciaram fortemente sobre a didática. Golpe militar e a alterações políticas, consequentemente, alterações na educação; Ideologia política, repressão, censura, exílios e ditadura; Educação: escolas com capital estrangeiro (escolas são vistas como empresas); Ênfase para a formação de mão-de-obra através de cursos técnicos; É promulgada a LDB 5692/71; Didática tem características tecnicista: escola/produto onde alguns pensam e outros executam; Currículos e programas são desenvolvidos por disciplinas (saber fragmentado); Alternativa tecnológica centrada na eficiência e eficácia; Desvinculação da teoria da prática; Anos 70 e 80 com fortes críticas a escola reprodutiva.

4º. Didática Atual: Reabertura política; Governo democrático; Conferência Brasileira da Educação: professores se organizam no empenho da reconquista de seus direitos e deveres, entre eles, o mais “sagrado”: lutar pela recuperação da escola pública e pela definição de uma política educacional sólida; Processo metodológico não centrado no professor, Gadotti (1983) apud Veiga (1991) “a educação se identifica com o processo de hominização. A educação é o que se pode fazer do homem de amanhã.” Formação do homem como um todo; A escola atuante em seu papel social: transformadora da sociedade; Pedagogia crítica, além dos métodos e técnicas; Didática crítica vista como fundamental na formação do professor e no processo ensino/aprendizagem; Contextualização da realidade.

As Teias da Didática na Educação a Distância

Sob a luminosidade das idéias de Deleuze e Guattari (1195) é possível, junto com outros iluminados teóricos, tramar os fios das teias da didática na Educação a Distância e verificar nesta rede as inúmeras performances.

A teoria do rizoma desperta para o lado filosófico da didática:

Um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo. A árvore é filiação, mas o rizoma é aliança, unicamente aliança. A árvore impõe o verbo "ser", mas o rizoma tem como tecido a conjunção "e... e... e..." Há nesta conjunção força suficiente para sacudir e desenraizar o verbo ser.

Entre as coisas não designa uma correlação localizável que vai de uma para outra e reciprocamente, mas uma direção perpendicular, um movimento transversal que as carrega uma e outra, riacho sem início nem fim, que rói suas duas margens e adquire velocidade no meio. (Deleuze, Guatarri, Mil Platos, v1, 36)

A didática apresentada nos cursos de graduação na modalidade à distância, possibilita a construção de novas maneiras de aprendizado, onde o aluno, sujeito autônomo, consegue perceber e sentir-se como a caule que sustenta seu aprendizado, conduzindo o que realmente é significativo para o sujeito.

Em Foucault (1978), percebe-se que os espaços de liberdade e dominação dizem respeito a uma rede de significâncias que tem como missão formar um tronco, dissociando do Eu. É nessa rede que o aluno, através da didática, percebe que a boniteza da aprendizagem está em dar formas descontínuas, ou seja, variar as maneiras de entender o mundo em seu retorno ao saber.

O que quero dizer com retorno de saber é o seguinte: é verdade que durante estes últimos anos encontramos freqüentemente, ao menos ao nível superficial, toda uma temática do tipo: não mais o saber mas a vida, não mais o conhecimento mas o real, não o livro mas a trip, etc. Parece−me que sob esta temática, através dela ou nela mesma, o que se produziu é o que se poderia chamar insurreição dos saberes dominados.

A modalidade de Educação a Distância está além dos conteúdos dominados, já que há um sólido desejo, junto com a necessidade de aprender. Ainda em Foucault (1978) é interessante salientar que,

(...),por saber dominado se deve entender outra coisa e, em certo sentido, uma coisa inteiramente diferente: uma série de saberes que tinham sido desqualificados como não competentes ou insuficientemente elaborados: saberes ingênuos, hierarquicamente inferiores, saberes abaixo do nível requerido de conhecimento ou de cientificidade. Foi o reaparecimento destes saberes que estão embaixo − saberes não qualificados, e mesmo desqualificados (...),marginal em relação ao saber médico, do delinqüente, etc., que chamarei de saber das pessoas e que não é de forma alguma um saber comum, um bom senso mas, ao contrário, um saber particular, regional, local, um saber diferencial incapaz de unanimidade e que só deve sua força à dimensão que o opõe a todos aqueles que o circundam − que realizou a crítica.

