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No país do faz de conta

Você sabia que não somos um povo corrupto, tampouco incompetente? Clique e confira uma reflexão!

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Uma música popular entre os jovens da década de 1980 dizia: “O fascismo é fascinante, deixa a gente ignorante e fascinada...”. Infelizmente parece tratar-se de uma verdade, os fascismos de direita, esquerda e centro devem mesmo ser fascinantes, considerando os milhões de pessoas que os seguiram no século vinte e os outros milhões que os seguem em nosso tempo. A causa principal do fascínio deve ser a licença para não pensar, o partido ou o “guia genial” determina a linha justa, as palavras de ordem e as verdades absolutas, e a massa apenas aceita sem questionamentos; é verdade que em determinados regimes como nazismo, stalinismo, maoismo, questionar significava adquirir uma passagem só de ida para algum campo de extermínio.

Mesmo sem, a princípio, estarmos sujeitos a um regime desta natureza, estamos também aprisionados intelectualmente, e temos um sentimento entre o respeito e a inveja quando vemos o Índice de Desenvolvimento Humano atingido por certos países, e também seus baixos níveis de corrupção. Nessas horas parece se manifestar o que Nelson Rodrigues chamava “complexo de vira-latas”, e nos sentimos como um povo sem competência para construir um país decente.

Não somos um povo corrupto, tampouco incompetente. Uma avaliação criteriosa demonstraria que brasileiros são, intrinsecamente, tão honestos e competentes quanto noruegueses, holandeses, suecos, e quaisquer outros povos. Uma grande diferença está na exigência social de comportamento, nenhum japonês em função pública ou privada sente-se à vontade para lançar mão de recursos a que não tem direito, e os poucos que o fazem, quando descobertos sofrem tal opróbrio que alguns se matam de pura vergonha.

Nossos corruptos, mesmo em face de provas cabais, demolidoras, incontestáveis, assumem a postura de mártires de alguma causa, perseguidos politicamente, injustiçados ou coisa que o valha; “negam todas as acusações” e declaram indignados que o processo é inválido pois a quarta vírgula do terceiro parágrafo dos autos está incorretamente colocada, alegam que não tiveram direito de defesa embora não façam outra coisa além de se defender, e que sua inocência será  comprovada, geralmente nunca é, mas a punição tarda e até falha.

Acima de tudo, dizem “confiar na justiça”, se são políticos que usaram recursos fraudulentos em campanha a afirmação padrão é que tudo está declarado ao TRE ou TSE. Quando as instituições policiais e judiciárias cumprem o seu dever de investigar, indiciar, julgar, punir, a confiança desaba; passamos a não viver mais em um “Estado Democrático de Direito”, ideal sonhado durante a ditadura militar que está sendo vilipendiado como gazua de meliantes. Operações como a que desmontou o “Mensalão” e a atual “Lava Jato” são demonizadas como antidemocráticas, em total descompasso com afirmações de pessoas que viveram os fatos, lucraram com eles e estão até devolvendo parte (pequena) do amealhado.

Esta síndrome afeta, como não poderia deixar de ser, o processo educativo como um todo. O descompromisso com a realidade, o predomínio da vontade sobre a verdade dos fatos contamina o dia-a-dia, e uma parte significativa dele é passado nas escolas.

Estudantes aprendem, pelo exemplo, que deve prevalecer o que se fala, com total descolamento da forma como se age, negando, com candura, acontecimentos a que todos assistiram ou até participaram. O virtual, na internet ou noticiários, determina uma forma de controle verbal sobre o real, um voluntarismo, como se não importassem as ações, mas sim as explicações autocomplacentes que se possa apresentar delas.

Qualidade implica também em veracidade, e enquanto predominarem as versões, em detrimento dos fatos, será complexa a melhoria do sistema educativo.

Por Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.


Publicado por: Wanda Camargo

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