A razão ou ação comunicativa de Habermas (1988) nos reporta para uma comunicação racional e livre, sem é claro, esquecer a criticidade que precisa permear este imprescindível ato, que não deve, em hipótese alguma, ser aprisionada e tão pouco servir como meio de dominação.  A ação comunicativa necessita primar pela liberdade.

O “acoplamento estrutural” (Maturana, 2001) são transformações que acontecem entre seres vivos e meios externos. Segundo o autor, quando o aluno se posiciona como observador de seus atos, proporciona interações íntimas capazes de reconstruir as informações, transformando-as em conhecimentos. As redes de conversação são, sem dúvida alguma, fundamentais para a didática em EaD.

As propostas re-construtivas dos ambientes educacionais sugeridas pela Educação a Distância, são fios condutores nesta teia da didática. A aprendizagem socioindividual abordada por Bernardes (2003), esclarece que:

Lev Vygotsky com seus poucos trabalhos experimentais afirmou que inicialmente tudo está fora do indivíduo, posteriormente tudo passa a ser internalizado, e é através do social, da realidade de cada um que ocorre o processo de aprendizagem. O conhecimento encontra-se já pronto na sociedade e o sujeito apropria-se dele com a ajuda dos adultos que, no papel de mediador do conhecimento, poderão garantir uma melhora na educação.

A necessidade de conhecer as interfaces da educação a distância tem levado o professor, mais precisamente o que atua nesta modalidade de ensino, a pensar em estratégias inovadoras, as quais provocam o docente a assumir uma nova postura neste moderno cenário educativo. Esta nova postura tem como finalidade harmonizar a tecnologia com a Didática “tradicional”, ou seja, um jeito de vanguarda para perceber uma sociedade aprendente, onde a responsabilidade e a ética do educador devem ser imperativas.

Neste sentido, Morin (2000, p. 47) adverte:

O conhecimento não pode ser considerado uma ferramenta ready made[2]que pode ser utilizada sem que sua natureza seja examinada. Da mesma forma, o conhecimento do conhecimento deve aparecer como necessidade primeira, que serviria de preparação para enfrentar os riscos permanentes de erro e de ilusão, que não cessam de parasitar a mente humana. Trata-se de armar cada mente no combate vital rumo à lucidez.

Por fim, não se pode esquecer de Levy (1999) em inteligência coletiva, pois para o autor esta inteligência pode ter três divisões distintas que harmonicamente se completam: a técnica, a conceitual e a emocional. A técnica enfatiza a inteligência em que o aprimoramento com o concreto e o palpável é o foco da ação; a conceitual está relacionada com o abstrato, não é possível verificar a forma física, ou seja, está relacionada ao signo; a emocional é a inteligência responsável pelos sentimentos humanos, e por ser cognitiva está norteada na moral, na ética, no direito e na confiança.

A inteligência coletiva, segundo Levy, é o centro de construção de saberes, onde os aprendentes trocam idéias e cooperam simultaneamente, o que no espaço de Educação a Distância representa o dinamismo da ação Didática, onde as contribuições de alunos e professores são valorizadas, transformadas e ressignificadas.

Ressaltando a importância deste centro de construção de saberes, Levy (1998) provoca a reflexão quando argumenta,

Que diferença podemos estabelecer entre o sistema que estava estabilizado sobre as páginas dos livros e dos jornais e aquele que se inventa hoje sobre as relações digitais? Em relação às técnicas anteriores, a digitalização introduz, primeiro, uma pequena revolução copernicana: não é mais o leitor que segue as instruções da leitura e se desloca no texto, mas é, de hoje em diante, um texto móvel, caleidoscópio que apresenta suas facetas, gira, torna e retorna à vontade diante do leitor.

A Didática na Educação a Distância

Pensar a didática no ensino a distância provoca certa inquietação, visto que esta visão vai além do ensino acadêmico. Segundo Peters (2006), a didática do ensino superior deve ter como alicerce as seguintes práticas e princípios:

A tradição do ensino acadêmico; a didática do ensino superior; na didática da educação de adultos e da formação complementar, na pesquisa empírica do ensino e da aprendizagem, na educational technology (tecnologia educacional), na telecomunicação eletrônica, em resultados científicos-sociais específicos e na didática geral.

A tradição do ensino acadêmico vem respeitar os modelos específicos regionalizados como a cultura, costumes e até mesmo aspectos geográficos. Didática do ensino superior deve estar além daquelas práticas tradicionais – ensino e aprendizagens estanques, separados - a proposta é de um modelo onde haja possibilidades do movimento sincrônico do ensinar/aprender. Na didática da educação de adultos e da formação complementar, esta proposta visa respeitar os conhecimentos prévios dos alunos, não é tarefa fácil conciliar a distâncias com estilos de vida e herança cultural, por exemplo, nos momentos de EaD. Na pesquisa empírica do ensino e da aprendizagem é percebida e foi encontrada uma possibilidade de resolver problemas em torno dos processos de aprendizagem, onde a construção, interação, intervenção e avaliação poderiam ser aproveitadas pragmaticamente. Na tecnologia educacional a didática não deve ser tratada apenas como uma área de multimeios, mas como possibilidade de aproveitar as inovações, como as teleconferências para o aprofundamento do conhecimento.

Padrões inovadores têm sido formulados, quebrando paradigmas e amenizando as resistências em torno da EaD, no que diz respeito as academias tradicionais, onde o saber estava “nas mãos” dos mestres, e de uma didática controladora. Estes padrões têm sofrido inúmeras alterações, que vão desde a arte de ensinar (Comenius) até seu desing didático (Peters apud Flechisg, 1987)

Segundo Peters (2006), são cinco as características que diferenciam a Educação a Distância da Educação Presencial: é diferentes formas de ensinar/aprender, o aluno é autônomo; aproveita recursos técnicos constantemente; oferece vantagens de estruturas específicas; tem alunos com características e necessidades particulares e, a institucionalização, muitas vezes, não oferece padrões tradicionais.

Sob o prisma da didática, Peters (2006) afirma que os pontos que interligam com o ensino na sala de aula podem ser percebidos em: aprendizagem por meio da leitura em material impresso; aprendizagem através de estudos dirigidos; aprendizagem a partir de pesquisas e trabalhos individuais; aprendizagem através da comunicação; aprendizagem por meio das relações interpessoais; aprendizagem usando meios audiovisuais e auditivos.

Considerações pessoais

As transformações que ocorrem hoje em função da globalização, com a evolução das comunicações e o desenvolvimento tecnológico, onde  o fator tempo tem sido moeda barganhada com eficácia em um mercado competitivo, a educação na modalidade EaD instalasse em nossas vidas e certamente veio para ficar. Pessoas e organizações necessitam de gerenciamento e autonomia, procuram alternativas que possibilitem a construção de conhecimento.

A didática na educação a distância desencadeia dilemas quando o debate norteia nas trocas entre docentes e discentes, nas discussões tão necessárias para o verdadeiro fundamento científico e no processo didático-pedagógico.

De acordo com as leituras relacionadas é importante salientar que na educação a distância, com os recursos utilizados (teleconferências, terminais de computadores disponíveis, ambientes virtuais de aprendizagem, tutoria presencial...), fica evidente a distância física e não a ausência do professor. É possível fazer as trocas necessárias para que ocorra o processo de aprendizagem, tornando-as importante para o processo em que a didática se apresenta. Por outro lado, é necessário ser cuidadoso para que o ensino a distância não se confunda com a autoaprendizagem estruturada em um formato de solidão e sem trocas (interlocução).

Transformar informação em conhecimento faz parte do sujeito e cada um tem seu estilo próprio para tal processo, o que não significa que seja feito de forma isolada, já que, a interação tecnológica pode favorecer para que existam fatores cognitivos e afetivos, fatores estes, elementares na aprendizagem.

Na modalidade de ensino presencial, a mediação pedagógica entre a informação e o conhecimento é atribuição do professor, porém no EaD esta mediação conta com outros recursos importantes: textos, desafios, leituras complementares capazes de fazer o aluno a intuir a relação do aprendizado ao seu contexto social. Espera-se que em ambas as modalidades de ensino o  aluno aprenda a aprender.

Sendo assim, é possível concluir que nem sempre é possível relacionar as necessidades dos alunos com os recursos didáticos disponíveis e que o papel do professor, frente às atraentes tecnologias da atualidade, tem sido de busca constante pelo crescimento profissional, o que conseqüentemente, possibilita ao aluno momentos de aprendizagens mais significativos e qualitativos, para que este seja um interlocutor dinâmico e eficaz, e que perceba a importância de uma relação crítica com o mundo em que vive, seja através da educação na modalidade presencial ou à distância.

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Publicado por: Silvia Bernardes

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